Não tem sido fácil escrever nos últimos dias. Até mesmo porque, tenho lido pouco. Tenho me sentido desgastada com a faculdade. Às vezes paro em frente o computador, fico olhando para a tela, e nada. Minhas idéias estão adormecidas, porque ultimamente minha mente tem se ocupado com minhas lembranças.
Deito-me em minha cama, fico lembrando, lembrando... O que não compreendo, é que sempre me esforço para me lembrar de coisas que me fizeram bem, porém esses fatos são obscuros para minha memória. Eu tento lembrar, mas tudo que obtenho, são pequenos flashes. Em compensação, coisas das quais tento me esquecer, tornam-se tão nítidas para mim, que posso ver como se fosse um filme, desses que passam todos os meses na tv, em canais diferentes.
Tenho a sensação de ser um perdedora quando me lembro dos fatos. Talvez eu esteja sendo um pouco severa comigo mesmo, mas é assim que enxergo a situação. Lembro de tanta coisa que gostaria de esquecer, e me esqueci de tanta coisa que gostaria de lembrar... Sinceramente estou sem saco para escrever, mas não quero ir dormir. Quero poder viver meu momento de indagação interior. Por quê?
Ligo o som. Coloco uma música leve, coisa rara de eu fazer. Ascendo um incenso , vou para a janela. A chuva cai lá fora. Adoro quando chove. Há dias, passo as noites em claro. E todas essas noites, tenho a companhia involuntária de um rato de esgoto. Pobre infeliz... Fico ali parada, olhando para o bueiro. É longe, mas sempre consigo ver aquele pequeno ponto preto se movendo pela calçada, a procura de comida. Tenho nojo desse bicho, mas senti-me mal na noite em que ele não apareceu. Contei esse fato à minha mãe outro dia. Ela me disse para me lembrar desse rato toda vez que eu achar que minha vida é um tédio interminável, uma angústia encubada. Eu entendi o que ela quis dizer, porém ela não se lembrou de um ponto chave nessa questão. Por pior que seja a vida do rato, ele não tem consciência disso. Eu tenho. E é por isso que ele nunca irá se lembrar e eu, terei de viver com isso.
O bueiro parece não suportar a pressão da água. Está transbordando e em meio àquelas pequenas ondas em cima dele, vejo um ponto preto sendo arrastado. Espero que não seja querido e sujo companheiro. Sei que amanhã ele não se lembrará. Mas eu não poderei suportar mais essa lembrança. Eu quero esquecer. Amanhã, tentarei não lembrar. Agora a chuva parou. A lágrima caiu.