Mexer no Time Que Está Perdendo
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Oito anos, dois mandatos, uma gripe e um só fracasso. O fracasso geral. FHC, agora, começa a mudar o seu discurso. Numa estratégia política, provavelmente, para anular a fala da oposição que, em tese, deveria caminhar nesta mesma direção. Críticas ao protecionismo americano em relação, principalmente, aos seus produtos agrícolas e à indústria siderúrgica que sobretaxa, por exemplo, o lingote de aço americano, produzido a custo bem superior ao nosso; visando, apenas, garantir os empregos dos americanos.
Critica, FHC, com competência, as ações de Bush, que premiam a incompetência, em detrimento da ética e da lógica de mercado. Mas, desde que começou o governo, FHC só tem ajudado a banqueiros, à especulação financeira e ao FMI. Os resultados estão aí para serem vistos e relatados. O desmonte das forças armadas e do serviço público civil. O sucateamento da indústria nacional. Aumento da carga tributária. Do desemprego. Falta de investimentos em setores básicos, como aqueles inseridos nas áreas de saúde, educação e segurança, para ficar apenas nos mais badalados. Fastio político para produzir as reformas que não foram feitas, apesar da imensa maioria que teve, durante muito tempo, no Congresso Nacional.
Diz o ditado que em time que está ganhando não se mexe. É verdade. Mas aqui no Brasil tudo é diferente. O Governo começou a perder o jogo logo no primeiro ano de seu mandato. E o time adversário, o FMI, entrou em campo com todas as vantagens. Fez o primeiro gol e, a partir daí, só deu FMI. Mandou e desmandou em campo. Fez várias faltas, que não foram marcadas. Jogou pesado e o nosso juiz ficou calado. Gol de impedimento e de pênalti duvidosos não faltaram. Dez a zero no Brasil. Isto mesmo, dez a zero. E tudo porque falta pouco para terminar a partida. Mas o jogo ainda está sob controle do time visitante. Ainda pode sair mais gols. A torcida já grita olé.
E a nossa dívida, que já está dez vezes maior, ainda pode aumentar. O domínio é absoluto. O perigo volta a rondar a área brasileira. Fala-se em mais um empréstimo. O novo técnico, se tudo der certo, poderá modificar a estratégia e virar o jogo. Mas está difícil.
Os cartolas estão fazendo de tudo para que as regras do jogo não se modifiquem. E que o time permaneça o mesmo. Basta votar no técnico apoiado pelo atual governo. E seus adeptos já começaram a campanha para elegê-lo. Enquanto isso, os candidatos verdadeiramente oposicionistas, estão sendo jogados uns contra os outros. Estão sendo expostas as suas fraquezas. Dossiês e calúnias pipocam todo o dia na imprensa. E a torcida parece que ainda não entendeu a jogada do governo. Desse jeito, não teremos novidades no campeonato. E o time permanecerá o mesmo. Ou, quando menos, com a mesma tática e a mesma estratégia.
Continuaremos a perder o jogo. Ninguém será expulso de campo. E o campeonato continuará sem graça. Para nós torcedores do Brasil. Pois, para o time visitante, a situação está muito boa. Toda a arrecadação ser-lhe-á entregue. Não sobrará nada para o time da casa. Já não temos mais dinheiro nem para renovar o uniforme dos jogadores. E parte da mídia está contra nós. Fala do nosso time como se os jogadores, incluindo a comissão técnica, não tivessem culpa. Seja pelo excesso de erros de passe. Seja pela falta de garra. E também, pela ausência de criatividade e pelo receio de dividir a bola nos lances. Mais perigosos. A imprensa, vez por outra, aponta a violência, a sabotagem e o jogo desleal como sendo culpa do time de fora. Mas quase nada enfatiza acerca de nossas próprias falhas. Querem resguardar, tudo indica, o técnico da partida. Não se sabe com que interesse. E o pior de tudo: não pretendem fazer alterações no time que vem perdendo há oito anos. O mesmo tempo em que a torcida pede mudanças. Parece que todos os técnicos brasileiros são teimosos. Ou comprometidos.