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Textos_Religiosos-->Celibato, sacerdócio feminino e comunhão eclesial -- 17/02/2009 - 22:55 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Este artigo visa chamar a atenção daqueles que buscam novas posturas na Igreja Católica em matérias altamente polêmicas: que lutem sem perder de vista a busca de um máximo de consenso.

Prof. Dr. Valmor Bolan

CELIBATO, SACERDÓCIO FEMININO E COMUNHÃO ECLESIAL

110 leigos católicos da pequena cidade catarinense de Luzerna (com pouco mais de cinco mil habitantes) repetiram um ato que lembra muito a publicação das 95 teses de Lutero na porta da Universidade de Wittenberg, no século XVI, abalando a estrutura da Igreja, chegando ao ponto do cisma mais doloroso na história do catolicismo. Isso porque os leigos de Luzerna resolveram expressar suas críticas contra regras históricas da Igreja, pela mesma metodologia adotada pelos primeiros protestantes: da insubordinação e do escândalo.

Primeiramente, reuniram-se durante dois meses numa paróquia de Luzerna, com apoio do pároco local, mas na clandestinidade, isto é, sem o conhecimento do Bispo. Começa por aí a atitude de rebeldia do movimento. Em vez de buscar o diálogo construtivo, junto às autoridades eclesiásticas, para buscar uma reflexão amadurecida, até chegar ao Papa; o grupo de Luzerna resolveu ir pelo caminho mais fácil, o da insurgência, que leva ao escândalo, dois métodos reprováveis por todos aqueles que conhecem o modo de agir da Igreja, sinal do Reino de Deus entre nós. Há uma passagem do Novo Testamento que faz uma clara recomendação ao cristão, solicitando “evitar o escândalo”. Mas foi esse o caminho escolhido pelos insurgentes de Luzerna.

Afinal, o que querem os revoltosos? Pleiteiam basicamente três mudanças: 1) o fim do celibato clerical, 2) a aprovação do sacerdócio feminino e 3) a autorização para os casados em segunda união de poderem comungar.

Questões complexas como essas já são objeto de análise e reflexão dos Bispos e cardeais há muito tempo. A própria Igreja reconhece que tais medidas não são dogmas, mas normas disciplinares. Recentemente o próprio Cardeal Dom Cláudio Hummes, em declaração à Imprensa, chegou a dizer que é possível a Igreja rever essas normas disciplinares, mas não da forma como propõe o grupo de Luzerna.

O celibato foi imposto aos sacerdotes católicos no século XI, por vários fatores, não apenas econômico, mas também por razões profundamente espirituais. A sabedoria da Igreja, “perita em humanidade”, como no dizer do Papa Paulo VI, tem mantido essa norma disciplinar, por considerar que seja mais acertado, justamente em razão da própria experiência histórica de quase mil anos em que os padres podiam se casar. Esse tema, como os demais, se um dia chegar a algum impasse grave, certamente será resolvido num Concílio, pois o próprio Papa sabe que não se pode “engessar o espírito Santo”. Mas isso não quer dizer, de maneira alguma, que a Igreja deva aceitar facilmente os apelos do mundo, isto é, moldar-se ao que o mundo quer que ela seja, sendo que ela tem como referência, Jesus Cristo, sua cabeça e centro. Tanto o celibato, quanto o sacerdócio feminino e a autorização da comunhão aos casados de segunda união, não são decisões que a Igreja tomará sob o impacto dos imediatismos, muito menos coagida por um grupo de católicos dissidentes, que luteranizados, abrem mão da intermediação do Bispo, para, eles mesmos, irem direto ao Papa resolverem questões que só podem ser decididas via Concílio.

Esperamos do Papa Bento XVI que promova o diálogo primeiramente com o Bispo da Diocese a que pertence a paróquia de Luzerna, e busque com que o Bispo local seja ponte para o entendimento, que se chegue ao entendimento com o empenho ao diálogo necessário, pois só assim todos saíram ganhando. Oramos e pedimos a Deus que o Espírito Santo, pelo dom do discernimento, permita que o caminho da concórdia seja possível ser trilhado por todos, para o bem de todos os que amam a verdadeira paz. E fiquemos abertos para eventuais mudanças sôbre aquelas questões a partir de uma ampla discussão conciliar. Não estaria na hora do Vaticano III?


(*) VALMOR BOLAN - Doutor em Sociologia
Reitor do UNIBERO/ANHANGUERA EDUCACIONAL
reitor@unibero.edu.br


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