O apagão de ontem foi memorável.
Não... Não é gozação... Falo de algo que não dependia de nossa vontade. Então, o melhor é fazer o possível para viver, apesar da contrariedade que o fato nos traz. E foi o que fiz. Sem nada com que me distrair dentro de casa, e por causa do calor, fui para o jardim. De repente, uma cena poética desvendou-se diante de meus olhos... Um bailado de vaga-lumes em toda a extensão do gramado e nas árvores. Fiquei deslumbrada com a cena, em êxtase, suponho, pois quando a voz do Lu me tirou do etéreo, tateando com um copo na minha frente, eu estremeci de susto derramando o suco.
Sem dar importância ao incidente, convidei-o a sentar-se ao meu lado para assistir ao “balé estrelado”... Pelo silêncio da respiração, no escuro, notei que ele também se emocionou. Vieram, talvez, como a mim, lembranças do tempo de criança... E ficamos ali, em silêncio, recostados viajando nas paisagens oníricas a que nossa mente nos pôde levar... Divino apagão...
Acaso, já fez amor, em noite escura, numa poltrona de jardim, sendo saudado por um grupo intrometido de pirilampos? Não?! Então, não imagina o que perdeu... Mas não desanima. Espera, quem sabe, o próximo apagão.