São deveras os cidadãos idosos, saibam ou não escrever, aqueles que mais conhecem as pessoas que entretanto se vão implantando ao seu redor, no sítio onde fizeram a sua vida e também tencionam viver os seus derradeiros dias. São sem equívoco autênticos mestres da vida que, nos seus derradeiros pontos finais, sentem espontânea propensão para facilitar uma existência harmoniosamente ordenada aos mais novos.
É óbvio que as populações em geral reconhecem e respeitam os idosos cujo valor humano e intelectual lhes poderia prestar séria e entusiasmadamente excelente serviço social. Todavia, por imbecilidade, consideram-os ultrapassados, acabados e sem serventia pública. Logo a seguir, pra lhes catarem os tostões mínimos dizem-lhes que "velhos são os trapos".
Ora pois, em cada localidade, deveriam ser eleitos cidadãos reformados, constituindo com eles uma abrangente rede de "colégios de sábios" que, independentemente de credos religiosos e opções políticas, conduziriam os registos de baptismo, compromissos cívicos, casamento e funerais, encarregando-se também do cadastro social e emissão de pareceres e recomendações públicas, aconselhando as autoridades respectivas no que concernisse a auxílios sociais e outros problemas da vida corrente.
O que se obteria pois com uma organização destas?... Menos ladrões, menos prostitutas, menos chulos, menos funcionários públicos corruptos e, em suma, menos tudo de mau. Enfim, lograr-se-ia um tecido social muito mais honrado, digno, saudável e benquisto.
Todavia, uma ideia destas, de forma alguma interessa e conviria àqueles que "já nascem ensinados", ambiciosos sem escrúpulos, maraus espertalhões que se não fartam de fazer asneiras.
- O que é que tu queres Zéquinha?...
- Quero que o senhor me passe o documento para eu ir buscar remédios para a minha avó que está muito doente.
- Ah... Tu és neto da tia Emilinha, pois és?
- Sou sim, senhor...
Está tudo explicado ou é preciso explicar mais?!...
António Torre da Guia |