Foi de fato um dia de desespero!...
Esqueci por um momento o que ela havia sussurrado ao meu ouvido...
E as minhas divagações foram tantas que cheguei a perguntar a mim mesmo:
“Se ela era céu, por que não haveria de ser terra?...”
“E se era vida, não estaria agora escondida na morte?...”
E tal foi o destempero da minha alma, que vaguei entre o céu e o mar e entre a montanha e o abismo, e tal foi a minha agonia, que traí o segredo da minha alma, e alteei tanto a voz das minhas entranhas, que os sussurros se externaram como um lamento audível até aos ouvidos incontidos...
E cheguei a perguntar por ela aos pescadores,
e eles na sua inconstância de mar, me disseram que ela estava com os peixes...
Perguntei aos peixes,
e eles no seu silêncio de abismo acenaram que ela estava com o mar...
O mar na sua imponência profunda disse que ela se escondia com os pássaros...
Os pássaros disseram que ela foi vista passando num cortejo pelos céus...
Olhei para o céu e nada perguntei já cansado da minha busca...
Mas vi os olhos do sol (e entendi fogo), e fui aos ferreiros que revolviam as brasas, e eles novamente apontaram o fogo...
Quando eu me retirava, já com uma dor (de fogo) a arder no coração, e uma lágrima em cada olho, e uma angústia na alma, vi umas mulheres reunidas, com cânticos nos lábios, livros nas mãos e jogavam preces ao vento... Caminhei até elas e antes mesmo que lhes dirigisse a palavra, começaram a rir de mim...
E umas me mostravam milagres...
E outras os seios...
E ainda outras os sexos...
E percebi nesse momento que elas pareciam igrejas esperando o noivo que só conheciam de ouvir dizer...
Então voltei no meu caminho...
A cabeça baixa, e os olhos no chão...
Mas vi (ainda que eu teimasse em olhar para o chão), um pouco elevada nas alturas acima das cabeças e dos pensamentos... e ouvi um pouco à frente do tempo do som, uma voz inconfundível da minha Amada. E ela não disse muita coisa... Mas uma só palavra em sua boca tem muitíssimo mais valor que todas as palavras pronunciadas pelas bocas dos que não a conhecem. E alteei a cabeça e olhei para o ponto de onde provavelmente vinha o som da sua voz, e não a vi novamente. E quase me volta o desespero. Mas como que recebendo o entendimento que dela provinha, ergui a minha voz, dessa vez num sussurro disse: