Numa dessas caminhadas rotineiras resolvi parar e descansar no banquinho de uma praça.
O sol já fazia sentir seus raios implacáveis e a sombra era um convite a um pequeno devaneio.
Mas, bem pertinho, duas mocinhas conversavam. Uma, um pouco mais velha, dizia à outra:
"Seja você mesma e verá como as coisas mudam!"
O veemente conselho ecoou em minha cabeça, dando-me sinais imperiosos de que devia ser analisado.
"Ser eu mesma"... Nunca pensei que se pudesse ser "outra pessoa".
Está claro que a esta altura o amado leitor já deve pensar que dou mostras de alguma ignorância. Pois, quem é que não sabe que a frase diz, claramente:
"Seja autêntica, sem artifícios, natural..."
É evidente que se entende assim. E sem subterfúgios.
Só que o meu dileto cérebro levou-me a outros parâmetros, mais complicados.
Comecei a divagar se sei realmente quem SOU:
O que pareço ser?
O que gostaria de ser?
O que querem que eu seja?
É inevitável, neste momento, não recorrer a UM que se desdobrava em meio ao emaranhado de conceitos que tão bem o definiram entre os humanos.
"Que sei eu do que serei,
eu que nem sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso ser tanta coisa.
E há tantos que pensam ser a mesma coisa
que não pode haver tantos..."
Fernando Pessoa, no devaneio reflexivo de seu pensar, consegue definir com naturalidade a insegurança dos anseios que nos habitam a alma e inquietam frequentemente nosso o coração.
Na verdade somos seres incompletos que buscam, da melhor ou pior forma, pedaços soltos de um quebra-cabeças gigante que ainda não deu mostras concretas de seu funcionamento.
Ficamos por aí, à revelia de sentimentos conturbados, atropelando-nos a cada esquina da vida.
Às vezes fazemos o pior na tentativa de melhor viver. E damos com os burros n água ou com a bunda em arame farpado por não ser aquele o caminho adequado.
E quando improvisamos vem-nos sem esforço meritório as honrarias e sucesso.
Nesse momento a cabeça gira e nos perguntamos:
"Será que quando penso estar errado é que estou, deveras, certo?" Quem saberá dizer...
Creio, que, no fundo de todas as coisas só existe uma DURA realidade:
"VIVEMOS NO OCEANO DA VIDA CERCADOS POR MULTIDÕES, MAS ESTAMOS IRREMEDIAVELENTE
SOZINHOS..."