Não há como o Espírito visitar os violentados; aqueles que estão revestidos da noite por fora, e anoitecidos por dentro. Não há como o Espírito visitar discípulos emocionalmente desorientados, desesperançados, descrentes, ansiosos, agitados, aflitos, carcomidos pelo medo e a incerteza, apesar de terem ouvido naquela manhã, dos lábios de Maria Madalena: “eu vi o Senhor”. (Jo 20,18) Discípulos acuados, com as portas do Cenáculo fechadas, mas também com as portas da alma e do coração.
É neste contexto que Jesus se faz presente para transmudar os sentimentos que se haviam apoderado de cada um deles. O Ressuscitado entra, se põe no meio deles – mantendo a mesma distância de cada um – e os saúda: “A paz esteja convosco!” Para os desesperançados, um coração pacificado é uma fonte de esperança constante. Jesus pacifica os seus corações e suas almas agitadas.
Num segundo momento o Senhor “mostra-lhes as mãos e o lado”, e eles se alegram. As marcas da Ressurreição têm o poder de renovar a fé daqueles que não mais acreditam. Benditas as chagas de Jesus!
Outra vez a saudação de paz. Quando se está alegre, contente, confiante, cheio de esperança, com o coração revestido de quietude e a alma em festa, é chegada a hora de dizer: “Recebei o Espírito Santo”. É o que Jesus fez. E eles foram revestidos de poder, de destemor, de coragem, de intrepidez, de sabedoria, da força do alto, para anunciar a Boa Nova e renovar a face da terra.
Se queremos que o Pentecostes se realize em nós, deixemo-nos pacificar por Jesus, alegremo-nos nele, e nele renovemos a nossa fé. E todos ficaremos cheios do Espírito Santo, porque “o vento sopra onde quer” (Jo 3,8a).