WASHINGTON, D.C., quarta-feira, 16 de abril de 2008
ZENIT.org
Publicamos o discurso que o presidente dos Estados Unidos, George Bush, pronunciou esta manhã ao dar boas-vindas a Bento XVI na Casa Branca.
Santo Padre, Laura e eu somos privilegiados por tê-lo aqui na Casa Branca. Damos-lhe as boas-vindas com as palavras de Santo Agostinho: “Pax Tecum”. Que a Paz esteja com você.
O senhor escolheu visitar a América em seu aniversário. Aniversários são tradicionalmente vividos com amigos próximos, então toda nossa nação está movida e honrada por ter decidido partilhar este dia especial conosco. Desejamos-lhe muita saúde e felicidade – hoje e por muitos anos que virão.
Esta é sua primeira viagem aos Estados Unidos desde que chegou à Cátedra de São Pedro. O senhor visitará duas de nossas maiores cidades e encontrará incontáveis americanos, inclusive muitos que viajaram do outro lado do país para vê-lo e partilhar na alegria desta visita. Aqui, na América, o senhor encontrará uma nação de orantes. Cada dia milhões de nossos cidadãos se aproximam de nosso Criador de joelhos, buscando Sua graça e agradecendo pelas muitas bênçãos que Ele nos concede. Milhões de norte-americanos rezaram por sua visita, e milhões buscam orar com o senhor esta semana.
Aqui na América o senhor encontrará uma nação de compaixão. Os americanos acreditam que a medida de uma sociedade livre é como tratamos os mais fracos e mais vulneráveis entre nós. Então, a cada dia, os cidadãos de toda a América respondem ao chamado universal de alimentar a fome e confortar o doente e cuidar do enfermo. A cada dia, por todo o mundo, os Estados Unidos estão trabalhando para erradicar as doenças, aliviar a pobreza, promover a paz e trazer a luz da esperança aos lugares ainda entregues à escuridão da tirania e do desconsolo.
Aqui na América o senhor encontrará uma nação que dá as boas-vindas ao papel da fé na praça pública. Quando nossos Fundadores declararam a independência de nossa nação, eles lançaram sua causa no apelo às “leis da natureza, e do Deus da natureza”. Acreditamos na liberdade religiosa. Acreditamos também que um amor pela liberdade e uma lei moral comum são escritas em cada coração humano, e que estes constituem a firme fundação na qual cada sociedade livre bem sucedida deve ser construída.
Aqui na América, o senhor encontrará uma nação que é profundamente moderna e ainda guiada pelas verdades eternas e ancestrais. Os Estados Unidos são o país mais inovador, criativo e dinâmico da terra – está também entre os mais religiosos. Em nossa nação, a fé e a razão coexistem em harmonia. Esta é uma das maiores forças de nosso país, e uma das razões que nossa terra mantenha a esperança e a oportunidade para milhões de pessoas por todo o mundo.
Acima de tudo, Santo Padre, o senhor encontrará na América pessoas cujos corações estão abertos para sua mensagem de esperança. E a América e o mundo precisa desta mensagem. Em um mundo onde alguns invocam o nome de Deus para justificar atos de terror, assassinatos e ódio, precisamos de sua mensagem que “Deus é amor”. E abraçar este amor é o caminho mais certo para salvar os homens do “decadente ensinamento de fanatismo e terrorismo”.
Em um mundo onde alguns tratam a vida como alguma coisa a ser descartada, precisamos da sua mensagem de que toda vida humana é sagrada, e que “cada um de nós é querido, cada um de nós é amado e cada um de nós é necessário”.
Em um mundo onde alguns não mais acreditam que podemos distinguir entre o certo e o errado, precisamos de sua mensagem para rejeitar este “ditatorialismo do relativismo”, e abraçar uma cultura de justiça e verdade.
Em um mundo onde alguns vêem a liberdade como simplesmente o direito de fazer como eles desejam, precisamos de sua mensagem de que a verdadeira liberdade requer que vivamos nossa liberdade não apenas para nós mesmos, mas “em um espírito de apoio mútuo”.
Santo Padre, obrigado por fazer esta viagem para a América. Nossa nação lhe dá boas-vindas. Apreciamos o exemplo que estabeleceu para o mundo, e pedimos que sempre nos mantenha em suas orações.
[Traduzido do inglês por Élison Santos]
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Discurso de Bento XVI a George Busch na Casa Branca
«A religião e a moralidade representam um indispensável suporte para a prosperidade política»
WASHINGTON, quarta-feira, 16 de abril de 2008
ZENIT.org
Publicamos o discurso que Bento XVI dirigiu ao presidente George W. Bush, na manhã de hoje, durante a cerimônia de boas-vindas na Casa Branca, em Washington.
Senhor Presidente:
Obrigado por suas cordiais palavras de boas-vindas em nome do povo dos Estados Unidos da América. Agradeço profundamente seu convite para visitar este grande país. Minha visita coincide com um momento importante na vida da comunidade católica na América: a celebração do aniversário de 200 anos da elevação da primeira diocese do país – Baltimore – a uma arquidiocese metropolitana, e o estabelecimento das sedes de Nova York, Boston, Filadélfia e Louisville. Estou ainda feliz de estar aqui como um hóspede de todos os americanos. Venho como amigo, um pregador do Evangelho, e com grande respeito por esta sociedade de vasta pluralidade. Os católicos da América ofereceram, e continuam oferecendo, uma excelente contribuição para a vida de seu país. Ao começar minha visita, acredito que minha presença será uma fonte de renovação e de esperança para a Igreja nos Estados Unidos, e fortalecerá os católicos na contribuição ainda mais responsável para a vida desta nação, da qual eles são orgulhosos de fazer parte.
Desde o amanhecer da República, a busca da América pela liberdade foi guiada pela convicção de que os princípios que governam a vida política e social estão intimamente ligados à ordem moral baseada no domínio de Deus, o Criador. As marcas dos documentos de fundação desta nação foram feitas sobre esta convicção, quando proclamaram o «self-evident truth», segundo o qual todo homem é criado de forma igual e com direitos inalienáveis, fundamentados nas leis da natureza e do Deus da natureza. O curso da história da América demonstra as dificuldades, os problemas e a grande resolução moral e intelectual que foram demandadas para formar uma sociedade que fielmente incorporou estes nobres princípios. Neste processo, que guia a alma desta nação, as crenças religiosas foram uma constante inspiração e força de direção, como, por exemplo, na luta contra a escravidão e o movimento pelos direitos civis. Em nossos tempos também, particularmente em momentos de crises, os americanos continuam encontrando sua força em um compromisso com este patrimônio de ideais de partilha e aspirações.
Nos próximos dias, espero encontrar-me não apenas com a comunidade católica americana, mas com outras comunidades cristãs e representantes das muitas tradições religiosas presentes neste país. Historicamente, não apenas os católicos, mas todos os crentes fundaram aqui a liberdade de louvar a Deus de acordo com suas consciências, enquanto ao mesmo tempo de ser aceitos como parte da riqueza comum na qual cada indivíduo e grupo pode fazer que sua voz seja ouvida. Enquanto a nação encara os complexos aspectos políticos e éticos de nossos tempos, estou certo de que o povo americano encontrará em suas crenças religiosas uma fonte preciosa de encontro consigo mesmos e uma inspiração para buscar racional, responsável e respeitosamente o diálogo, no esforço para construir uma sociedade mais livre e mais humana.
A liberdade não é apenas um dom, mas também uma adição à responsabilidade pessoal. Os americanos sabem disso por experiência – quase toda cidade neste país tem seus monumentos honrando aqueles que sacrificaram suas vidas em defesa da liberdade, ambos em casa e no exterior. A preservação da liberdade é um chamado pelo cultivo da virtude, da autodisciplina, do sacrifício pelo bem comum e de um senso de responsabilidade para com os menos afortunados. Isso também demanda coragem para se engajar na vida cívica e trazer as mais profundas crenças e valores para direcionar o debate público. Em uma palavra, a liberdade é sempre nova. É um desafio dirigir-se a cada geração, e isso deve ser conseguido constantemente pela causa do bem (cf. Spe Salvi, 24). Poucos entenderam isso tão claramente como o Papa João Paulo II. Refletindo sobre a vitória espiritual da liberdade sobre o totalitarismo em sua Polônia e na Europa oriental, ele nos lembra que a história mostra, de tempos em tempos, que «em um mundo sem verdade, a liberdade perde seu fundamento», e uma democracia sem valores podem perder sua alma (cf. Centesimus Annus, 46). Estas palavras proféticas em algum sentido ecoam a convicção do presidente Washington, expressas em sua Farewell Address, que a religião e a moralidade representam um «indispensável suporte» para a prosperidade política.
A Igreja, por sua parte, espera contribuir para a construção de um mundo ainda mais justo da pessoa humana, criada segundo a imagem e bondade de Deus (cf. Gên 1, 26-27). Ela está convencida de que a fé coloca uma nova luz em todas as coisas, e que o Evangelho revela a vocação nobre e o destino sublime de todo homem e mulher (cf. Gaudium et Spes, 10). A fé também nos dá a força para responder a nosso alto chamado, e a esperança que nos inspira a trabalhar para uma sociedade ainda mais justa e fraterna. A democracia pode somente florear, como seus pais fundadores perceberam, quando os líderes políticos e aqueles a quem representam são guiados pela verdade e trazem a sabedoria nascida de um princípio moral firme para as decisões que afetam a vida e o futuro da nação.
Por mais de um século, os Estados Unidos desempenharam um importante papel na comunidade internacional. Na sexta-feira, de Deus quiser, terei a honra de falar às Nações Unidas, onde espero encorajar os esforços para fazer desta instituição uma voz ainda mais efetiva para legitimar as aspirações de todos os povos do mundo. No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a necessidade pela solidariedade global é urgente como nunca, se queremos que todas as pessoas vivam de acordo com a sua dignidade – como irmãos e irmãs vivendo na mesma casa e ao redor dessa mesa que a providência de Deus estabeleceu para todos os seus filhos. A América tem se mostrado tradicionalmente generosa ao sair ao encontro das necessidades humanas imediatas, provendo o desenvolvimento e oferecendo alento às vítimas de catástrofes naturais. Estou certo de que esta preocupação pela família humana continuará encontrando expressão no suporte pelo esforço paciente da diplomacia internacional para resolver os conflitos e promover o progresso. Desta forma, as gerações futuras serão capazes de viver em um mundo onde a verdade, a liberdade e a justiça podem florescer – um mundo onde a dignidade e os direitos de cada homem, mulher e crianças, garantidos por Deus, estão protegidos e efetivamente avançados.
Senhor presidente, queridos amigos: enquanto inicio minha visita aos Estados Unidos, expresso mais uma vez minha gratidão por seu convite, minha alegria de estar em seu meio e minhas orações fervorosas para que o Deus todo-poderoso confirme esta nação e seu povo nos caminhos da justiça, da prosperidade e da paz. Deus abençoe a América!