Entrevista a Dom Orlando Brandes sobre Campanha Pró-Aborto da União Nacional dos Estudantes
SÃO PAULO, domingo, 30 de setembro de 2007
ZENIT.org
Essa quinta-feira, a UNE (União Nacional dos Estudantes) lançou no Brasil uma Campanha Pró-Aborto. Para comentar o assunto, Zenit entrevistou Dom Orlando Brandes, arcebispo de Londrina (Paraná, sul do Brasil) e presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
--Ao lançar essa semana uma campanha a favor do aborto, a UNE ergue-se como instituição que fala em nome da juventude brasileira. Mas isso não é verdade, pois não só os jovens, como também o restante da sociedade brasileira, em sua grande maioria, é contra o aborto…
--Dom Orlando Brandes: Vivemos em uma sociedade pluralista. Nesse pluralismo, os valores cristãos e, às vezes, os valores éticos e até os valores da lei natural já não são mais respeitados. Temos uma cultura hoje muito pluralista e, por outro lado, muito individualista. Nesse contexto, há entidades internacionais que vão incutindo na cultura e nas pessoas o seu jeito de interpretar a realidade. Neste caso de uma campanha a favor do aborto, isso não condiz nem com a natureza humana, porque até os animais cuidam de seus filhotes, nem condiz com as religiões cristãs; o não matarás é praticamente uma norma de todas as religiões. Nós queremos sempre uma cultura da vida. E dentro dessa cultura da vida hoje nós cuidamos da natureza, dos animais, e temos também de respeitar a vida desde a fecundação, onde existe o início completo de uma vida humana, que depois vai se desenvolver, nascer, frutificar e um dia morrer naturalmente.
--Por mais que uma entidade se manifeste pró-aborto, não se pode afirmar que a juventude brasileira é a favor de uma cultura da morte. Ela é muito mais pela cultura da vida, não?
--Dom Orlando Brandes: Como eu disse, há uma visão muito pluralista hoje. Lembro-me, por exemplo, de quando o Papa se encontrou com os jovens no Pacaembu, em São Paulo, em maio passado, e falou da castidade, da fidelidade do matrimônio e de posições anti-abortistas. Ali ele foi longamente aplaudido. Porque ali estavam jovens cristãos. Então, de fato, não se pode dizer «toda a juventude», pois, se se usou a palavra «pluralista», significa que há muitas posições diferentes. Normalmente, os jovens cristãos, católicos e jovens também de outras religiões pentecostais, eles não concordam com o aborto. Isso é uma verdade.
--Que precauções o senhor pensa que os jovens devem tomar para não correr o risco de, diante de estratégias duvidosas, serem massa de manobra de interesses cujos vínculos estão para além do que se apresenta na mídia e que extrapolam as informações oficiais?
--Dom Orlando Brandes: Em primeiro lugar, deve-se consultar a autêntica e verdadeira ciência, porque uma ciência sem ideologia e sem interesses mostra realmente que a vida tem início na fecundação e que todo corpo de uma pessoa grávida se prepara naturalmente para o desenvolvimento daquele embrião. Depois, considerar a dignidade humana ao embrião.
Por outro lado, deve-se buscar uma educação para o amor, porque o que está em jogo hoje é esse pluralismo ético, num contexto em que se tem de ver as razões sérias do porquê não abortar.
Uma outra questão a averiguar, além da educação para o amor e para a ética, é as pessoas se informarem melhor junto da ciência, dos próprios pais, das religiões, para que esses valores, como o do respeito ao embrião, do respeito à vida, não se percam. Mesmo para os que não têm religião, os argumentos humanos são suficientes para não se tomar uma atitude abortista. Nós já temos no mundo muitos sinais de que um desenvolvimento que não é integral e que não leva em conta a ética e a religião, ele se torna um desenvolvimento que acaba indo contra a própria humanidade.
A vida é um bem primário, é o fundamento de todas as instituições humanas, inclusive das instituições políticas. Por isso, por ser este bem primário, a razão de ser de todas as outras instituições, ela deve ser respeitada. Há argumentos éticos, científicos, religiosos e sociais quando se afirma a necessidade da defesa da vida. Não é uma atitude de fechamento, obscurantismo ou qualquer coisa do tipo. É uma argumentação séria a favor da vida.