MORRE O PADRE JOÃO MODESTI
Padre João Modesti, em foto do dia 20/06/2002, por
ocasião do Tríduo do 1.º Centenário do Santuário
Sagrado Coração de Jesus (Araras-SP),
comemorado no dia 22/06/2002
O padre João Modesti, um dos mais antigos e populares líderes católicos de Araras, faleceu no último sábado, dia 21 (de maio de 2005), vítima de complicações cardíacas que se agravaram nos últimos tempos. Aos 85 anos, padre João dedicou-se aos estudos, ao magistério e, principalmente, a uma vida religiosa fortemente marcada pelo trabalho junto às crianças e adolescentes. Depois de uma vigília que mobilizou centenas de fiéis e autoridades locais, o religioso foi sepultado na manhã de domingo, numa cripta dentro do próprio Santuário do Sagrado Coração de Jesus, no Oratório São Luiz, onde realizou boa parte de seu trabalho em prol da Obra Salesiana.
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Padre João Modesti morre em
Araras aos 85 anos
Religioso nascido na Fazenda Campo Alto foi ordenado
em 1947 e atuou quatro anos em Roma
Ana Maria Devides e Fábio Daltro
O padre João Modesti, um dos mais antigos e conhecidos líderes católicos de Araras, faleceu no último sábado, dia 21, aos 85 anos, devido a complicações cardíacas. O falecimento ocorreu por volta de 10h30, no Hospital Unimed, para onde foi levado pouco tempo antes.
Segundo o padre Tarcísio dos Santos, diretor do Oratório São Luiz, padre João vinha tendo seu estado de saúde agravado desde o início do mês. “No dia 4 de maio ele passou mal e ficou 24 horas no CTI (Centro de Terapia Intensiva). Passou mais quatro dias internado e depois voltou para casa”, relata padre Tarcísio. “No sábado (21) cedo ele acordou, tomou café da manhã, e disse que estava se sentindo mal, com dores no peito. Chamamos uma ambulância do Samu e o levamos ao hospital, onde ele infelizmente veio a falecer”, conta ele.
O diretor do Oratório disse, também, que padre João mostrava total serenidade e muita consciência de seu estado de saúde. “Ele vinha falando tranqüilamente que logo não estaria mais aqui entre nós. Sua preocupação era passar todos os compromissos e trabalhos para que pudessem ter continuidade”, diz padre Tarcísio. “A franqueza dele era tamanha que na última missa que ele celebrou, há algumas semanas, na capela da Usina São João, ele chegou a se despedir das pessoas que trabalhavam no local”, conta ele.
A irreverência e descontração do padre João o acompanharam até o fim, segundo padre Tarcísio. “Amigos vinham visitá-lo e ele próprio fazia piadas com o seu estado de saúde”, relembra.
“ELE ERA UM HOMEM
BONÍSSIMO, BEM HUMORADO,
RESPEITADOR E PRINCIPALMENTE
MUITO SÁBIO”
A convivência de um ano e quatro meses ao lado do padre João foi classificada por padre Tarcísio como ‘um privilégio’. “Ele era um homem boníssimo, bem humorado, respeitador e principalmente muito sábio. Foi realmente um privilégio conviver com ele e, até o fim, ele preocupou-se em não dar nenhum tipo de preocupação a ninguém. Ele foi cercado de cuidados, mas era preciso ficarmos atentos, porque ele não reclamava de absolutamente nada”, emociona-se.
Modesti recebeu várias homenagens em vida. Uma delas foi a Prefeitura ter batizado a rodoviária intermunicipal de Rodoviária Padre João Modesti.
O bispo da Diocese de Limeira, Dom Augusto Zini, encomendou o corpo na tarde de sábado, por volta das 15h00, quando este chegou ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus, vindo do necrotério da Unimed, sendo trasladado em seguida para a quadra do Oratório São Luiz e lá ficando até às 21h00. Neste ínterim, uma equipe da Construtora Pavan foi ao local providenciar a abertura de uma cripta para o enterro dentro da igreja, diante do altar da Imaculada Conceição. Das 21h00 até os funerais, o corpo do padre Modesti foi velado no interior do próprio Santuário.
No domingo, a missa exequial, às 9h00, contou com a presença de aproximadamente 15 padres, liderados pelo bispo salesiano Dom Fernando Legal (ex-bispo de Limeira) e padre inspetor salesiano Nivaldo Luiz Pessinatti, ambos ex-alunos do padre João Modesti. O padre Vladimir Barbosa Hergert, da igreja Matriz, representou o bispo diocesano na celebração.
Em seguida, o corpo percorreu, em carreata tendo à frente o carro fúnebre, o trajeto que o padre João Modesti fazia diariamente até a Praça Barão de Araras, seguido de carro do Corpo de Bombeiros, com sirene aberta.
De volta ao Santuário, o corpo do padre João Modesti, ao som da Marcha Fúnebre, tocada pela Banda José Estevam Zurita, do Oratório São Luiz, também por ele criada, foi coberto pela bandeira do Município de Araras, sendo logo em seguida sepultado, por volta das 11h00, juntamente com o seu tradicional chapéu e um paramento.
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Um estudioso apegado às crianças
Nascido em 1919, na Fazenda Campo Alto, zona rural de Araras, padre João fazia parte de uma numerosa família de imigrantes italianos.
Segundo o livro Eles & Elas, da professora Mara Figueiredo, o pequeno João freqüentou desde criança as atividades do Oratório São Luiz. Aos 11 anos ingressou no Seminário, na cidade de Lavrinhas, onde concluiu a educação básica. Foi em seguida para São Paulo, onde na Faculdade São Bento graduou-se em matemática. Lecionou 40 anos as disciplinas de química e física no Colégio São Bento, atuando também como professor em Lorena/SP e Niterói/RJ. Paralelamente o jovem estudava teologia.
O ararense foi ordenado padre em 8 de dezembro de 1947. Lecionou filosofia em Lorena, onde ficou até 1951. Nesse ano, o padre João foi destacado pela congregação salesiana para servir em Roma (Itália), por 4 anos, onde concluiu mestrado e doutorado em psicologia, com láurea (“Magna cum laude”), pela Pontifícia Universidade Salesiana.
Foi bem mais tarde, porém, em outras visitas à Itália, que padre João realizou o sonho de conhecer o Papa. Em julho de 1993, segundo o livro da professora Mara, ele encontrou-se com João Paulo II. “Foi muito gratificante”, resume ele no livro.
LEMA: “FAZER AOS
OUTROS O QUE GOSTARIA
QUE ME FIZESSEM”
Padre João atuou em Piracicaba, onde dirigiu o Colégio Dom Bosco. De volta a Araras, aposentou-se em 1985, quando deixou de lecionar.
Na cidade natal, dedicou-se especialmente aos trabalhos com as crianças, no Oratório São Luiz e, mais tarde, no Centro Juvenil Salesiano José Estevam Zurita, construído no Jardim Cândida.
O religioso publicou vários livros sobre biologia educacional e religião. A obra revertia-se em doações para as obras salesianas. Devoto de Nossa Senhora Auxiliadora, padre João tinha como lema “fazer aos outros o que gostaria que me fizessem”.
No ano passado, por sugestão do então vereador Douglas Edson da Rocha, padre Modesti recebeu a Medalha Martinico Prado, oferecida pela Câmara Municipal. A medalha, aliás, foi colocada sobre seu caixão durante o velório realizado no interior do Santuário do Sagrado Coração de Jesus.
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Repercussão
“Nós perdemos um grande homem, que trabalhou muito pela educação, pelas crianças e pelos jovens de Araras. Por outro lado, ganhamos uma alma no céu, que estará intercedendo junto a Deus principalmente no trabalho salesiano, com o carisma que o padre João Modesti sempre teve”.
Padre Benedito Tadeu Rosa
Paróquia de Nossa Senhora de Fátima.
“O padre João Modesti foi uma pessoa que nos marcou muito pela amizade, pela competência e sabedoria. Era uma pessoa de um conhecimento muito grande e muito aberto ao diálogo. Ele enriqueceu ainda mais essa comunidade”.
Padre Tarcísio dos Santos
Diretor do Santuário do Sagrado Coração de Jesus,
Oratório São Luiz e Oratório Dom Bosco.
“O padre João Modesti vai nos deixar lembrança por sua inteligência e capacidade de entender o mundo. Ele estudou até à beira da morte. A lembrança que vou guardar é a de que ele era um homem muito direto naquilo que tinha que falar”.
Douglas Edson da Rocha
Ex-vereador e amigo.
“Ele tinha muita força e garra para construir, tanto materialmente quanto espiritualmente. Ele deixou um exemplo de pontualidade, honestidade, firmeza, fé e retidão”.
Josefina Brusco (Fininha)
Sobrinha.
“O padre João era uma figura querida e, com ele, morre uma época de padres. Ele era verdadeiramente um homem de Deus”.
Padre Vladimir Barbosa Hergert
Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio.
Fonte: TRIBUNA DO POVO,Cidade, Araras (SP), Terça-feira, 24 de Maio de 2005, Página 8.
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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”
LUIZ ROBERTO TURATTI.
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