Papa chega ao Brasil como missionário de Cristo na América Latina
Espera que a América Latina redescubra seus valores cristãos
SÃO PAULO, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Ao aterrissar nesta quarta-feira no Brasil, em uma visita que tem por objetivo inaugurar a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Bento XVI assegurou que esta reunião eclesial dará «novo vigor e impulso missionário a este continente».
Após receber as boas-vindas do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em um dos hangares do aeroporto de São Paulo - Guarulhos, manifestou antes de tudo seu carinho por este país com o maior número de católicos, «motivo de alegria e esperança para toda a Igreja».
A Igreja Católica, declarou o Papa ao explicar os motivos que o levaram a empreender sua sexta viagem pastoral internacional, a primeira fora da Europa, «está chamada a ser no mundo, testemunha do amor do Pai, que quer fazer da humanidade, em seu Filho, uma só família».
«Daí seu profundo compromisso com a missão evangelizadora, ao serviço da causa da paz e da justiça», afirmou, fazendo referência a um dos temas centrais desta visita que culminará em 13 de maio em Aparecida, a 160 quilômetros de São Paulo, quando inaugurar a Conferência do Episcopado.
«A decisão, portanto, de realizar uma Conferência essencialmente missionária, reflete a preocupação do episcopado, e não menos minha, de buscar caminhos adequados para que, em Jesus Cristo, ‘nossos povos tenham vida’, como reza o tema da Conferência», assegurou em uma tarde fria, com 10 graus, na qual não faltou uma chuva fina.
O bispo de Roma espera que este evento reforce a identidade da América Latina, onde vive quase a metade dos católicos do planeta, «ao promover o respeito pela vida, desde sua concepção até sua declinação natural, como exigência própria da natureza humana; fará também da promoção da pessoa humana o eixo da solidariedade, especialmente com os pobres e desamparados».
Neste sentido, anunciou que a Igreja «não deixará de insistir no empenho que deverá ser dado para assegurar o fortalecimento da família -- como célula mãe da sociedade; da juventude -- cuja formação constitui um fator decisivo para o futuro de uma Nação; e, finalmente, mas não por último, defendendo e promovendo os valores subjacentes em todos os segmentos da sociedade, especialmente dos povos indígenas».
Por sua parte, no discurso de boas-vindas, o presidente Lula destacou a colaboração da Igreja na luta contra a fome e a pobreza, e sublinhou a necessidade de defender a família e promover a educação dos jovens.
Terminada a cerimônia, o Papa se transladou de helicóptero para o «Campo de Marte» em São Paulo. A seguir, no meio de ruas repletas de pessoas que se defendiam da chuva com guarda-chuvas, o «papamóvel» branco percorreu aproximadamente cinco quilômetros até o Mosteiro de São Bento, sua residência durante sua estadia na cidade.
Nesta quinta-feira, Bento XVI terá uma intensa agenda, que começará com a visita de cortesia ao presidente Lula, continuará, entre outros eventos, com um encontro com representantes de outras confissões cristãs e outras religiões, e culminará com um encontro com os jovens no estádio municipal do Pacaembu, em São Paulo.
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Multidão saúda Papa em São Paulo
Tarde fria e chuvosa não espantou os fiéis
SÃO PAULO, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- A tarde fria e a chuva fina não espantaram os milhares de fiéis que se aglomeraram pelas ruas de São Paulo no fim de tarde desta quarta-feira para saudar Bento XVI.
O pontífice aterrissou às 16h02 (horário de Brasília) no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Recebido pelo presidente Lula da Silva, discursou afirmando que «o Brasil ocupa um lugar muito especial no coração do Papa».
Junto ao Papa se viam o cardeal primaz do Brasil, Geraldo Majella Agnelo; o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer; o núncio apostólico no Brasil, Lorenzo Baldisseri; o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Geraldo Lyrio Rocha, entre outras autoridades eclesiásticas e civis.
Bento XVI, em seu discurso de chegada, assinalou a importância da Conferência de Aparecida e fez um chamado em defesa da vida «desde a sua concepção até o seu natural declínio». Já Lula destacou a importância da luta contra a pobreza e o trabalho a favor da educação.
Após a cerimônia de boas-vindas, que durou 50 minutos, o Papa e as demais autoridades seguiram em sete helicópteros para o Aeroporto Campo de Marte, já dentro da cidade de São Paulo.
O mau tempo quase impediu que eles fossem pelo ar. Cogitou-se seguir em caravana por terra.
Já no Campo de Marte, o Papa recebeu as chaves da cidade das mãos do prefeito Gilberto Kassab.
Um coral de 20 jovens do projeto Guri entoava o Hino Oficial de acolhida a Bento XVI. Ao ouvir as crianças, o Papa abriu os braços para saudá-las. Um descontraído sorriso despontava em seu rosto.
Após a breve cerimônia, de 10 minutos, o pontífice seguiu em papa-móvel por ruas da região central de São Paulo. Durante o trajeto, o Papa saudou e recebeu aplausos dos milhares de fiéis que se aglomeravam pelo caminho.
Ao chegar ao Mosteiro de São Bento, foi recebido pelos beneditinos que entoavam cantos gregorianos da Basílica de Nossa Senhora da Assunção.
Em seguida se dirigiu ao Balcão do Mosteiro, onde saudou os cerca de 5 mil fiéis presentes. Adultos e crianças se viam entre mulheres que oravam com os rosários nas mãos.
No final de seu discurso, ao improvisar, disse «muito obrigado» e desejou a todos uma «boa noite».
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«O êxito das seitas demonstra que há sede de Deus», reconhece Papa
No vôo rumo ao Brasil
ROMA, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- A expansão das seitas na América Latina constitui um chamado à Igreja Católica a ser «mais missionária e mais dinâmica para oferecer respostas» sobre a fé em Deus, considera Bento XVI.
Assim explicou durante a coletiva de imprensa que concedeu nesta quarta-feira a bordo do vôo que o levou de Roma a São Paulo, no Brasil.
Comentando com os jornalistas a expansão na América Latina de grupos pentecostais, o Papa reconheceu que «se dá esta preocupação comum, e precisamente durante a V Conferência do Episcopado Latino-Americano queremos encontrar as respostas convincentes; trabalha-se nisso».
«O êxito das seitas demonstra, por um lado, que há sede de Deus, uma sede de religião, e que as pessoas querem estar perto de Deus. Nós, na Igreja Católica, temos de ser mais missionários, mais dinâmicos para oferecer respostas a esta sede e ser conscientes de que as pessoas e os povos querem ter Deus perto de seus irmãos.»
«Temos de ajudá-los a encontrar as condições de vida adequadas, tanto no âmbito econômico como nas situações concretas, e todas as exigências da justiça», concluiu o bispo de Roma.
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Bento XVI fala sobre teologia da libertação rumo ao Brasil
A Igreja tem o desafio de promover condições justas de vida
ROMA, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Após confessar «amo muito a América Latina», Bento XVI explicou aos jornalistas nesta quarta-feira, rumo ao Brasil, que no continente da esperança, a Igreja tem o desafio de promover condições justas de vida.
Falando sobre a teologia da libertação, o Santo Padre reconheceu no avião que o levava de Roma para São Paulo que neste campo «há um espaço legítimo no debate».
«Com a mudança da situação política também mudou profundamente a situação da teologia da libertação e é evidente que fáceis milenarismos, que prometiam condições concretas de uma vida justa, estavam equivocados», declarou.
«Todos sabem disso -- acrescentou. Agora a questão está em como a Igreja deve estar presente na luta e nas reformas necessárias para garantir condições justas. Precisamente sobre isso há divisão entre os teólogos.»
O Papa falou também de Dom Óscar Arnulfo Romero, o arcebispo de San Salvador, assassinado em 1980, enquanto celebrava a missa: é um «grande testemunho da fé», disse.
O Santo Padre não tem dúvidas sobre o fato de que «sua pessoa mereça a beatificação», ainda que considera que é necessário evitar as manipulações de «uma parte do mundo político» que «tentou usá-lo como bandeira, e isso foi injusto».
«O arcebispo Romero foi uma grande testemunha da fé cristã, um homem de paz e que estava contra a ditadura», declarou o Papa, explicando que agora está esperando as conclusões do estudo que a Congregação para a Doutrina da Fé está fazendo sobre o arcebispo de San Salvador.
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Fiéis devem esperar um Papa diferente de João Paulo II
Bento XVI, de temperamento “tímido” e perfil intelectual, destaca bispo
SÃO PAULO, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Perante as incontáveis comparações entre as imagens de Bento XVI e João Paulo II, um bispo no Brasil afirma que os fiéis devem esperar um pontífice diferente do “João de Deus”, como foi apelidado o Papa polonês em suas passagens por terras brasileiras.
“Ele é diferente. O temperamento de Bento XVI é diferente do de João Paulo II”, comentou com Zenit Dom Erwin Kräutler, bispo prelado do Xingu (região amazônica, norte do Brasil).
Dom Erwin é ligado a Bento XVI não só pela ordenação episcopal. Os dois nasceram em regiões vizinhas. Dom Erwin, austríaco radicado no Brasil há 42 anos, fala o dialeto natural de Joseph Ratzinger, da região da Baviera, sudeste da Alemanha.
“Sempre que eu o encontrei ainda quando cardeal ele se lembrou de mim e nós conversamos, como numa ocasião em Jerusalém”, recorda o bispo.
O atual Papa é um “grande ouvinte”, destaca Dom Erwin. “Cada vez que conversamos no Vaticano, ele não veio logo com respostas. Ficou ouvindo, perguntou como era a minha realidade e como eu enxergava os problemas, depois logicamente fez suas considerações, como prefeito que era da Congregação para a Doutrina da Fé”.
A fama de ser um Papa duro é falsa, segundo o bispo do Xingu. “Acontece justamente o contrário. Por temperamento, ele é uma pessoa tímida”.
“Fazendo uma comparação com João Paulo II, este era expansivo, principalmente quando jovem, cantava, e havia no sangue dele a vocação de ator. Era muito comunicativo e sabia conduzir as massas.”
“Já o Papa Ratzinger é de temperamento tímido. Mas muito inteligente. Quando eu estava na universidade, na Áustria, o que ele escrevia naquele tempo nós comprávamos como o pãozinho fresco da manhã”, conta Dom Erwin.
“Quem se prezava como teólogo e como estudante de teologia tinha os livros do Ratzinger. E até hoje eu leio com muito proveito os seus escritos”, confessa.
“Ele é muito inteligente, dono de uma teologia profunda, o que para a Igreja é um dom”, afirma o bispo do Xingu.
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Bento XVI é o segundo Papa a visitar o Brasil
Seu antecessor, João Paulo II, esteve no país em quatro ocasiões
SÃO PAULO, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Antes de Bento XVI, apenas um Papa pisou em solo brasileiro. Foi justamente seu antecessor, João Paulo II, que das 104 viagens internacionais que realizou em 26 anos de pontificado, quatro dedicou ao Brasil.
A primeira visita do Papa polonês ao país realizou-se em junho de 1980. Foram 12 dias em terras brasileiras, durante os quais João Paulo II pronunciou 51 discursos. Em sua mensagem de chegada, João Paulo II disse que “começava a realizar um sonho longamente acalentado”.
“Eu desejava por diferentes motivos conhecer esta terra”, afirmou o Papa na ocasião. Durante esses 12 dias, o pontífice passou por Brasília, onde se encontrou com os sacerdotes na Catedral da cidade, abençoou a estátua de São João Bosco, esteve com o corpo diplomático e falou a um grupo de presidiários.
Em seguida foi para o Rio de Janeiro, onde celebrou missa para as famílias, ordenou novos sacerdotes, visitou o Corcovado e a Favela do Vidigal. Já em Belo Horizonte (Minas Gerais) celebrou missa para jovens e estudantes.
Em junho de 1982 João Paulo II fez uma visita mais curta ao Brasil, de dois dias, apenas de passagem, já que se dirigia para a Argentina.
Já em 1991, a visita pastoral de João Paulo II ao Brasil durou dez dias. Foram 31 discursos. O Papa esteve em Brasília, Salvador, Natal, entre outras cidades. O pontífice afirmou, em seu discurso de boas-vindas, que a nação brasileira estava-se “preparando para desempenhar um papel de grande relevância entre os povos de todo o mundo”.
“Isso decorre não só de sua dimensão territorial e das imensas potencialidades do seu solo. Mais importante é a riqueza humana de um povo que, em quase cinco séculos de história, vem crescendo à sombra de autênticos valores humanos e espirituais, e que se prepara para enfrentar os desafios do Terceiro Milênio da era cristã”, destacava o pontífice.
A sua última visita, em 1997, foi marcada pelo II Encontro Mundial das Famílias, realizado no Rio de Janeiro.
Ali o Papa Wojtyla fez uma defesa enfática da instituição familiar. “A família, fundamentada e vivificada pelo amor, é o lugar próprio onde cada pessoa está chamada a experimentar, fazer próprio e participar daquele amor sem o qual o homem não pode viver, e toda a sua vida fica destituída de sentido”, afirmou o pontífice.
Durante a quarta visita ao Brasil, João Paulo II falou aos enfermos do Instituto Nacional de Câncer, aos presos do presídio Frei Caneca, aos bispos, sacerdotes, religiosos e delegados do Congresso Teológico Pastoral.
Em seu discurso de despedida, João Paulo II declarou que “na minha memória ficarão para sempre gravadas as manifestações de entusiasmo e de profunda piedade deste povo generoso da Terra da Santa Cruz que, junto à multidão de peregrinos provindos dos quatro cantos do mundo, soube dar uma pujante demonstração de fé em Cristo e de amor pelo Sucessor de Pedro”.
Papa Montini
Paulo VI, Giovanni Battista Montini, foi o primeiro Papa a visitar os cinco continentes, e, até João Paulo II, foi o mais viajado.
Em 1968 esteve na América Latina. Na Colômbia, em agosto desse ano, abriu os trabalhos da II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, a Conferência de Medellín.
João Paulo II abriria também pessoalmente as edições posteriores das Conferências Gerais Latino-Americanas em Puebla (México, 1979) e em Santo Domingo (República Dominicana, 1992).
Bento XVI prossegue com a tradição de seus antecessores e aterrissa esta quarta-feira no Brasil justamente para abrir os trabalhos da V Conferência Geral, que passará à história como a Conferência de Aparecida.
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Ratzinger esteve no Brasil em duas ocasiões como cardeal
SÃO PAULO, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Na função de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger esteve no Brasil em duas ocasiões.
Em 1982, um ano depois de ter assumido a chefia da Congregação, participou de encontro com teólogos no Rio de Janeiro, onde discutiu Cristologia.
Já na visita de 1990, o cardeal proferiu palestras no Curso para Bispos realizado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Em torno ao renomado teólogo se reuniram cerca de cem bispos no Brasil, que o ouviram falar sobre Igreja Universal e Igreja Par¬ticular, Pedro e a Unidade dos Cristãos, o Munus do Bispo e a Igreja Par¬ticular.
O objetivo do curso era proporcionar atualização teológica aos bispos e reforçar a comunhão em torno do Magistério da Igreja.
O anfitrião do encontro foi o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugenio Sales. Participaram ainda o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) na época, Dom Luciano Mendes de Almei¬da, o Núncio Apostólico, Dom Carlo Furno. Coordenou o curso Dom Karl Josef Romer.
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Discurso do Santo Padre na chegada ao aeroporte de Guarulhos (Brasil)
GARULHOS, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos a seguir as palavras dirigidas pelo Santo Padre Bento XVI em sua chegada ao aeroporto internacional de Guarulhos (região metropolitana de São Paulo).
Na ocasião o Papa se encontrou com o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e demais autoridades brasileiras.
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Excelentíssimo Senhor Presidente da República
Senhores Cardeais e Venerados Irmãos no Episcopado
Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo!
1. É para mim motivo de particular satisfação iniciar a minha Visita Pastoral ao Brasil e apresentar a Vossa Excelência, na sua qualidade de Chefe e representante supremo da grande Nação brasileira, os meus agradecimentos pela amável acolhida que me foi dispensada. Um agradecimento que estendo, com muito prazer, aos membros do Governo que acompanham Vossa Excelência, às personalidades civis e militares aqui reunidas e às autoridades do Estado de São Paulo. Nas palavras de boas-vindas a mim dirigidas, sinto ecoar, Senhor Presidente, os sentimentos de carinho e amor de todo o Povo brasileiro para com o Sucessor do Apóstolo Pedro.
Saúdo fraternalmente no Senhor os meus queridos Irmãos no Episcopado que aqui vieram para me receber em nome da Igreja que está no Brasil. Saúdo igualmente os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os seminaristas e os leigos comprometidos com a obra de evangelização da Igreja e com o testemunho de uma vida autenticamente cristã. Enfim, dirijo a minha afetuosa saudação a todos os brasileiros sem distinção, homens e mulheres, famílias, anciãos, enfermos, jovens e crianças. A todos digo de coração: Muito obrigado pela vossa generosa hospitalidade!
2. O Brasil ocupa um lugar muito especial no coração do Papa não somente porque nasceu cristão e possui hoje o mais alto número de católicos, mas sobretudo porque é uma nação rica de potencialidades com uma presença eclesial que é motivo de alegria e esperança para toda a Igreja. A minha visita, Senhor Presidente, tem um objetivo que ultrapassa as fronteiras nacionais: venho para presidir, em Aparecida, a sessão de abertura da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho. Por uma providencial manifestação da bondade do Criador, este País deverá servir de berço para as propostas eclesiais que, Deus queira, poderão dar um novo vigor e impulso missionário a este Continente.
3. Nesta área geográfica os católicos são a maioria: isto significa que eles devem contribuir de modo particular ao serviço do bem comum desta Nação. A solidariedade será, sem dúvida, palavra cheia de conteúdo quando as forças vivas da sociedade, cada qual dentro do seu próprio âmbito, se empenharem seriamente para construir um futuro de paz e de esperança para todos.
A Igreja Católica - como coloquei em evidência na Encíclica Deus caritas est - "transformada pela força do Espírito é chamada para ser, no mundo, testemunha do amor do Pai, que quer fazer da humanidade uma única família, em seu Filho" (cf. 19). Daí o seu profundo compromisso com a missão evangelizadora, a serviço da causa da paz e da justiça. A decisão, portanto, de realizar uma Conferência essencialmente missionária, bem reflete a preocupação do episcopado, e não menos a minha, de procurar caminhos adequados para que, em Jesus Cristo, os "nossos povos tenham vida", como reza o tema da Conferência. Com esses sentimentos, quero olhar para além das fronteiras deste País e saudar todos os povos da América Latina e do Caribe desejando, com as palavras do Apóstolo, "Que a paz esteja com todos vós que estais em Cristo" (1Pt 5,14).
4. Sou grato, Senhor Presidente, à Divina Providência que me concede a graça de visitar o Brasil, um País de grande tradição católica. Já tive a oportunidade de referir o motivo principal da minha viagem que tem um alcance latino-americano e um caráter essencialmente religioso.
Estou muito feliz por poder passar alguns dias com os brasileiros. Sei que a alma deste Povo, bem como de toda a América Latina, conserva valores radicalmente cristãos que jamais serão cancelados. E estou certo que em Aparecida, durante a Conferência Geral do Episcopado, será reforçada tal identidade, ao promover o respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu natural declínio, como exigência própria da natureza humana; fará também da promoção da pessoa humana o eixo da solidariedade, especialmente com os pobres e desamparados. A Igreja quer apenas indicar os valores morais de cada situação e formar os cidadãos para que possam decidir consciente e livremente; neste sentido, não deixará de insistir no empenho que deverá ser dado para assegurar o fortalecimento da família - como célula mãe da sociedade; da juventude - cuja formação constitui um fator decisivo para o futuro de uma Nação - e, finalmente, mas não por último, defendendo e promovendo os valores subjacentes em todos os segmentos da sociedade, especialmente dos povos indígenas.
5. Com estes auspícios, ao renovar os meus agradecimentos pela calorosa acolhida que, como Sucessor de Pedro, sou objeto, invoco a proteção materna de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, evocada também como Nuestra Señora de Guadalupe, Padroeira das Américas, para que proteja e inspire os governantes na árdua tarefa de serem promotores do bem comum, reforçando os laços de fraternidade cristã para o bem de todos os seus cidadãos. Deus abençoe a América Latina! Deus abençoe o Brasil! Muito obrigado.
Saudação de Bento XVI no balcão do Mosteiro de São Bento
No centro de São Paulo
SÃO PAULO, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos a seguir as palavras dirigidas pelo Santo Padre esta quarta-feira aos cerca de 5 mil fiéis reunidos no Largo de São Bento, região central de São Paulo, do balcão do Mosteiro, onde ficará hospedado durante sua estadia na cidade.
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Queridos amigos!
Esta acolhida tão calorosa comove o Papa! Obrigado, por terem querido aguardar-me.
Estes dias para todos vocês e para a Igreja estarão cheios de emoções e de alegrias.
É uma Igreja em Festa! De todos os cantos do mundo estão rezando pelos frutos desta Viagem, a primeira Viagem Pastoral ao Brasil e à América Latina que a Providência me permite realizar como Sucessor de Pedro!
A Canonização do Frei Galvão e a Inauguração da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho serão marcos históricos para a Igreja. Conto com vocês e com suas orações!
Discurso de boas-vindas do presidente Lula ao Papa no Brasil
SÃO PAULO, quarta-feira, 9 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o discurso que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, proferiu na cerimônia de boas-vindas a Bento XVI, na chegada do pontífice ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, na tarde desta quarta-feira.
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Sua Santidade, Papa Bento XVI,
Senhores integrantes da comitiva que acompanha Sua Santidade em visita ao Brasil,
Autoridades brasileiras presentes a esta cerimônia,
Jornalistas,
Meus senhores e minhas senhoras,
É com imensa alegria que em meu nome e de todo o povo brasileiro dou as boas-vindas a Vossa Santidade. Sinto-me duplamente honrado, como cristão e como presidente da República, pelo privilégio de saudá-lo nesta sua primeira visita pastoral ao Brasil, que, esperamos, seja seguida por outras, no fecundo pontificado que todos lhe auguramos.
Nosso País o recebe de braços abertos, Santo Padre, porque muito espera de sua liderança espiritual e moral, imprescindível para que a humanidade enfrente e supere seus enormes desafios no alvorecer deste novo milênio.
Além de agradecer-lhe de coração a visita, agradeço-lhe também a escolha do Brasil e da querida cidade de Aparecida como sede da 5a Conferência Episcopal da América Latina e Caribe, que reunirá, entre nós, eminentes bispos da Igreja Católica de toda a região.
Santidade, a presença da Igreja Católica tem sido fundamental na vida brasileira, contribuindo sempre, e cada vez mais, para a elevação espiritual, moral e social do nosso povo.
O Estado brasileiro e a Igreja Católica têm uma longa e profícua trajetória de respeito mútuo e de cooperação, que se traduz em inúmeras parcerias de ação social e de promoção humana, melhorando a vida de nossa gente e ampliando o seu horizonte de dignidade coletiva.
Nessa ocasião tão especial de júbilo, não posso deixar de mencionar também a nossa cooperação em âmbito internacional, ressaltando o apoio firme e entusiasmado do Vaticano à Ação Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa que tem empolgado, no mundo inteiro, líderes governamentais e representantes da sociedade civil, possibilitando avanços concretos e novas esperanças para os povos oprimidos e marginalizados.
Todos os povos do Planeta, seja qual for a sua confissão religiosa, sabem que a palavra do Sumo Pontífice Bento XVI será sempre em defesa da paz, da concórdia e da solidariedade. Sabem que ela estará sempre a serviço da vida e da dignidade essencial da pessoa humana. Que ela estará sempre ao lado dos deserdados do mundo, nossos irmãos mais frágeis e vulneráveis.
Santidade, a Igreja Católica é portadora de valores que permeiam profundamente a sociedade brasileira, uma sociedade que sempre teve como núcleo básico e referência primordial a família.
Esteja seguro, Santo Padre, de que compartilhamos a justa preocupação de resgatar e fortalecer a vida familiar, como premissa da autêntica vida comunitária e social. Nosso empenho será cada vez maior e mais vigoroso para combater e superar as causas da sua desagregação.
Tenho dito e repito que o avanço da sociedade brasileira no rumo da justiça e da fraternidade passa necessariamente pela revitalização dos laços familiares, do papel ético e educativo da família.
Atenção muito especial temos dado à nossa juventude, principalmente às suas parcelas mais pobres e sofridas, e vamos ampliá-la cada vez mais. Sabemos que não há como afirmar os valores perenes da pessoa humana, a exemplo do que faz Vossa Santidade de modo tão iluminado, sem oferecer aos nossos jovens um futuro digno, em todas as suas dimensões, materiais e espirituais.
Outra área fundamental que nos apaixona e mobiliza é a da educação. Estamos convencidos de que uma educação de qualidade e para todos é vital para a consolidação da democracia política, econômica e cultural em nosso País, gerando novas oportunidades para o conjunto da população.
Tenho certeza de que prioridades como essas, que marcam o nosso empenho pessoal à frente do governo brasileiro, são particularmente caras a Vossa Santidade, e certamente contarão com a corajosa contribuição, sempre elevada e eficaz, da Igreja Católica.
Santidade, estou convicto de que represento os mais profundos e sinceros sentimentos do povo brasileiro ao lhe dirigir esta saudação plena de reconhecimento e de admiração, desejando-lhe a melhor estada possível entre nós e um pontificado de paz e completo êxito.
A sua visita ao Brasil é, para todos nós, uma bênção. Os brasileiros e brasileiras hoje lhe dizem a uma só voz: seja bem-vindo Papa Bento XVI.