Publicado no jornal O POVO, dia 5 de abril de 2006.
Sempre houve certo temor popular ante a figura dos juízes, tradicionalmente vistos apenas como alguém que tem o poder de coagir, ao invés de justo solucionador de conflitos. Este mito remonta desde tempos antigos, quando o julgador era tido como divindade e poucos podiam entender as complicadas e não divulgadas leis.
Ainda hoje, não é necessário procurar periodicamente a justiça para se deparar com a dificuldade de acesso, basta ter - ou conhecer alguém que tenha - sido parte em algum processo. Muitas vezes, quem deseja falar com um juiz ou desembargador pode ter que esperar horas, passando por vários servidores de secretaria. Esta rotina, aliada à morosidade e aos custos, dificulta a solução das demandas, além de afastar a parte e desacreditar todo o sistema processual. É certo que ainda é deficiente o aparelhamento da justiça, carente de recursos materiais e humanos, porém não se pode chegar ao ponto de não satisfazer a necessidade de quem usa seus serviços.
A postura da magistratura e de todos os servidores do Judiciário deve estar voltada à justiça e à satisfação das partes, razões de ser do aparato processual. O trabalho destes profissionais deve realizar os preceitos da Constituição e das leis, de modo a promover o bem-estar e a inclusão social.
A sociedade brasileira precisa de julgadores dotados não só de conhecimento técnico, mas de consciência social. Imprescindível afastar o ascetismo das nossas cortes, a fim de dar espaço à justiça concreta. A nova geração deve estar sintonizada com a concepção contemporânea da magistratura, de modo a limitar a visão do julgador-divindade aos livros de história.