Até agora, minha vida parece consistir mais no silêncio que nas palavras.
Por isso esse meu recolhimento...
Mas há uma palavra calada em meu peito, esperando o dia que deve ser dita. E quando eu a disser, encontrará eco em outros corações, e se espalhará pelos confins do mundo, e o som se fará ouvir por toda a eternidade.
E todos finalmente me conhecerão como o filho do Verbo.
O que há de mais belo em mim, é invisível.
Mas ainda me colocarei frente ao espelho, e contemplarei a transparência do meu rosto, e reproduzirei os meus traços numa arte, e revelarei o que até hoje escondi até de mim mesmo.
E todos falarão de mim, lembrados que minha mãe é a Beleza.
O que há de mais movimentado em mim, é mesmo a inércia do meu braço...
Mas ainda elevarei a minha mão, e farei um gesto e um aceno para que todos vejam. E muitos quererão imitar o meu ato, como se eu o tivesse executado para que todos o imitasse. Mas todos se lembrarão do aceno original.
E saberão em um instante o que anuncio, no complemento do que disse.
O que há de mais solidário em mim, é essa solidão...
Porque todos, um dia descobrirão quando me contemplarem, que são também sós dentro de si, e que não há ninguém que possa acompanhar os passos dos seus pensamentos, nem o navegar de suas almas.
E todos saberão quem é que fala, quando nos juntarmos em espírito, e nos olharmos em nossos silêncios, e compartilharmos da nossa solidão, e rirmos nos nossos íntimos, nos lembrando dos segredos que até agora nos deixou mudos e silentes...