«Sim» ao aborto é sinal de uma acentuada mutação cultural, diz episcopado português
Conferência Episcopal Portuguesa lança nota pastoral após referendo do aborto
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LISBOA, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007 (ZENIT.org).- A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirma que o «sim» ao aborto dado no referendo de domingo passado no país «é sinal de uma acentuada mutação cultural».
Os bispos do organismo episcopal reuniram-se em Assembléia extraordinária em Fátima, essa quinta-feira, com motivo do resultado do referendo. Após o encontro difundiram uma nota pastoral.
Segundo a CEP, no contexto do referendo, «manifestou-se uma cultura que não está impregnada de valores éticos fundamentais, que deveriam inspirar o sentido das leis, como é o do caráter inviolável da vida humana, aliás consagrado na nossa Constituição».
Esta mutação cultural tem várias causas, referem os bispos, entre elas «a mediatização globalizada das maneiras de pensar e das correntes de opinião; as lacunas na formação da inteligência, que o sistema educativo não prepara para se interrogar sobre o sentido da vida e as questões primordiais do ser humano».
Citam ainda «o individualismo no uso da liberdade e na busca da verdade, que influencia o conceito e o exercício da consciência pessoal; a relativização dos valores e princípios que afetam a vida das pessoas e da sociedade».
Segundo a Conferência Episcopal, «a nossa missão pastoral, por todos os meios ao nosso alcance, tem de visar este fenómeno da mutação cultural, pois só assim ajudaremos a que os grandes valores éticos continuem presentes na compreensão e no exercício da liberdade».
Os bispos afirmam que os objetivos pastorais a partir de agora são os mesmo de sempre: ajudar as pessoas, esclarecer as consciências, criar condições para evitar o recurso ao aborto, legal ou clandestino.
«A mudança de mentalidade interpela a nossa missão evangelizadora, de modo particular a evangelização dos jovens, das famílias e dos novos dinamismos sociais. Toda a missão da Igreja tem de ser, cada vez mais, pensada para um novo contexto da sociedade. São necessárias criatividade e ousadia, na fidelidade à missão da Igreja e às verdades evangélicas que a norteiam.»
Os bispos enfatizam como missão evangelizadora o esclarecimento das consciências.
«Esta verdade iluminadora das consciências provém de um sadio exercício da razão, no quadro da cultura; é-nos revelada por Deus, que vem ao encontro do ser humano;
é património de uma comunidade, cuja tradição viva é fonte de verdade, enquadrando a dimensão individual da liberdade e da busca da verdade.»
Para os católicos, a verdade revelada, transmitida pela Igreja no quadro de uma tradição viva, é elemento fundamental no esclarecimento das consciências, afirmam.
Os bispos recordam ainda que o fato de o aborto passar a ser legal não o torna moralmente legítimo. «Todo o aborto continua a ser um pecado grave, por não cumprimento do mandamento do Senhor, “não matarás”.»
Às mulheres grávidas que se sintam tentadas a recorrer ao aborto, aos pais dos seus filhos, o organismo episcopal pede que não se precipitem.
«A decisão de abortar é, na maior parte dos casos, tomada em grande solidão e sofrimento. Um filho que, no início, aparece como um problema, revela-se, tantas vezes, como a solução das suas vidas.»
«Tantas mulheres que abortaram sentem, mais tarde, que se pudessem voltar atrás teriam evitado o ato errado. Abram-se com alguém, reflitam, em diálogo, na gravidade da sua decisão», pedem os prelados.
«A luta pela vida, pela dignificação de toda a vida humana, é uma das mais nobres tarefas civilizacionais. Não será o novo contexto legal que nos enfraquecerá no prosseguimento desta luta. A Igreja continuará fiel à sua missão de anúncio do Evangelho da vida em plenitude e de denúncia dos atentados contra a vida», encerra a nota da CEP.
Obs.: Não é só uma "acentuada mutação cultural". É, antes de tudo, uma mutilação cultural, em que o respeito à vida do ser mais frágil e inocente é levado em conta, em que um ser humano é trucidado pelas agulhas dos médicos e jogado na lata de lixo hospitalar. É o fim da ética e da civilização. Não existe diferença entre matar um feto, uma criança ou um adulto. Trata-se de assassinato e ponto final. Autêntica pena de morte (Félix Maier).