Que o a violência no Rio de Janeiro está totalmente fora de controle não há dúvida. Da mesma forma ninguém vai negar que alguma coisa precisava ser feita; aliás, há muito tempo. Quanto a isso não há o que discutir. Se não se agisse, o Rio se tornaria um estado fora da lei, onde a polução estaria completamente refém do crime organizado, o qual parece mais organizado que as próprias instituições cariocas. O problema é como a coisa está sendo feita. É isso que precisa ser discutido. Quanto a intervenção em si, a primeira desde a Constituição de 1988, não há muito o que dizer. Ao que tudo indica, está tudo dentro da lei e não há o menor risco à democracia, como alguns chegaram a dizer. Não vejo a menor possibilidade de se usar essa intervenção para algum tipo de ataque às instituições. O Brasil de hoje não é o de 1964 e nem mesmo o mundo é o mesmo. Não há mais espaço para golpes e supressão dos direitos individuais nas grandes democracias. Aliás, discutir isso me parece uma grande bobagem. O problema é outro: o momento e a forma como o Governo Federal vem tratando a coisa. Isso poderia ter feito antes (pelo menos há um ano), mas deixou-se para fazer num ano eleitoral, quando as candidaturas começam a se definir. Pode até não ser, mas tem-se a sensação de que se trata de uma jogada eleitoreira, com a finalidade de melhor a popularidade (a qual é muito baixa) do presidente Temer. Talvez não para viabilizá-lo como candidato, mas um aliado; pois não há dúvida de que esse ato, principalmente de ser bons resultados, vai impulsionar a popularidade do nosso presidente. Apesar disso, não acho que esse ainda seja o maior problema. Há outro que eu considero ainda mais grave: a forma como a intervenção está sendo feita. E por quê? Porque não foi algo planejado de antemão, onde todas as consequências foram avaliadas. De todas as más avaliações (não vou avaliar o mérito do uso de armas pesadas pelas Forças Armadas nos confrontos, os quais serão inevitáveis, e o perigo para a população civil) a que mais me preocupa é o provável enfraquecimento do Comando Vermelho e as consequências disso em todo o país. O Rio de Janeiro é dominado pelo Comando Vermelho assim como São Paulo é pelo PCC. Estas são duas facções que vivem em violento confronto nos demais estados da federação. Hoje isso está mais claro no Nordeste, onde rebeliões e massacre ocorrem quase todos os dias naquela região. O enfraquecimento do Comando Vermelho no Rio (ninguém imagina que ele possa ser extinto) dará força ao PCC, dando-lhe mais poder, o que provavelmente o levará a intensificar a guerra contra os rivais, provocando mais mortes. A violência no Rio vai diminuir mais cedo ou mais tarde, dependendo de como o combate ao crime organizado seja feito, contudo, aumentará nos demais estados. Embora o PCC dificilmente cometerá o erro do CV em São Paulo, isso não vale para o resto do país. Infelizmente, não se pensou nisso e menos ainda se traçou algum tipo de plano para evitar o fortalecimento da facção paulista. Portanto, a intervenção no Rio de Janeiro pode ser boa para os cariocas, mas será danosa para os cidadãos das demais regiões. Infelizmente continuaremos mais refém do que nunca do crime organizado.