O STF fez o que a Câmara dos Deputados não teve coragem e vontade de fazer até agora: afastar Eduardo Cunha da presidência e da própria Câmara. Não é novidade para ninguém que ele havia transformado a casa que ele presidia desde fevereiro de 2015 num feudo, onde ela manda e desmanda de acordo com os seus interesses. E isso ficou bem claro nas justificativas apresentadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zawask para pedir o seu afastamento. O que me surpreende, embora nem tanto, é o fato de que essa decisão só saiu agora, seis meses depois de o Procurador da República pedir ao STF o seu afastamento. Contudo, a explicação mais plausível para essa demora é a de que se tivesse sido tomada antes teria influenciado o processo de impeachment contra Dilma e dado a impressão de que o Supremo estava tentando interferir no impeachment a favor da presidenta, já que o afastamento de Cunha antes da decisão na Câmara teria evitado a continuidade do processo contra ela. A decisão tomada pelo ministro, e depois corroborada por todos os seus pares no STF, foi acertadíssima. E para justificá-la é enumerado uma série de irregularidades praticada pelo ex-presidente da Câmara, tais como: o uso da presidência para inviabilizar e atrasar o processo de cassação do seu mandato no Conselho de Ética, ameaças e coação de colegas e testemunhas, atos de vingança, obstrução da justiça, entre outros. Sem contar os processos que já responde no STF. Aliás, não é segredo para ninguém que ele mantém uma tropa de choque atuando nos bastidores não só para cuidar de seus interesses escusos como também obter quórum nos projetos que beneficiam empresas e pessoas em troca de propinas. A lista de acusações contra Cunha é tão extensa que nos cabe perguntar como um bandido como ele chegou à presidência da Câmara dos Deputados e como ele pode se manter ali por tanto tempo? Afinal, foram mais de um ano no cargo. Parece inacreditável, mas é verdade. Se não bastasse o mar de lama no qual o Brasil está mergulhado, o nosso Parlamento é presidido por um dos maiores bandidos desse país. Quando eu penso que chegamos ao fundo do poço, descubro que este fundo é mais embaixo. A saída de Cunha é mais um passo na moralização política desse país que nos envergonha tanto, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Até porque, quem o substituiu também é motivo de vergonha tanto quanto ele. Com a morosidade da justiça e a má vontade do Congresso em caçar o mandato de seus membros envolvidos em corrupção, talvez tenhamos de esperar até 2018 para ter alguma esperança de mudança. Digo esperança porque não há nenhuma garantia de mudanças. Pois, assim como o afastamento de Dilma não vai resolver os problemas do país, o afastamento de Cunha da Câmara pelo STF não por fim à máfia que há no congresso. O líder da facção deixa o comando, mas a facção continuará a atuar como nunca. Infelizmente.
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