A Cristo Crucificado
(texto atribuído a Santa Teresa)
Não me move, meu Deus, para querer-te
O céu que me hás um dia prometido:
E nem me move o inferno tão temido
Para deixar por isso de ofender-te.
Tu me moves, Senhor, move-me o ver-te
Cravado nessa cruz e escarnecido.
Move-me no teu corpo tão ferido
Ver o suor de agonia que ele verte.
Moves-me ao teu amor de tal maneira,
Que a não haver o céu, ainda te amara
E a não haver o inferno te temera.
Nada me tens que dar porque te queira;
Que se o que ouso esperar não esperara,
O mesmo que te quero te quisera.
Santa Teresa de Ávila
Freira carmelita espanhola nascida em Ávila, Castela, famosa reformadora da ordem dos Carmelitas. De família nobre, órfã de mãe (1529), entrou no convento das Carmelitas da Encarnação de Castela (1535). No convento adoeceu gravemente (1537) e permaneceu inválida por três anos, período em que aprendeu a orar mentalmente. Recuperada, viveu cerca de mais 15 anos em crise espiritual, até ter uma visão do Cristo crucificado. A partir de então, trabalhou sem descanso pela reforma da ordem, fundou mosteiros e escreveu uma obra literária que talvez seja a mais importante da Espanha quinhentista. Considerando o retorno da ordem do Carmelo à primitiva pureza e austeridade, suas idéias enfrentaram hostilidade por parte de personalidades da igreja. Apesar de tudo, obteve autorização de Pio IV e fundou o convento de São José em Ávila (1562). Essa obra gerou reação negativa por parte de personagens públicos e religiosos, porém ela insistiu de modo incondicional tanto na pobreza como nos donativos públicos para a subsistência da casa. Cinco anos depois, o convento foi inspecionado pelo prior-geral da ordem, João Batista Rossi, que não só aprovou a obra como insistiu para que ampliasse o movimento. Ajudada pelo padre carmelita Juan de Yepes, mais tarde são João da Cruz, estendeu a reforma também aos padres. Anos depois (1575), uma grande disputa dividiu os carmelitas em duas facções: os descalços, partidários da regra primitiva, e os calçados ou da regra mitigada. Com a vitória dos caçados ela foi recolhida a um convento em Castela e João foi preso, em Toledo (1577). Por empenho do rei Filipe II da Espanha, ela recobrou a liberdade de ação e pôde continuar sua obra e, por decisão de Gregório XIII, os descalços ganharam o direito de constituir uma ordem independente (1580). Ao longo da vida, fundou 16 conventos e 14 mosteiros. Auto-intitulada Teresa de Jesus começou a escrever (1562), influenciada por santo Agostinho e por sãoPedro de Alcântara, e tornou-se uma das maiores escritoras em língua castelhana.
CARLOS CUNHA : produções visuais
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