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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 09 -- 06/09/2005 - 19:11 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 09


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9


Retornei envergonhadíssimo ao meu posto, de onde não deveria ter saído. Era como se eu cometera um ato grave, obsceno e pecaminoso, algo que de acordo com os preceitos religiosos aprendidos na igreja, a qual frequentava assiduamente nos últimos meses nas aulas de catecismo, era motivo mais do que suficiente para levantar a mão divina contra minha pobre alma. Aliás, era como se alguém houvesse me observado e agora estivesse a sussurrar-me na consciência: “Eu vi o que você fez. Você é um garoto mau, cheio de pecados. Precisa ser castigado”.
Não que eu nunca tivesse me masturbado antes. Já fizera isso algumas vezes; todavia, nunca havia me sentido tão culpado como dessa vez, embora a sensação de culpa fosse inevitável. Tanto que não tive coragem de observar as meninas dormirem, pois isso certamente me faria lembrar o que eu procurava esquecer.
Quando a lua atingiu mais ou menos a posição em que deveria estar para que meu turno findasse, acordei Ana Paula. Eu já não suportava mais ficar sentado naquele silêncio, lutando contra meus próprios pensamentos, os quais sentiam prazer em me atormentar, fazendo-me lembrar a todo instante justamente aquilo que eu mais lutava para esquecer. Como eu disse anteriormente, só se ouvia o som das ondas arrebentando na praia. E aquilo, aos poucos, acabou me irritando e fazendo com que minha vigília se tornasse uma tortura; pois não se podia fazer nada, a não ser vez ou outra jogar alguns gravetos na fogueira para que ela não se apagasse.
Ana Paula custou a levantar-se. Tive de chamá-la insistentemente mais de uma vez.
-- Mas já tá na minha hora? – perguntou ela, após se levantar. – Parece que não dormi nada.
-- Já. E pela posição da lua, deve ser umas duas ou três horas da manhã. Agora é só você esperar até a lua chegar naquela posição – apontei – que vai ter terminado o seu horário. Aí você chama a Luciana pra ficar no seu lugar.
-- Ta bom – respondeu ela bocejando.
-- Olha lá, hein! Não vai dormir, viu? – recomendei.
-- Pode deixar – disse ela, espreguiçando-se.
-- É melhor você ir até a água e lavar o rosto – sugeri.
Sem dizer nada, Ana Paula saiu correndo em direção ao mar.
Não esperei a sua volta. Fui até onde ela estivera deitada anteriormente e deitei no mesmo lugar. O calor da areia me fez dormir quase de imediato. Sei disso porque, ao tentar me recordar desse momento no dia seguinte, lembrei-me tão somente do instante em que apoiei a cabeça na areia e nada mais.
Quando acordei, estava começando a clarear. Luciana e Marcela conversavam na beira d’água e Ana Paula continuava a dormir no lugar ocupado anteriormente por Luciana. Pensei em despertá-la, mas resolvi deixá-la dormir um pouco mais. “Assim que o sol bater na cara dela, ela vai acordar de qualquer jeito”, pensei com prazer, como quem faz uma travessura.
Fui em direção às duas jovens.
-- E aí, meninas? Como passaram a noite?
-- Péssimo – respondeu Luciana.
-- Dormir, até que dormi bem – falou Marcela. – O pior foi tomar conta da fogueira. Vamos ter que arrumar um outro jeito de manter ela acesa por toda a noite.
-- Também acho – interveio Luciana.
Eu também era da mesma opinião. Todavia, havia coisas mais importantes que pensar numa maneira de não precisar tomar conta da fogueira. De forma que isso não seria resolvido tão cedo, a não ser que encontrássemos uma grande quantidade de madeira para abastecê-la.
-- Depois a gente vê isso. Agora só preciso tirar essa areia do corpo e comer alguma coisa. Tô morrendo de fome. Vocês não tão?
-- Eu até que não – disse Luciana. – Já comi uma banana pouco antes de vocês acordarem.
-- Ah, eu estou! – falou Marcela, abanando-se para tirar o excesso de água do corpo. – Não estou com vontade de comer banana. Não gosto muito. Queria comer outra coisa.
-- Daqui a pouco a gente busca – disse-lhe com prazer por lhe ser útil. Ao ver que ela havia saído do mar alguns minutos antes, resolvi perguntar: -- A água tá muito fria?
-- Mais ou menos. Na hora que a gente entra, está; mas logo depois, a gente não sente tanto.
Então me arrisquei.
De fato ela não mentira. Mas foi como ela disse. O corpo se adaptou à temperatura do mar e encontrei prazer naquele banho. Aproveitei para lavar o rosto e depois dar uma mijada. Assim elas não perceberiam. Aliás, isso era uma estratégia usada não só por mim como por todas as meninas.
Assim que saí, chamei a Marcela:
-- Vem comigo! Vamos apanhar algumas frutas! – peguei-lhe na mão, como uma criança que pega na mão de outra para fazê-la acompanhar, contudo sem deixar que ela percebesse que por trás desse gesto havia o meu interesse em chamar a atenção dela. -- Luciana, aproveite pra acordar a Ana Paula.
-- Eu? Mas não vou mesmo! Se eu acordar aquela chata, ela é bem capaz de brigar comigo. Se ela não acordar sozinha, quando vocês chegarem, você acorda ela – asseverou olhando-me torto, de má vontade, como quem vê algo a despertar-lhe a mais profunda antipatia.
-- Tudo bem então – falei. – Até é melhor mesmo. Já tinha me esquecido que vocês duas andaram se estranhando ontem. – comentei.
Andamos por alguns instantes, até encontrar uma trilha, a qual era cercada por arbustos cuja altura quase nos cobriam. Talvez, devido à fragilidade de nossa pele, as folhas pareciam lâminas, pois. nos cortavam com extrema facilidade. Alguns dos cortes inclusive chegou a sangrar.
-- Vamos ficar todo arranhados – falei.
-- Eu sei. Mas vamos ter que nos acostumar – disse Marcela, segundo atrás de mim, à medida que eu abria caminho entre as folhas. – Não foi isso que você disse de ontem de noite?
-- Foi sim – respondi.
-- E disse que a gente vai demorar a sair daqui. Estive pensando e você tem razão. Eles podem demorar a encontrar a gente.
-- Você também acha? – perguntei, parando e virando-me para ela.
-- Existem casos de naufrágio em que levavam dias para achar as pessoas. Se a gente estivesse onde o barco naufragou talvez seria mais fácil. Mas eles nem sabe onde foi que o barco afundou. Não sabem de nada. Como vão achar a gente? O oceano é imenso. É como procurar um grão de areia na praia. Vai levar tempo. Talvez até pensem que morremos afogados.
-- Eu também pensei isso, quando chegamos aqui. Só num quis dizer nada para não assustar vocês. Mas tenho a mesma impressão. É possível que a gente leve meses ou até anos pra sair daqui, gata. – Parei a sua frente e, com as costas da mão, fiz-lhe uma caricia no rosto. Foi o maior ato de ousadia até então.
Ela me olhou um tanto desconsertada, talvez pela surpresa. De imediato percebi que aquele gesto a afetou. Seu rosto adquiriu um tom mais vivo e avermelhado. Cheguei mesmo a tirar a mão com medo de que ela reprovasse meu gesto.
Só que não foi isso que aconteceu. Ela segurou em meu braço, puxou-o de volta e me abraçou. Meu coração disparou. Então foi minha vez de ser tomado por uma afetação incalculável. Fiquei imóvel e duro feito uma estátua. E surpreendentemente, ela aproximou seu rosto do meu e me deu um beijo nos lábios, num beijo meio desajeitado, mas que me marcou para sempre.
Foi nosso primeiro beijo. Aliás, nunca havia beijado uma garota antes (os beijos que meu primo Fabrício me dera não contavam. Éramos ambos homens e ele me forçara a beijá-lo). Mas isso não fez a menor diferença, porque as emoções que eu estava experimentando eram algo incrivelmente deleitoso. Confesso, amigo leitor, que não tenho palavras para descrevê-las.
Eu não sei no que pensei. Mas não devo ter pensado em nada, embora uma felicidade indizível envolvia-me a alma. Meu corpo reagiu imediatamente. Quando paramos de nos beijar e ficamos sem saber o que dizer um para o outro, (Marcela abaixou a cabeça envergonhada, como que arrependida por ter cedido àquele impulso) eu me dei conta de que estava excitado, tomado por um desejo cuja intensidade me era completamente desconhecida. E daquele jeito usando só uma sunga não deixaria aquilo passar-lhe despercebido, o que provocaria não só a mim mas a ela também grande embaraço. Eu tinha certeza disso.
Isso me deixou mais confuso do que o beijo em si. Durante alguns segundos pensei numa saída. Só que não encontrava nenhuma. Então pensei comigo: “Que se dane que ela veja! Ela também deve ter ficado. Pelo menos eu agora sei que ela também gosta de mim...”.


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