Então ouviu sem entender:
"Uma multidão de nações procederá de ti, e serás príncipe delas para sempre”.
E cinco mil anos depois foi que o peso dos anos fez com que Adão entendesse as palavras. Então, curvado pela velhice, juntou um resto de forças e ergueu-se no meio da multidão, clamando do mais fundo do seu coração:
"Ai de mim o filho da Terra!
Ai de mim, que sou nascido de uma mulher cansada de se lamentar, por causa da maldade dos seus filhos!
Quem sou eu agora, senão o príncipe de multidões de nações da Terra, às quais está destinada a destruição?...
E não sou eu que formado do pó, jamais me desapeguei dele um instante sequer?
E não serei eternamente como todos os que voltam sempre às suas origens?
Quem dera fosse eu formado pelo vento, e recebesse o colorido do infinito em minha pele, e as suas asas em meu coração!
Ai de mim, que curvado, não posso elevar o meu olhar ao Sol!
Os meus dias passam arrastados, mas perpetuo sem ser eterno!
E passou-me a glória, porque dei ouvidos à mulher que ouvira os pensamentos dos que se arrastam ao chão!
E agora, que posso esperar, senão habitar o jardim do caos, destinado a mim e a todos os que são meus filhos?
Ai de mim que grito, e os meus gritos são de terríveis indagações que, para as quais, não há respostas vindas do alto. Pois um homem apegado à Terra, não ouve respostas do Céu, ainda que com todas as forças tente apurar os ouvidos do coração... E esse silêncio, é o tormento, e a condenação para sempre...
Ai de mim, que tendo boca, não falo...
... e tendo ouvidos, não ouço!...
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