Rodrigo Moreira Martins 1999
Hermenêutica de Lv 11, 1-8
I Introdução
A opção de uma hermenêutica mais aprofundada e realista com nossa época é a proposta desse trabalho. O texto é algo que esta vivo e recente às releituras aplicadas ao mesmo.
As várias formas de se interpretar Lv 11:1-8 nos levou a buscar uma acurada pesquisa e aproximada verdade hodierna, fazendo assim um trabalho que almeja ser mais que simplesmente um trabalho acadêmico, mas ser uma ferramenta de aplicação ao dia-a-dia do pesquisador e religioso.
O texto, em primeira instância, nos mostra uma face assustadora e deslizante. Ele nos expõe a uma graça barata, a uma interpretação rasa, mas ao atentarmos aos detalhes e situações decorrentes, vemos que seu contexto é muitíssimo vasto, e sentimos a obrigação de investir tempo e estudo no texto.
II Texto
a- Exame textual (crítica textual)
Consulta ao aparato crítico impossibilitada pela falta de aulas de Hebraico que só se
darão no 2º ano deste seminário;
b- Tradução
Revista e Atualizada Almeida
1 Falou o SENHOR a Moisés e a Arão, dizendo-lhes:
2 Dizei aos filhos de Israel: São estes os animais que comereis de todos os quadrúpedes que há sobre a terra:
3 todo o que tem unhas fendidas, e o casco se divide em dois, e rumina, entre os animais, esse comereis.
4 Destes, porém, não comereis: dos que ruminam ou dos que têm unhas fendidas: o camelo, que rumina, mas não tem unhas fendidas; este vos será imundo;
5 o arganaz, porque rumina, mas não tem as unhas fendidas; este vos será imundo;
6 a lebre, porque rumina, mas não tem as unhas fendidas; esta vos será imunda.
7 Também o porco, porque tem unhas fendidas e o casco dividido, mas não rumina; este vos será imundo;
8 da sua carne não comereis, nem tocareis no seu cadáver. Estes vos serão imundos.
III Sentido Original (1º horizonte)
A- Observações e interpretação provisória
1- Análise gramatical
Palavras analisadas:
1.1 falou: v.t.d. exprimir por meio de palavras; dizer
1.2 animais quadrúpedes: adj. m. e f. Relativo a, próprio de, ou derivado de animais. S. m. Ser vivo, não integrante do reino vegetal, com quatro pés
1.3 ruminante: adj. m. e f. Que rumina. S. m. Espécime dos Ruminantes. S. m. pl. Zool. Subordem de mamíferos e quadrúpedes, cujo estômago é dividido em quatro partes (pança, barrete, folhoso e coagulador), às vezes em três, voltando o alimento à boca para ser novamente mastigado.
1.4 imundo: adj. 1. Impuro, sujo. 2. Sórdido, indecente, imoral.
2- Situações históricas:
2.1 Nome do Livro: derivado da tribo de Levi;
2.2 Autor: Moisés, comumente aceito; data aprox. século 13 a.C.
2.3 Palavras-chave: acesso e santidade;
2.4 Conteúdo: compêndio das leis divinas ;
2.5 Personagem principal: o sumo-sacerdote;
2.6 Tema principal: como pode um pecador aproximar-se de um Deus santo? A
palavra santo ocorre + de 80 vezes.
3- Contexto
3.1 Deus dando intruções ao povo; isto ocorre em todo o livro;
4- Forma
4.1 Lei
5- Análises literárias
5.1- citações inter-bíblicas
5.1.2 alimentos proibidos, 22:8
5.1.3 camelos, Jz 6:5
5.1.4 coelhos, Sl 104:18; Pv 30:26
5.1.5 porcos, Is 65:4
5.1.6 imundície, Is 52:11
5.2- Comparações sinóticas
5.2.1 Dt 14:1-8
6- Análise de detalhes
6.1 A Lei da pureza (caps. 11-16) está unida à lei de santidade (caps. 17-26) como dois aspectos, negativo e positivo, de uma mesma exigência divina. As regras dadas aqui repousam sobre interditos religiosos muito antigos: é puro aquilo que pode aproximar-se de Deus, e é impuro aquilo que se torna impróprio para o seu culto ou do qual é excluído. Os animais puros são aqueles que podem ser oferecidos a Deus (Gn 7:2), os animais impuros são aqueles que os pagãos consideram como sagrados ou que, parecendo repugnantes ou maus para o homem, são considerados desagradáveis a Deus (cap. 11). Outras regras dizem respeito ao nascimento (cap. 12), à vista sexual (cap. 15), à morte (21:1-11; cf. Nm 19:11-16), domínios misteriosos onde age Deus, o Senhor da vida. Um indicio de corrupção como a lepra (13:1 +), torna igualmente impuro. Mas, além dessa pureza ritual, os profetas insistirão na purificação do coração (Is 1:16; Jr 33:8; cf. Sl 51:12), pregando o ensinamento de Jesus (Mt 15:10-20p), que libera os seus discípulos de prescrições que ainda retinham apenas o aspecto material (Mt 23:24-26p). Dessa antiga legislação guardar-se-á a lição de um ideal de pureza moral, protegido por regras positivas.
As classificações aqui dadas são feitas a posteriori, segundo o protótipo do animal puro, que é o carneiro ou os bovídeos; são empíricas: assim, a lebre é chamada de ruminante em razão do movimento de sua boca. A identificação de determinados animais é incerta.
B- Correlação bíblica/ contexto bíblico
O contexto é Moisés aplicando leis ao povo de Deus
C- Debates com fontes secundárias
Fontes dizem que era um tipo de dieta imposta ao povo da época, também dizem à impureza relacionada com as doenças possíveis e animais usados em rituais pagãos.
D- Síntese final
O texto nos leva a concluir que a Lei imperava na época, e que seus atributos salvaram o povo da época e os ajudou se aproximar de IAHWEH.
IV Atualização (2º horizonte)
A- Reflexão sobre a compreensão atual (meditação)
Os textos estudados nos mostram uma situação que era regida pela Lei, sendo assim o povo da época deveria obedecer suas regulamentações, a fim de se aproximar de IAHWEH e se proteger dos malefícios que tais alimentos poderiam vir a trazer.
O povo precisava de proteção, eram vulneráveis e em um número não muito seguro. Era preciso manter o crescimento, sua separação para a adoração do Deus único e ciumento. Cuidado era também uma das caraterísticas desse Deus, que queria o melhor para seu povo, mas desde esse simples fato verificamos uma condição ao povo para que isso prosseguisse: a obediência e a santidade.
Deus queria um povo exemplar, sábio de sua sabedoria. Um povo que pudesse ser exemplo a todas as nações.
B- Reflexão sobre a situação atual
Nossa atual situação é totalmente diferente no que se refere à regência divina. Estamos debaixo da graça de Jesus, o soberano entronizado pelo Pai, ou seja, IAHWEH, o mesmo Deus do A.T. Com isso passamos a ter uma outra perspectiva das leis.
Sobre o texto especificamente temos os reflexos do A.T. que nos dizem respeito à obediência e santificação que ainda nos são exigidos pelo rei Jesus (Mt 15: 10-20) juntamente com o cuidado que Ele coloca em cada uma de suas parábolas, só que agora são mais cuidados com nossa alma, nossa situação vindoura no reino de Deus, Jesus fala do cuidado do corpo também, mas não é um cuidado carnal, pois nosso corpo passou a ser o templo do Espírito Santo, e por dever, devemos cuidar dele também.
C- Aplicação
1- Pessoa
As pessoas que se preocupam em seguir as leis da Bíblia, agora deveriam ter uma nova perspectiva dessas leis, sabendo que Jesus é quem dita as novas regras. Em verdade em faz uma acurada leitura dessas mesmas leis, pois com o passar do tempo perdeu-se o significado original.
Assim como podemos todas as coisas naquele que nos fortalece, também devemos nos equilibrar naquilo que podemos não escandalizando nossos próximos com nossas ações.
2- Comunidade
A comunidade deveria ser exemplo como povo de Deus, levando uma mensagem genuína da vontade de Deus e mostrando para as pessoas um modelo a ser seguido.
3- Sociedade
A sociedade poderia ser mais coerente e feliz se aceitasse o cuidado de um Deus que, há milênios se preocupa com ela, e que tem deixado sua palavra para curar seus males.
D- Aplicação geral
Nesses dias de avanços tecnológicos imensos e da grande mutação de seitas e religiões, talvez fosse útil pensarmos em nossos enlatados e grande variedade de produtos alimentícios industrializados. Se estivéssemos debaixo da lei, com certeza, nosso Deus diria algo a respeito do perigo desse tipo de alimentação. Consequentemente também dos animais que são usados nos rituais de macumba, por exemplo: não comerás as galinhas pretas.
Temos ainda hoje reflexos do cuidado e requisição de santidade de Deus. Ele nos deixou muito claro através de toda sua palavra, assim na Lei como na graça, pois não é fácil um pecador se aproximar de um Deus Santo.
V Bibliografia
Kirst, Nelson, Dicionário Hebraico-Portugues e Aramaico-Portugues, 10ª ed., ed. Sinodal (São Leopoldo)-Vozes (Petrópolis), 1999
DIC – Dicionário eletrônico Michaelis, Vs 4.00, DTS Software LTDA, 1996
A Bíblia de Jerusalém, ed. Paulus
Bíblia de referencia Thompson, ed. Vida
Bíblia Vida Nova, ed. Vida Nova
Harris, R. Laird, Dicionário Internacional de Teologia do A.T., ed. Vida Nova – São Paulo, 1998
Boyer, O.S., Pequena Enciclopédia Bíblica, ed. Metodista - São Bernardo do Campo, 1975, 6º edição
Harrington, Wilfrid J., Chave para a Bíblia, ed. Paulinas – São Paulo, 1985
Bushell, Michael S., BibleWorks for windows, vs 3.5 – 1996
Bíblia On-line Versão 7.0, Sociedade Bíblica do Brasil,1998
Ceresko, Anthony R. – Introdução ao A.T. Numa Perspectiva Libertadora, ed. Paulus - São Paulo, 1996
Fee, Gordon D., Entendes o que Lês, ed. Vida Nova
Carlos Mesters, filme de apoio passado em sala de aula.
Davidson, Francis, O Novo Comentário da Bíblia, ed. Vida
Halley, Henry H., Manual Bíblico, ed. Vida Nova - São Paulo, 1994, 4ª edição, pg 129
Born, A. Van Den (org.), Dicionário Enciclopédico da Bíblia, ed. Vozes - Petrópolis, 1992,
5ª edição
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