Na China, ainda menino, José Song Sui Wan, hoje bispo e missionário na Amazônia, recebeu o chamado de Deus. Sua vocação surgiu na família, no exemplo dos pais que, com os cinco filhos, saíram de Xangai após a implantação do regime comunista chinês em busca de liberdade religiosa em Hong Kong. Foi reforçada na escola, com os jesuítas e os salesianos daquele país.
Em 1959, nova mudança da família, desta vez para o Brasil. José Song continua em São Paulo o aspirantado, que havia iniciado em Hong Kong. Nesse período, durante as férias ia para as missões salesianas na Amazônia e ali, em São Gabriel da Cachoeira, AM, teve o primeiro contato com as populações indígenas.
Foi ordenado sacerdote em 1971 e levou o carisma salesiano pelos lugares por onde passou, despertando a alegria e a esperança através dos sons alegres de sua escaleta, das mágicas e das histórias sempre presentes nas suas homilias.
Em 2002 foi ordenado bispo, com o lema “Vimos a estrela no Oriente”, indicando a origem da vocação do missionário que veio de longe para levar a todos o amor de Deus.
De Araras, SP, o novo bispo parte para assumir a Diocese de São Gabriel da Cachoeira, cuja extensão territorial de 294.506 Km2 supera o Estado de São Paulo. A população é constituída em 95% por indígenas, divididos em 22 etnias diferentes. “É a diocese mais indígena do Brasil e eu procuro conhecê-la”, afirma dom Song.
Ao percorrer a diocese, dom Song utiliza um barco com motor de popa chamado “voadeira”. Para o lugar mais próximo, cinco horas de viagem. Já visitou mais de sete mil famílias, conhecendo, conversando, dando bênçãos, levando a alegria salesiana. Dom Song descreve como é o seu trabalho na Amazônia: “Para quebrar o gelo, costumo tocar algum instrumento musical ou fazer uma mágica. Como salesiano, aprendi que é uma maneira simples e eficiente de conquistar a amizade das pessoas. O povo em geral tem medo do bispo, tem um ‘respeito’; que afasta e eu procuro superar isso e me aproximar”.
Segundo dom Song, as necessidades da região são mais materiais. Há muita fome, miséria, desemprego, falta de acesso a recursos de saúde pública e um sistema de transporte precário. Na parte espiritual, o desafio está em atender a juventude, levando-a a superar o problema do alcoolismo e das drogas, muito freqüente entre os indígenas.
“Faltam missionários, temos apenas 18 padres trabalhando na diocese. Mas trabalhamos com muita alegria, otimismo e entusiasmo. E há também a esperança que nós cultivamos dia a dia”, ressalta dom Song, que pede à Família Salesiana que reforce as orações pelos missionários na Amazônia.
Rosana Maria Caruso de Carvalho, ex-aluna salesiana em Cruzeiro (SP).