Com as órbitas desconexas, pulou o passo e mirou. Tombou travestido de trem. Na curvatura dos olhos atravessados do gnomo, magnífica gaivota apontava para as barbas da fantasia.
Mução recobrava ao gnomo a aposta perdida, cantochão dos ébrios espíritos derramados, acarpetados nos vãos do vestido-noite. A gaivota espelhava o Condor Azul em todo seu esplendor alquímico, rasgos de piscadelas espraiando horizontes infindos de penumbra, halos de fumaças de verdade pela franja dos cílios.
Arrancanda pela raiz, a fantasia coçava o queixo indômita, à procura dos estertores de Mução, acenando para aquela perdida cegonha de Segóvia, se tal houve, com uma cenoura. Saiu assim, desassombrada, no ritmo da pulsação do gnomo, inerte. A gaivota se embatia com as órbitas do gnomo enquanto no jazigo, a fantasia e Mução debatiam:
- O que é maior que um gnomo e menor que uma mula-sem-cabeça?
As reentrâncias de Genivalda reapareceriam ao som de Happy Mondays, o gnomo via a viragem de suas órbitas perpassada por Apolo e Dioniso dançando com Shaun Radley e uma galinha frita de Kentucky - parente da cegonha de Segóvia?
Enquanto a mula-sem-cabeça parecia o tipo ideal vencedor, Mução reverberava os ósculos da fantasia, tornando-a translúcida como o ímpeto de Bruce Lee. Sons desconexos se encaixavam no subterrâneo inconsciente, até que não havia mais o cheiro de fondue saindo das janelas.
Resolveram passar toda a noite em total despudoramento, de braços dados com uma harpa arregalada perdida pelos lado de Bom Despacho.
O gnomo? Esse, de tanto sassaricar mental, só pensava em Genivalda, sempre com a saia curta e o agarramento menor ainda. Suores noturnos levaram-no ao brotamento retilíneo dos fiascos.
O ardor da gaivota, presa nos olhos do gnomo, era como um cuscuz sendo preparado em suas sobrancelhas, era uma chuva de E s orquestrada por Paulo Francis, dançando feito o boi Carinhoso. Bate bate bate na porta do Céu, pronto, a gaivota estava livre para conhecer o pires da fantasia.