Para que te servem os teus irmãos?!...
Para semearem, colherem e fazerem o pão que comes?
Para verterem suores frios e gotas de sangue
sobre as pedras da casa que te constróiem?
Servem-te? E para que serves tu?!...
Tu pagas-lhes o justo valor do esforço...
Pagas-lhes com quê?...
Vá, diz-me, conta-me o teu segredo.
Ah... Tu, sim, tu...
Tu és o cérebro mais inteligente, mais sapiente,
és o poderoso deus endeusado em "nome-de",
sempre-sempre, invariavelmente em "nome-de"
e queres tu paz, harmonia e obediência leal,
tal e qual o fiel amigo que te lambe as mãos
em troca de uns goles de água e alguns ossos...
Ah... Tu, sim, tu...
Tu não és por dentro igual a todos os outros,
tu advens de uma casta excepcional,
os teus progenitores eram conceituados mestres
e legaram-te o sublime direito do trono,
do mando operante que consegue o milagre físico
de todos e de tudo fazer mover.
Vá... Sorri... Não dês crédito à imagem,
pois tão cedo a definitiva viagem será contigo,
"este-esse-aquele-algo" definitivo
que não te diz o mínimo respeito.
Aceita o meu sindero e antecipado adeus...
Tu sabes o que quer dizer adeus ou não?
Estás habituado ao adeus com regresso?
Pois fica tranquílo que tu, também excepcionalmente,
tens infalível direito ao regresso
mas só quando o adeus quiser
e que tu jamais verás sequer acenar!...
Pareço-te pleno de ódio, em rancor extremo,
sedento de vingança e aspergindo crueldade,
pois pareço? Pareço?
Pareça o que te pareça,
tem a certeza que sou apenas o mensageiro
do teu próprio silêncio,
do tácito silêncio onde te acoitas
enquanto te proclamas irmão do teu irmão!...
Ah... Cambada de aldrabões,
ímpios e incestuosos,
vis coiotes, vis ladrões,
com Deus escroques danosos...