São muitos os que acham que sabem escrever e vivem por aí, nos sites da vida, assassinando o idioma. Alguns até detendo certo reconhecimento. Que absurdo! Só se vêem expressões que borram o papel a cada rabisco torpe que lhes sai da mente ignara.
Aprecio todas as artes e vejo a poesia mágica, peculiar a cada uma delas, seja pintura, escultura...
Mas, a arte da escrita é incomparável, talvez, por ser a união de todas.
A palavra, soberana das frases mais nobres, busca as idéias, sacode-as, rebusca-as, reveste-as de cores e tons, rudes ou suaves, conforme o cenário que se apresente, e nos transporta a paragens tão diversas quanto os significados a que cada uma se refere.
Pouquíssimos conseguem dominar esta "fera ferina" - a língua portuguesa - sem arrancar-lhe o brilho e a solidez nata, ao menor descuido.
Por isso, caro poeta – puro de verdade -, sei que partilhas de meu pensamento e que bem me entendes nos arrulhos apaixonados por esta "mãe gentil" que desde menininha tem me intrigado e inebriado com suas múltiplas facetas.
Creio, mesmo, que a língua tem em seu âmago algum dispositivo secreto a torná-la mais atraente em cada expressão que, no uso determinado de conhecimento e técnicas, conseguimos criar.
Não me refiro à
“banalização da arte no ato de vulgarizar cada vez mais a já tão surrada literatura”,
como costuma dizer o Imortal Rub Marcelo,
onde acrescenta que,
“se isto não for crime, chega bem perto.”...
Não... Falo da arte da escrita , aquela que vai buscar na sublimação da palavra a magia do texto.
Se melhor me quiser entender, leitor amado, leia as palavras do grande Drummond:
PROCURA DA POESIA
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
Como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.