Caminhar no vale da morte.
Deserto sem fim, sem rumo, sem norte.
Perdido na noite escura, vaga um corpo
cansado, estressado,
não por não saber o que fazer, mas por ser
incapaz de se conter.
Sabe que é preciso se entregar à corrente,
deixar-se por ela levar docemente.
Calar por dentro e por fora, esperar a
tempestade passar, ir embora.
Parece fácil deixar que a paz, a calma e a
brandura assumam o controle na criatura.
A humanidade há milênios move-se noutra
verdade. Viver é ir à guerra: ferir, matar,
passar por cima dos cadáveres para se salvar.
O herói é um guerreiro destemido, um bandido
ferido, que das cicatrizes tirou forças e lições
para enfrentar os dragões. Na guerra aprendeu
a não ter medo nem dó. É fera adestrada pronta
a matar quem na sua frente se atrever a ficar.
Esta é a verdade que move a humanidade.
Praticar serenidade, calma e brandura parece
algo que vai contra a essência da criatura.
Isto até seria realidade se fôssemos feras
de verdade.
É consenso entre as culturas, e cada um
percebe bem que somos humanos também.
O inconsciente está aí a gritar que o homem
precisa mudar. Ouvir a voz da consciência,
olhar para dentro de si. Redescobrir que a
a humana criatura é paz, é calma, é brandura.