Primeiro, temos que definir de qual religião é o Deus que existe. Vamos, por motivos práticos, aceitar que seja o deus cristão; a análise é análoga a qualquer outro deus.
Deus jamais permitiria que outras religiões ou ateus existissem; caso aparecessem, zás! Raios em seus seguidores! (bebês ateus já seriam queimados ao nascer ou suas mães sofreriam aborto natural antes) Assim, haveria só cristões no mundo - sonho de muito cristão por aí.
Mas Deus não contava que, mesmo com o fim de dissidentes, seus fiéis passariam a utilizar seu nome em má fé. Vendiam indulgências e caçavam mulheres como bruxas para ficar com suas posses. Zás!!! Fulminaria a todos os gananciosos. Mas uma vez, a paz reinaria; mas não por muito tempo. Logo uma hierarquia de poder eclesiástico se formaria e ficaria forte, já que os detratores de Deus eram fulminados instantaneamente com um raio na lata. O poder existe para isso: corromper. Logo alguns abusos de poder começariam a ser cometidos, e lá vai Deus desintegrar essa corja. Deus, em sua grande onisciência, percebe a natureza corrupta do homem e diz para seus súditos das Alturas:
- Aquele que ousares usar de meu nome para ganho de poder sobre os homens levará um raio!!
A instituição da igreja, então, acaba. Mas não era só isso que Deus estava ocupado; onipresente que é, acabara com o pecado na Terra eliminando todos os pecadores com um raio instantâneo no momento após o ato consumado. Todos que tentassem dar uma transada antes de casar, comer sem ter fome, transar no casamento sem o intuito de ter um filho, falasse seu nome em vão, cobiçasse a mulher do outro mesmo em pensamento – lembrem-se, Deus é onisciente – sei lá, todos que tivessem orgulho de um trabalho recém acabado bem feito ou qualquer pecado por menor que fosse eram erradicados da face da Terra por Ele. O resto que sobrou, não muito, vivendo na anarquia – pois a opulência tinha matado todo e qualquer rei – e, ao mesmo tempo, num rígido sistema moral de punição divina e imediata, começou a enlouquecer e largar tudo para correr para as matas, florestas, tentando esquecer do caráter racional humano e viver como animais quaisquer. Vivendo como animais, havia um instinto de que Deus os perdoaria, como perdoa a qualquer outro animal que exista, do sexo livre, pensamentos mundanos e bestiais. Mas Deus não perdoou. Homens são mais que animais, são seres semidivinos por própria culpa por ter comido aquela fruta do poder; quase que viram deuses se comessem a outra, e aí Deus teria problemas. Têm de sofrer um pouco mais como seres semidivinos e aceitarem o fardo da pureza não bestial. Deus não perdoa, arrasa todos os não merecedores de seus cuidados.
Sobra apenas um, não corrompido pelos prazeres carnais, mundanos, bestiais; um ser imaculado que gostava, mais do que tudo, de conversar com as pessoas. Mas todas as pessoas estavam mortas, e ele começou a enlouquecer. Foi ter com o Divino.
- Senhor, tu que és o mais amado dos amados, o mais piedoso dos piedosos; que é o mais lindo de todos, mais onisciente e onipresente de todos! Eu suplico: me faz alguém para ter com quem conversar.
- Tudo que precisas, filho, tens aqui comigo. Não precisas mais nada do que lhe dei ou do que lhe tirei.
Juntando coragem para falar, continuou falando ao Divino:
-Senhor, não queria eu ser insolente e impetulante, mas... mas eu... eu... não sei. Senhor, por favor eu preciso de alguém para conversar.
- Já te disse que tudo tens, pois tudo que eu fiz, faço e farei é perfeito. Perfeito a tudo.
O tempo passou e o único homem que sobrou na Terra voltou a falar com Deus, um pouco alterado: sua expressão facial, sua voz, sua postura. Cabisbaixo, pede para falar com Deus.
- Antes de me dirigir a palavra, ajeita tua postura. Que expressão triste é essa? Por acaso, ousas não gostar do que tens?
- Se... senhor. Eu.. eu não agüento mais. Só queria uma pessoa para conversar.
- Tens a mim para conversar, ousa não achar o suficiente??
- Por favor, senhor. Sim, tu és tudo entre tudo. Mas... o Senhor nem sempre pode conversar comigo.
- E tens a ousadia de achar um ínfimo tempo meu com que converso contigo insuficiente?
A pessoa restante não agüentou, xingou Deus de tudo que foi nome enquanto teve tempo antes de ser executado e varrido da Terra por um raio divino.
Deus, vendo o vazio na Terra, pensou: Tédio! Brincarei de novo de criação.