Papa advoga por Estado palestino e “paz justa e duradoura”
Bento XVI abraça a atormentada Gaza
Santa Sé instituirá Comissão Bilateral com palestinos
Bento XVI visita hospital infantil em Belém
Papa vê em Belém uma estrela de esperança
Papa abençoa primeira pedra de centro para peregrinos em Magdala
Bento XVI caminha na corda bamba entre israelitas e palestinos
MUNDO
Mensagem do Santo Rosário permanece, diz cardeal
DOCUMENTAÇÃO
Discurso do Papa de boas-vindas aos Territórios Palestinos
Homilia de Bento XVI na Praça da Manjedoura
Discurso de Bento XVI no Campo de Refugiados de Aida
Discurso do Papa à Autoridade Palestina em sua despedida
Papa advoga por Estado palestino e “paz justa e duradoura”
Na cerimônia de boas-vindas aos Territórios Palestinos
BELÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Ao chegar nesta quarta-feira aos Territórios Palestinos, Bento XVI advogou por um Estado local soberano e uma “paz justa e duradoura”.
Na cerimônia de boas-vindas promovida pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, Bento XVI afirmou que implora “ardentemente ao Todo Poderoso pela paz, uma paz justa e duradoura, nos Territórios Palestinos e em toda região”.
“A Santa Sé apoia o direito do seu povo a uma soberana pátria palestina na terra de vossos antepassados, segura e na paz com seus vizinhos, dentro de fronteiras reconhecidas internacionalmente”, afirmou o Papa.
Bento XVI reconheceu que, “se atualmente este objetivo parece longe de se alcançar”, contudo não se deve perder a esperança “em que se possa achar uma via de encontro entre as legítimas aspirações, tanto dos israelenses como dos palestinos, para a paz e a estabilidade”.
“Imploro a todas as partes implicadas neste longo conflito que deixem de lado todo rancor e divisão que possam ainda existir no caminho da reconciliação e cheguem a todos por igual, com generosidade e compaixão e sem discriminação.”
“Uma coexistência pacífica entre os povos do Oriente Médio só se pode alcançar com um espírito de cooperação e respeito mútuo, no qual todos os direitos e a dignidade de todos sejam reconhecidos e respeitados”, afirmou o Papa.
Bento XVI manifestou também sua esperança em que os problemas de segurança em Israel e nos Territórios Palestinos sejam resolvidos logo, “para permitir uma maior liberdade de movimento, especialmente referente aos contatos entre familiares e ao acesso aos lugares santos”.
Gaza
Ao tocar na questão da recente guerra em Gaza, o Papa desejou que, com a “ajuda da comunidade internacional, o trabalho de reconstrução possa-se realizar rapidamente ali onde casas, escolas ou hospitais foram danificados ou destruídos”.
“Isso é essencial para que a população desta terra possa viver em condições que favoreçam a paz duradoura e a prosperidade.”
Segundo Bento XVI, uma infra-estrutura “estável oferecerá a vossos jovens melhores oportunidades para adquirir valiosas especialidades e obter empregos”. Isso “os habilitará para oferecer sua contribuição na construção da vida de vossas comunidades”.
O Papa fez um apelo aos jovens locais: “não permitam que a perda de vidas humanas e a destruição de que foram testemunhas despertem ressentimento ou amargura em seus corações”.
“Tenham coragem de resistir a qualquer tentação que sintam de recorrer aos atos de violência ou de terrorismo. Pelo contrário, deixem-se preencher pelo profundo desejo de oferecer uma contribuição duradoura ao futuro da Palestina, para que possa ocupar o lugar que lhe corresponde no cenário mundial.”
“Deixem-se inspirar por sentimentos de compaixão para com todos os que sofrem, pelo zelo pela reconciliação e por uma firme confiança na possibilidade de um futuro mais luminoso”, afirmou o pontífice.
BELÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- No dia dedicado aos Territórios Palestinos em sua peregrinação à Terra Santa, Bento XVI manifestou nesta quarta-feira sua proximidade à cidade de Gaza, empoeirada pelas ruínas do recente conflito que terminou no dia 18 de janeiro com um balanço de mais de 1.300 mortos.
Suas palavras de solidariedade ressoaram particularmente durante a Missa celebrada em Belém, na Praça do Presépio, junto à Basílica da Natividade, coberta pelo rio humano conformado por cerca de 10 mil pessoas, que transbordou nas ruas laterais.
“De uma forma especial, meu coração se dirige aos peregrinos da martirizada Gaza”, disse o Papa, dirigindo-se ao grupo de católicos procedentes da faixa controlada desde 2007 pelos extremistas islâmicos do Hamas.
Dos 93 católicos de Gaza que haviam enviado às autoridades palestinas a petição para receber a autorização para ir a Belém, só 48, após meses de espera, incertezas e protestos, conseguiram chegar à cidade cisjordaniana. Os demais tiveram de parar no posto de controle de Eretz, e de lá foram obrigados a voltar.
“Peço-lhes que levem para suas famílias e comunidades meu abraço fraterno e minha tristeza pelas perdas, pela dificuldade e pelo sofrimento que vocês tiveram de suportar”, disse, dirigindo-se ao 1,5 milhão e meio de pessoas que moram na Faixa de Gaza, onde a comunidade local conta com cerca de 300 fiéis.
"Estejam certos de minha solidariedade para com vocês no imenso trabalho de reconstrução que agora levam adiante, e minhas orações para que o embargo seja logo suspenso", acrescentou, referindo-se ao bloqueio imposto a Gaza por Israel desde que o Hamas tomou o poder na Faixa, eliminando os opositores de Al Fatah, ligado ao presidente Mahmud Abas.
Antes, na cerimônia de boas-vindas aos Territórios Palestinos, realizada na praça do palácio presidencial de Belém, o Papa denunciou "os graves problemas que afetam a segurança em Israel e nos Territórios Palestinos", exigindo que sejam "logo suficientemente mitigados para permitir uma maior liberdade de movimento, especialmente com relação aos contatos entre familiares e ao acesso aos lugares santos".
Além disso, Bento XVI fez um convite à comunidade internacional para que se empreendam rapidamente as obras de reconstrução.
Santa Sé instituirá Comissão Bilateral com palestinos
Revela Bento XVI ao despedir-se de Mahmoud Abbas
BELÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI anunciou nesta quarta-feira em Belém que a Santa Sé instituirá uma Comissão Bilateral com a Autoridade Nacional Palestina.
Ele revelou durante a cerimônia de despedida do presidente Mahmoud Abbas, que aconteceu nesta tarde no palácio presidencial.
“A Santa Sé deseja estabelecer em breve, em acordo com a Autoridade Palestina, a Comissão Bilateral de Trabalho Permanente que foi delineada no acordo de base firmado no Vaticano em 15 de fevereiro de 2000”, entre a Santa Sé e a Organização para a Libertação da Palestina.
A visita ao campo de refugiados de Aida, ao norte de Belém, que acolhe 5 mil palestinos, muçulmanos e cristãos, situado junto ao muro de separação construído por Israel, fez que o Papa cobrasse uma consciência ainda maior da necessidade de favorecer uma paz justa e duradoura.
Por isso, disse em seu discurso: “continuarei a aproveitar toda oportunidade para urgir aos envolvidos nas negociações de paz para trabalhar por uma solução justa que respeite as aspirações legítimas de israelenses e palestinos”.
O pontífice confessou que experimentou “uma profunda emoção” em sua visita aos Territórios Palestinos, ao escutar os testemunhos dos residentes que falaram das condições de vida na Cisjordânia e em Gaza.
“Asseguro a todos vós que vos levo em meu coração e que anseio ver a paz e a reconciliação nestas terras atormentadas”, afirmou em seu discurso de despedida do presidente.
Para o Papa, que celebrou a missa ao ar livre, na praça do Presépio de Belém, esta quarta-feira “foi verdadeiramente um dia memorável”, como afirmou em seu discurso de despedida do presidente.
“Não importa o quanto um conflito pareça intransponível ou profundamente estabelecido, sempre há terrenos para esperança de que pode ser resolvido, que a paciência e os esforços perseverantes daqueles que trabalham pela paz e a reconciliação darão frutos no final”.
Antes da cerimônia, o Papa havia se reunido em particular com o presidente Mahmoud Abbas, como já havia feito na segunda-feira passada com o presidente Shimon Peres, em Israel.
Foi o terceiro encontro entre o Papa e o presidente palestino, depois dos que mantiveram em 3 de dezembro de 2005 e em 24 de abril de 2007.
BELÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI visitou na tarde desta quarta-feira o Caritas Baby Hospital, em Belém, entidade que “tem oferecido um serviço inestimável às crianças de Belém e de toda a Palestina durante 50 anos”, sendo o único hospital pediátrico de toda a região.
Após saudar os administradores e colaboradores do hospital, Bento XVI dirigiu-se aos pequenos pacientes: “o Papa está com vocês! Hoje ele está com vocês em pessoa, mas acompanha espiritualmente cada um todos os dias em seus pensamentos e orações, pedindo ao Onipotente que os assista com seu cuidado gentil”.
“O padre Schnydrig descreveu este lugar como ‘uma das menores pontes construídas para a paz’. Agora, tendo crescido de 14 leitos para 80, e cuidando das necessidades de milhares de crianças a cada ano, esta ponte não é mais pequena! Ela traz consigo pessoas de diferentes origens, línguas e religiões, no nome do Reino de Deus, do Reino da Paz”, afirmou o Papa.
“De coração eu lhes encorajo a perseverar em sua missão de mostrar a caridade para todos os doentes, os pobres e os frágeis”.
Ao final de sua visita, o Papa aproveitou a oportunidade para pedir à Virgem Maria, neste dia em que se celebra a festa de Nossa Senhora de Fátima, que “ouça suas crianças enquanto clamamos por seu nome".
"Vós prometestes às três crianças de Fátima que ‘no fim, meu Imaculado Coração triunfará’. Que assim seja então! Que o amor triunfe sobre o ódio, a solidariedade sobre a divisão, e a paz sobre toda forma de violência!”
Reflexão do Pe. Caesar Atuire sobre suas palavras e gestos
Por Mercedes de la Torre
BELÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- A visita de Bento XVI a Belém teve um objetivo principal: dar esperança à sua população, afirma o Pe. Caesar Atuire, administrador delegado da Obra Romana para as Peregrinações, instituição dependente da Santa Sé.
O sacerdote constata que a cidade em que Jesus nasceu “viveu este dia como se fosse o dia de Natal” e, de fato, na Missa que o Papa celebrou na Praça do Presépio, ouviram-se cânticos natalinos.
“Ao ver as pessoas que estão por aqui, ao escutar seus cantos, percebemos que hoje o Papa trouxe à terra uma mensagem de paz, uma mensagem de alegria, para animar este povo que vive com tantas contradições”, explica o sacerdote, que promove peregrinações do mundo inteiro a esta terra.
“O Papa recordou o que o Evangelho de São Lucas diz, isto é, que Jesus seria um sinal de contradição. Também hoje, a realidade de Belém é um sinal de contradição, mas não pode ser sinal de contradição sem esperança. Portanto, o que o Papa disse hoje é que a mensagem de Jesus pode ser uma esperança para a paz e para o futuro deste povo”, esclarece.
O Pe. Atuire, que acompanha o Bispo de Roma em seu périplo pela Terra Santa, sentiu-se particularmente tocado pelas palavras que o Papa dirigiu a todas as pessoas que sofreram os últimos bombardeios em Gaza.
“O Santo Padre ofereceu sua solidariedade a todas as pessoas que foram vítimas deste conflito e, por isso, depois da Missa, o Papa parou para cumprimentar uma delegação que veio de Gaza para participar desta Celebração Eucarística.”
Neste contexto, além disso, o sacerdote enquadra a visita papal desta tarde ao campo de refugiados Aida, de Belém.
“Os campos de refugiados são uma lembrança do sofrimento desse povo, gente que, por causa do conflito entre judeus e muçulmanos, foi levada a viver em campos de refugiados sem nenhuma esperança e sem terra, porque realmente um povo sem terra é um povo deserdado”, continua dizendo.
“Ao visitar este povo,o Papa está transmitindo uma mensagem de esperança”, uma esperança – esclarece – que também passa pelo reconhecimento dos justos direitos do povo palestino.
Por este motivo, ao ser recebido pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, o Papa pediu que se trabalhe “para chegar à solução de dois Estados e duas nações”, Israel e Palestina.
Dessa forma, assegura Atuire, “o povo da Palestina poderá alcançar essa soberania que é necessária para poder levar a cabo projetos de desenvolvimento, justiça e paz para todo o povo deste território”.
Papa abençoa primeira pedra de centro para peregrinos em Magdala
Está sendo construído pelos Legionários de Cristo
JERUSALÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI abençoou em Jerusalém a primeira pedra do Centro Magdala, que será construído às margens do Mar da Galileia, a 6km de Cafarnaum e do Monte das Bem-Aventuranças.
A singela e emotiva cerimônia aconteceu nesta terça-feira à tarde, ao finalizar sua visita ao Instituto Notre Dame de Jerusalém, que há 4 anos foi confiado pela Santa Sé à gestão da Legião de Cristo.
“O Centro Magdala procura responder às necessidades dos peregrinos cristãos que visitam a Terra Santa, em concreto a região da Galileia, e que precisam de hospedagem, assim como de espaços de oração, informação e aprendizagem cultural, de tal forma que possam compenetrar-se nesses lugares santos com um enfoque mais profundo da vida de Jesus, mais de acordo com os Evangelhos”, explica a Legião de Cristo em seu site.
O Centro Magdala “se une à ingente tarefa que os frades franciscanos vêm realizando na atenção aos peregrinos”, explica a congregação religiosa.
Estima-se que os lugares santos recebam anualmente 2,5 milhões de peregrinos, dos quais 70% visitam a região da Galileia.
Ao finalizar a bênção, o Pe. Juan Solana, L.C., diretor do Instituto Pontifício Notre Dame de Jerusalém, explicou ao Santo Padre os alcances do projeto e lhe mostrou uma apresentação multimídia do centro.
Na cerimônia, estiveram presentes o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado da Santa Sé; o patriarca de Jerusalém, Sua Beatitude Fouad Twal; onúncio em Israel, Dom Antonio Franco; e também o Pe. Álvaro Corcuera, L.C. e o Pe. Luis Garza Medina, L.C., diretor geral e vigário geral dos Legionários de Cristo, respectivamente.
O Centro Magdala contempla um hotel para hospedar 300 pessoas, um centro que facilitará aos peregrinos transportar-se em imagens à época de Jesus e experimentar, através de diversas tecnologias multimídia, a força e vitalidade da sua mensagem de salvação para todos os homens.
No terreno também se contempla a construção da basílica de Maria Madalena e um centro dedicado aos estudos sobre a mulher, de acordo com a dignidade que Cristo lhe conferiu e ao seu papel na família e na sociedade.
A primeira pedra abençoada pelo Papa tinha esculpida uma figura que representa a barca de Pedro, com a frase evangélica “Duc in altum” (”Rema mar adentro”).
Ao concluir sua visita o Santo Padre entregou ao Pe. Juan Solana, L.C., um tabernáculo que tem na porta um relevo com a imagem do Bom Pastor, como presente para o Centro Notre Dame de Jerusalém, e assinou o livro de visitantes distinguidos.
Bento XVI caminha na corda bamba entre israelitas e palestinos
Fiel à sua mensagem, apesar das críticas, explica o Pe. Williams a Zenit
JERUSALÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Boa parte da imprensa israelita considera que o discurso de Bento XVI sobre o Holocausto, no Memorial de Yad Vashem, não foi muito longe, reconhece o Pe. Thomas Williams, L.C., teólogo americano, professor da Universidade Regina Apostolorum de Roma.
O sacerdote, que está comentando de Jerusalém a peregrinação papal para o canal de televisão americano CBS News e Zenit, analisa a “decepção” que vários expoentes judeus manifestaram após este acontecimento, ocorrido no dia 11 de maio, em que o Bispo de Roma se reuniu com sobreviventes da Shoá.
Apesar da sua explícita lembrança do Holocausto em seu primeiro discurso em Israel e sua inequívoca condenação do antissemitismo – “Deve-se fazer todo o esforço possível para combater o antissemitismo onde quer que se encontre” –, o Pe. Williams constata que “muitas reportagens afirmaram que não foi longe demais”.
“Alguns – acrescenta – discutiram a questão do fato de que as palavras ‘nazista’ e ‘assassinato’ não apareceram em seu discurso no Yad Vashem, enquanto outros pensavam que o Papa deveria ter pedido desculpas pela suposta cumplicidade católica no Holocausto. Outros culpavam o próprio Papa por ter sido recrutado no exército alemão (ainda que ele tenha desertado logo) e por mostrar pouca emoção em seu discurso no Yad Vashem.”
O Pe. Williams reconhece que “é difícil saber por onde começar diante desta onda de críticas (e eu só toquei na superfície)”.
“Parece que alguns dos ouvintes do Santo Padre – afirma – não se sentiriam satisfeitos com nada do que o Papa possa dizer ou fazer, a ser não que caísse de joelhos suplicando que a terra o engolisse na mais total das vergonhas.”
“Em resposta ao que me pareceu uma sincera e humilde abertura de paz e reconciliação, o Santo Padre foi criticado como se fosse pessoalmente responsável pelo sofrimento dos judeus do mundo inteiro”, continua dizendo o sacerdote com sinceridade.
O Pe. Williams confessa que lutou, em vão, “por explicar a vários israelitas que o Papa não é um homem que expressa abertamente suas emoções, de forma que tudo o que for uma demonstração da angústia que esperavam dele não corresponde à sua natureza”.
“Eu os convidei a prestar mais atenção à decisão pessoal do Papa de enfrentar este tema tão francamente e de visitar o Memorial do Holocausto como ato central do seu primeiro dia em Israel (algo que certamente não lhe foi pedido), como evidência de sua profunda proximidade. Infelizmente, esses argumentos caíram no vazio.”
Enquanto isso, comenta o Pe. Williams, “no outro extremo, as paixões chegam ao mais alto. Na terça-feira de manhã, recebi um mordaz e-mail de um cristão de Gaza, que me viu nas notícias da noite e que vigorosamente objetava a quase exclusiva atenção dada aos judeus nas reportagens desta visita. Sua longa missiva, titulada ‘o que há sobre nós?’, enumerava uma ladainha de queixas contra o trato aos palestinos pelo Estado de Israel”.
“Pode ser que o senhor tenha se esquecido – escrevia ele – que Israel construiu sobre o sangue e sobre as casas de milhares de palestinos católicos e cristãos.” E acrescentava: “Pode ser que o senhor tenha se esquecido que Israel está construindo um muro de ‘apartheid’ pior que o muro de Berlim e o sul-africano juntos”. A mensagem continuava com o mesmo estilo.
“Por um momento – reconhece o Pe. Williams – senti uma pequena parte do que o Santo Padre deve estar experimentando enquanto tenta navegar entre os tremendamente dificultosos abrolhos do muito sensível sentimentos religioso que penetra esta região. Como um equilibrista espiritual, ele tem de oscilar com cuidado à direita e à esquerda, e imediatamente é rotulado como insensível ou mau.”
“Pior ainda – acrescenta – quando ele tenta conseguir o perfeito equilíbrio, não é suficiente. Parece que muitos observadores não se importam com as verdadeiras intenções do Papa, e passam todas as suas palavras e ações pelo microscópio, em busca de uma falta.”
“Apesar disso – observa o Pe. William –, o Santo Padre parece notavelmente equilibrado e sereno, sinal da profundidade de suas convicções espirituais e sua abundante confiança na graça de Deus para obter abundantes frutos desta viagem. Seus dias estão literalmente lotados de atividades; às vezes ele tem uma atividade diferente a cada hora; mas, apesar disso, persevera com infatigável bom espírito.”
Uma pessoa que pelo menos ostensivelmente “parecia mais em sintonia com o Papa Bento XVI”, constata, foi o presidente de Israel, Shimon Peres. “Em uma impressionante passagem do seu discurso de boas-vindas ao Santo Padre, ele parecia captar, melhor que ninguém, a importância de sua visita apostólica.”
“Os líderes espirituais podem preparar o caminho para os líderes políticos – disse Peres. Podem limpar o campo minado que obstrui a senda da paz. Os líderes espirituais deveriam reduzir a animosidade, de forma que os líderes políticos não recorressem a meios destrutivos.”
“Para aqueles que criticam a viagem papal como ineficaz e sem ‘acidez’ – comenta o Pe. Williams –, as palavras de Peres pareceram incisivas e clarividentes.”
“Não precisamos de mais veículos brindados – acrescentou Peres –, mas liderança espiritual inspirada.”
“Isso é o que Bento XVI está oferecendo em grandes quantidades a esta terra atribulada”, conclui o Pe. Williams.
Dom Óscar Andrés Rodriguez Maradiaga, na festa de Nossa Senhora de Fátima
FÁTIMA, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- O presidente da Cáritas Internacional e arcebispo Tegucigalpa (Honduras), cardeal Óscar Andrés Rodriguez Maradiaga, considera que a mensagem do Santo Rosário mantém toda sua atualidade. O prelado convidou os fiéis a cultivarem o hábito de recitar a oração.
“A Virgem de Fátima trouxe-nos a mensagem do Santo Rosário que não passou de moda, como pensam alguns”, disse o arcebispo hoje no Santuário de Fátima, na homilia da missa deste dia festivo.
“O rosário abrevia o essencial do Evangelho e coloca-o profundamente em nós, até que no coração se sinta o eco da Boa Nova de Deus. É como uma semente que se coloca no sulco e germina, cresce, amadurece, até que dá frutos de vida: os frutos do Reino.”
Segundo Dom Maradiaga, o rosário “é uma oração que não se limita à simples repetição, como se estivesse carecida de criatividade, é antes como uma roda de moinho de água, que em cada movimento sempre traz algo de novo”.
“O rosário é como o búzio marinho que capta em si o eco de todo o canto do mar. Nunca nos cansamos de ouvi-lo, quando o colocamos nos nossos ouvidos”; “é como a coroa de flores que os príncipes colocavam na fronte das suas amadas. Cada rosa e cada gesto é uma bela poesia de amor. É assim como nós tomamos esse rosário – ou coroa de rosas – para ir ao encontro de Jesus e de Maria, no amor da Santíssima Trindade.”
O presidente da Cáritas destacou que orar com o rosário “é muito mais do que parece à primeira vista”. “O importante do rosário é que, limitando a oração a poucas palavras, repetidas lentamente, o coração vai absorvendo no seu interior a luz de Deus que brilhou em Maria e somos assim conduzidos ao serviço ao mundo que a caracterizou”, disse.
“O rosário, em síntese, centra-se na contemplação do Evangelho em comunhão com Aquela que guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração (Lc 2, 19)”, afirmou o arcebispo.
Discurso do Papa de boas-vindas aos Territórios Palestinos
BELÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos o discurso que Bento XVI pronunciou na manhã desta quarta-feira durante a cerimônia de boas-vindas aos Territórios Palestinos oferecida pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
* * *
Senhor presidente,
queridos amigos:
Saúdo a todos de coração e agradeço vivamente o senhor presidente, Mahmoud Abbas, por suas palavras de boas-vindas. Minha peregrinação à terra da Bíblia não estaria completa sem uma visita a Belém, a Cidade de Davi e do nascimento de Jesus Cristo. Não poderia ter vindo à Terra Santa sem aceitar o gentil convite do presidente Abbas de visitar estes Territórios para saudar a população palestina. Sei o quanto sofreram e continuam sofrendo por causa da agitação que tem açoitado esta terra durante dezenas de anos. Meu coração está com as famílias que ficaram sem lar. Esta tarde, visitarei o Campo de Refugiados de Aida para expressar minha solidariedade com as pessoas que tanto perderam. Àqueles que choram a perda de familiares e pessoas queridas nas hostilidades, particularmente no recente conflito de Gaza, asseguro minha mais profunda compaixão e a lembrança frequente na oração. De fato, tenho todos vocês em minhas orações diárias e imploro ardentemente ao Todo Poderoso pela paz, uma paz justa e duradoura, nos Territórios Palestinos e em toda região.
Senhor presidente, a Santa Sé apoia o direito do seu povo a uma soberana pátria palestina na terra de vossos antepassados, segura e na paz com seus vizinhos, dentro de fronteiras reconhecidas internacionalmente. Se atualmente este objetivo parece longe de se alcançar, chamo contudo, o senhor e todo povo, a manter viva a chama da esperança, a esperança em que se possa encontrar uma via de encontro entre as legítimas aspirações, tanto dos israelenses como dos palestinos, para a paz e a estabilidade. Em palavras do falecido Papa João Paulo II, não pode haver “paz sem justiça, nem justiça sem perdão” (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002). Imploro a todas as partes implicadas neste longo conflito que deixem de lado todo rancor e divisão que possam ainda existir no caminho da reconciliação e cheguem a todos por igual, com generosidade e compaixão e sem discriminação. Uma coexistência pacífica entre os povos do Oriente Médio só se pode alcançar com um espírito de cooperação e respeito mútuo, no qual todos os direitos e a dignidade de todos sejam reconhecidos e respeitados. Peço a todos vós, a vossos líderes, que tomem um compromisso renovado para trabalhar por estes objetivos. Em particular, peço à comunidade internacional que utilize sua influência a favor de uma solução. Creio e confio em que através de um honesto e constante diálogo, com todo o respeito aos pedidos de justiça, possa-se obter uma paz duradoura nestas terras.
É minha ardente esperança que os graves problemas que afetam a segurança em Israel e nos Territórios Palestinos sejam em breve suficientemente mitigados para permitir uma maior liberdade de movimento, especialmente referente aos contatos entre familiares e ao acesso aos lugares santos. Os palestinos, como qualquer outro povo, têm direito natural a se casar, a formar uma família e a ter trabalho, educação e assistência médica. Rezo também para que, com a ajuda da comunidade internacional, o trabalho de reconstrução possa-se realizar rapidamente ali onde casas, escolas ou hospitais foram danificados ou destruídos, especialmente durante o recente conflito em Gaza. Isso é essencial para que a população desta terra possa viver em condições que favoreçam a paz duradoura e a prosperidade. Uma infra-estrutura estável oferecerá a vossos jovens melhores oportunidades para adquirir valiosas especialidades e obter empregos remunerados e os habilitará para oferecer sua contribuição na construção da vida de vossas comunidades. Faço este chamado aos muitos jovens presentes hoje nos Territórios Palestinos: não permitam que a perda de vidas humanas e a destruição de que foram testemunhas despertem ressentimento ou amargura em seus corações. Tenham coragem de resistir a qualquer tentação que sintam de recorrer aos atos de violência ou de terrorismo. Pelo contrário, deixem-se preencher pelo profundo desejo de oferecer uma contribuição duradoura ao futuro da Palestina, para que possa ocupar o lugar que lhe corresponde no cenário mundial. Deixem-se inspirar por sentimentos de compaixão para com todos os que sofrem, pelo zelo pela reconciliação e por uma firme confiança na possibilidade de um futuro mais luminoso.
Senhor presidente, queridos amigos reunidos aqui em Belém, invoco sobre toda a população palestina a bênção e a proteção de nosso Pai celestial, e rezo ardentemente para que se cumpra o canto que os anjos cantaram neste lugar: “paz na terra a todos os homens de boa vontade”.
“Construam suas igrejas locais, façam delas oficinas de diálogo, tolerância e esperança”
BELÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos o texto da homilia que Bento XVI pronunciou hoje na missa celebrada na Praça da Manjedoura, em frente à Basílica da Natividade, em Belém.
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Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Agradeço ao Deus Onipotente por me proporcionar a graça de vir a Belém, não apenas para venerar o lugar do nascimento de Cristo, mas também para estar ao lado de vocês, meus irmãos e irmãs na fé, nestes Territórios Palestinos. Sou grato ao Patriarca Fouad Twal pelos sentimentos que expressou em seu nome, e saúdo com afeição meus irmãos bispos e todos os padres, religiosos e leigos fiéis que trabalham diariamente para confirmar esta Igreja local na fé, na esperança e no amor. De uma forma especial meu coração se dirige aos peregrinos da martirizada Gaza: peço-lhes que levem para suas famílias e comunidades meu abraço fraterno e minha tristeza pelas perdas, pela dificuldade e o sofrimento que vocês tiveram de suportar. Por favor, estejam certos de minha solidariedade para com vocês no imenso trabalho de reconstrução que agora levam adiante, e minhas orações para que o embargo seja logo suspenso.
“Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo... hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador” (Lc 2, 10-11). A mensagem da vinda de Cristo, trazida do céu pela voz dos anjos, continua a ecoar nesta cidade, assim como ecoa nas famílias, lares e comunidades em todo o mundo. É “boa nova”, os anjos dizem, “para todo o povo”. Proclama que o Messias, o Filho de Deus e o Filho de Davi, nasceu “para vocês”: para vocês e para mim, e para os homens e as mulheres em todos os tempos e lugares. No plano de Deus, Belém, “pequena entre os clãs de Judá” (Miq 5, 1), tornou-se um lugar de glória imortal: o lugar onde, na plenitude dos tempos, Deus escolheu para tornar-se homem, para encerrar o longo reino de pecado e morte, e trazer vida nova e abundante a um mundo que se tornou velho, revestido e oprimido pela desesperança.
Para homens e mulheres em toda parte, Belém é associada com esta mensagem alegre de renascimento, renovação, luz e liberdade. Mas aqui, em nosso meio, como esta promessa magnífica parece estar longe de ser realizada! Como parece distante aquele Reino de pleno direito e paz, segurança, justiça e integridade do qual o Profeta Isaías anunciou na primeira leitura (cf Is 9, 7), e que nós proclamamos como definitivamente estabelecido na vinda de Jesus Cristo, Messias e Rei!
Desde o dia de seu nascimento, Jesus foi “um sinal de contradição” (Lc 2, 34), e continua sendo ainda hoje. O Senhor dos exércitos, “suas origens remontam aos tempos antigos, aos dias do longínquo passado” (Miq 5, 1), desejava inaugurar seu Reino nascendo neste pequeno povoado, entrando em nosso mundo no silêncio e na humildade de uma gruta, e deitando-se, um bebê indefeso, em uma manjedoura. Aqui, em Belém, no meio de todo tipo de contradição, as pedras seguem gritando esta "boa nova", a mensagem de redenção que esta cidade, acima de todas as outras, é chamada a proclamar ao mundo. Aqui, de uma forma que ultrapassa toda esperança e expectativa humana, Deus provou-se fiel às suas promessas. No nascimento de seu Filho, ele revelou a vinda de um Reino de amor: um amor divino que curvou-se para trazer cura e nos erguer; um amor que é revelado na humilhação e no enfraquecimento da Cruz, ainda triunfa em uma ressurreição gloriosa para a vida nova. Cristo trouxe um Reino que não é deste mundo, um Reino que é capaz de mudar este mundo, ele tem o poder de transformar corações, de iluminar mentes e fortalecer vontades. Assumindo nossa carne, com toda sua fragilidade, e transfigurando-se pelo poder de seu Espírito, Jesus nos chamou para sermos testemunhas de sua vitória sobre o pecado e a morte. E é isto que a mensagem de Belém nos chama a ser: testemunhas do triunfo do amor de Deus sobre todo ódio, egoísmo, medo e ressentimento que danifica as relações humanas e cria divisão onde os irmãos deveriam habitar em unidade, destruição onde os homens deveriam estar construindo, desespero onde a esperança deveria florescer!
“Na esperança fomos salvos”, diz o Apóstolo Paulo (Rom 8, 24). Ele ainda afirma com absoluto realismo que a criação continua a gemer em trabalho de parto, mesmo enquanto nós, que recebemos os primeiros frutos do Espírito, pacientemente esperamos o cumprimento de nossa redenção (cf. Rom 8, 22-24). Na segunda leitura de hoje, Paulo oferece uma lição da Encarnação que é particularmente aplicável ao sofrimento que vocês, escolhidos de Deus em Belém, estão vivendo: «a graça de Deus apareceu”, ele nos diz, “nos ensinando a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade”, enquanto esperamos a vinda de nossa esperança abençoada, o Salvador Jesus Cristo (Tit 2, 11-13).
Não são estas as virtudes requeridas dos homens e mulheres que vivem em esperança? Primeiro, a constante conversão a Cristo que é refletida não apenas em nossas ações, mas também em nossa razão: a coragem de abandonar caminhos infrutíferos e estéreis de pensamento, ação e reação. Então, o cultivo de uma consciência de paz baseada na justiça, no respeito pelos direitos e deveres de todos, e compromisso de cooperação para o bem comum. E também perseverança, perseverança no bem e rejeição do mal. Aqui em Belém, uma perseverança especial é requerida dos discípulos de Cristo: perseverança no testemunho fiel da glória de Deus revelada aqui, no nascimento de seu Filho, da boa nova de sua paz com a qual desceu do céu para habitar a terra.
“Não temais!” Esta é a mensagem que o Sucessor de São Pedro quer trazer a vocês hoje, ecoando a mensagem dos anjos e o encargo que nosso amado Papa João Paulo II deixou para vocês no ano do Grande Jubileu do nascimento de Cristo. Contem com as orações e solidariedade de seus irmãos e irmãs na Igreja universal, e trabalhem, com iniciativas concretas, para consolidar sua presença e oferecer novas possibilidades àqueles tentados a partir. Sejam uma ponte de diálogo e cooperação construtiva na edificação de uma cultura de paz para substituir o medo presente, a agressão e a frustração. Construam suas Igrejas locais, fazendo delas oficinas de diálogo, tolerância e esperança, assim como de solidariedade e caridade prática.
Acima de tudo, sejam testemunhas do poder de vida, da nova vida traga pelo Cristo ressuscitado, a vida que pode iluminar e transformar mesmo as situações humanas mais escuras e sem esperança. Sua terra natal precisa não apenas de novas estruturas econômicas e comunitárias, mas mais fundamentalmente, podemos dizer, de uma nova infra-estrutura “espiritual”, capaz de alimentar as energias de todos os homens e mulheres de boa vontade no serviço da educação, do desenvolvimento e da promoção do bem comum. Vocês têm os recursos humanos para construir a cultura de paz e respeito mútuo que garantirá um futuro melhor para seus filhos. Esta nobre empreita espera por vocês. Não temais!
A antiga Basílica da Natividade, abatida pelos ventos da história e o fardo das épocas, se coloca diante de nós como uma testemunha da fé que perdura e triunfa sobre o mundo (cf. 1 Jo 5, 4). Nenhum visitante de Belém pode deixar de notar que no curso dos séculos a grande porta levando à casa de Deus tornou-se progressivamente menor. Hoje rezemos para que, pela graça de Deus e nosso compromisso, a porta que leva para o mistério da habitação de Deus entre os homens, o templo de nossa comunhão em seu amor, e prenúncio de um mundo de eterna paz e alegria, se abrirá sempre mais completamente para receber, renovar e transformar cada coração humano. Desta maneira, Belém continuará a ecoar a mensagem confiada aos pastores, a nós, e a toda humanidade: “Glória a Deus nas alturas, e na terra, paz aos homens por ele amados!”. Amém.
Discurso de Bento XVI no Campo de Refugiados de Aida
“Renovo meu apelo pelo profundo compromisso a cultivar a paz e a não-violência”
BELÉM, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos o discurso que Bento XVI pronunciou hoje no Campo de Refugiados de Aida, na presença do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
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Senhor presidente,
Queridos amigos,
Minha visita ao Campo de Refugiados de Aida nesta tarde me oferece a oportunidade de expressar minha solidariedade para com todos os palestinos sem lar que buscam a possibilidade de retornar a sua terra natal ou de viver permanentemente em uma terra que seja própria. Obrigado, senhor presidente, por sua cordial saudação. Agradeço também ao senhor Abu Zayd, e aos outros que se pronunciaram. A todos os oficiais da Agência das Nações Unidas de Ajuda aos Refugiados da Palestina, expresso o apreço sentido por incontáveis homens e mulheres em todo mundo pelo trabalho realizado aqui e em outros campos em toda a região.
Estendo uma saudação particular aos alunos e professores na escola. Por seu compromisso com a educação pelo qual expressam a esperança no futuro. A todos os jovens aqui, eu digo: renovem seus esforços para se preparar para o tempo em que vocês serão responsáveis pelos assuntos do povo palestino nos anos que virão. Os pais têm um papel muito importante aqui, e a todas as famílias presentes neste campo eu digo: certifiquem-se de apoiar seus filhos em seus estudos e nutrir seus talentos, para que não haja limitações de pessoal bem qualificado para ocupar os postos de liderança na comunidade palestina no futuro. Sei que muitas de suas famílias estão divididas – pela prisão de membros da família, ou restrições de liberdade de movimento – e muitos de vocês experimentaram perdas no curso das hostilidades. Meu coração se dirige a todos que sofrem neste caminho. Por favor, estejam certos de que os refugiados palestinos em todo o mundo, especialmente aqueles que perderam suas casas e entes queridos durante o conflito recente em Gaza, são constantemente lembrados em minhas orações.
Quero destacar o bom trabalho realizado pelas muitas agências da Igreja em cuidar dos refugiados aqui e em outras partes dos Territórios Palestinos. A Missão Pontifícia para a Palestina, fundada há sessenta anos para coordenar a assistência humanitária católica para os refugiados, continua seu trabalho necessário ao lado de outras organizações. Neste campo, a presença das Irmãs Franciscanas Missionárias do Imaculado Coração de Maria nos faz lembrar da figura de São Francisco, aquele grande apóstolo da paz e da reconciliação. De fato, quero expressar minha apreciação particular pela enorme contribuição oferecida por diferentes membros da família Franciscana em cuidar das pessoas destas terras, fazendo-se “instrumentos da paz”, em honra da frase atribuída ao santo de Assis.
Instrumentos da paz. O quanto as pessoas deste campo, destes Territórios, e de toda esta região esperam pela paz! Nestes dias, esta espera tem uma intensidade particular ao relembrar os eventos de maio de 1948 e os anos de conflito, ainda não resolvidos, que se sucederam daqueles eventos. Vocês agora vivem em e condições incertas e difíceis, com limitadas oportunidades de emprego. É compreensível que vocês se sintam frustrados. Suas legítimas aspirações por lares permanentes, por um Estado Palestino independente, continuam não realizadas. Ao contrário, vocês se encontram presos, como tantos nesta região e em todo o mundo, em uma espiral de violência, de ataque e contra-ataque, retaliação e contínua destruição. O mundo inteiro está esperando para que esta espiral seja quebrada pela paz, para colocar fim à luta constante.
Aproximando-nos de vós, enquanto nos reunimos aqui nesta tarde, avistamos um sinal da impassividade que as relações entre israelenses e palestinos parecem ter alcançado – o muro. Em um mundo onde mais e mais fronteiras são abertas – ao comércio, às viagens, ao movimento das pessoas, as trocas culturais – é trágico ver muros ainda sendo construídos. O quanto esperamos ver os frutos da tarefa muito mais difícil de construir a paz! Quão seriamente rezamos para um fim das hostilidades que causaram a construção desse muro!
Em ambos lados do muro, grande coragem é necessária se o medo e a desconfiança forem superados, se a vontade de retaliação pela perda ou ferida for resistida. É preciso magninanimidade para buscar a reconciliação depois de anos de luta. A história já mostrou que a paz pode vir apenas quando as partes de um conflito estão dispostas a mover-se para além de suas queixas e trabalharem juntas para objetivos comuns, reconhecer seriamente as preocupações e medos um do outro, enfrentar a construção de uma atmosfera de confiança. Deve haver disposição para tomar iniciativas concretas para a reconciliação: se cada um insiste em priorizar concessões do outro, o resultado pode apenas ser a impassividade.
A ajuda humanitária, do tipo provido neste campo, tem um papel essencial a desempenhar, mas a solução no longo prazo para um conflito como este pode ser apenas política. Ninguém espera que os povos palestino e os israelense cheguem a isso por si próprios. O apoio da comunidade internacional é vital, e por isso eu faço um apelo renovado a todos preocupados em trazer sua influência para trabalhar a favor de uma solução duradoura e justa, respeitando as demandas legítimas de todas as partes e reconhecendo seu direito de viver em paz e dignidade, em acordo com a lei internacional. Ao mesmo tempo, os esforços diplomáticos podem ser bem sucedidos apenas se palestinos e israelenses estiverem dispostos a libertar-se do ciclo de agressão. Recordo-me daquelas belas palavras atribuídas a São Francisco: “onde houver ódio, que eu leve o amor, onde houver ofensa, perdão... onde houver trevas, luz, onde houver tristeza, alegria”.
Renovo a todos vocês meu apelo por um compromisso profundo para cultivar a paz e a não-violência, seguindo o exemplo de São Francisco e outros grandes pacificadores. A paz deve começar em casa, na família, no coração. Continuo a rezar para que todas as partes do conflito nestas terras tenham a coragem e a imaginação de buscar o desafiante mas indispensável caminho da reconciliação. Que a paz floresça uma vez mais nestas terras! Que Deus abençoe seu povo com a paz!
Discurso do Papa à Autoridade Palestina em sua despedida
“É necessário remover os muros que construímos ao redor de nossos corações”
BELÉM, quarta-feira, 13 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos o discurso de despedida que Bento XVI pronunciou hoje no palácio presidencial de Belém, na presença do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
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Senhor presidente,
Queridos amigos,
Agradeço pela grande gentileza que me dedicaram durante este dia que passei em sua companhia, aqui nos Territórios Palestinos. Estou grato ao presidente, senhor Mahmoud Abbas, por sua hospitalidade e suas palavras de apreço. Foi profundamente comovedor para mim ouvir também os testemunhos dos residentes que falaram sobre as condições de vida aqui na Zona Oeste e em Gaza. Asseguro a todos vocês que os guardo em meu coração e espero ver a paz e a reconciliação em toda parte destas terras atormentadas.
Foi realmente um dia memorável. Desde quando cheguei a Belém nesta manhã, tive a alegria de celebrar a missa junto a uma grande multidão de fiéis no lugar onde Jesus Cristo, luz das nações e esperança do mundo, nasceu. Vi o cuidado às crianças no Caritas Baby Hospital. Com angústia, testemunhei a situação dos refugiados que, como a Sagrada Família, tiveram de deixar suas casas. Eu vi, circundando o campo e projetando sombra em grande parte de Belém, o muro que invade seus territórios, separando vizinhos e dividindo famílias.
Embora os muros possam ser facilmente construídos, todos sabemos que eles não duram para sempre. Podem ser destruídos. Primeiro, então, é necessário remover os muros que construímos ao redor de nossos corações, as barreiras que construímos contra nossos vizinhos. É por isso, que em minhas palavras de despedida, quero fazer um apelo renovado para a abertura e a generosidade de espirito, para o fim da intolerância e da exclusão. Não importa o quanto um conflito pareça intransponível ou profundamente estabelecido, sempre há terrenos para esperança de que pode ser resolvido, que a paciência e os esforços perseverantes daqueles que trabalham pela paz e a reconciliação darão frutos no final. Meu desejo para vocês, o povo da Palestina, é que isso aconteça logo, e que vocês poderão enfim gozar da paz, da liberdade e da estabilidade que lhes escaparam por tanto tempo.
Estejam certos de que continuarei a aproveitar toda oportunidade para urgir aos envolvidos nas negociações de paz para trabalharem para uma solução justa que respeite as aspirações legítimas de israelenses e palestinos. Como um passo importante nesta direção, a Santa Sé espera estabelecer em breve, em conjunto com a Autoridade Palestina, uma Comissão Bilateral de Trabalho Permanente, que foi prevista no Acordo de base, assinado no Vaticano em 15 de fevereiro de 2000 (cf. Acordo de base entre a Santa Sé e a Organização da Libertação Palestina, art. 9).
Senhor presidente, queridos amigos, agradeço uma vez mais e recomendo todos à proteção do Onipotente. Que Deus olhe com amor para cada um de vocês, suas famílias e todos seus entes queridos. E que ele abençoe o povo palestino com a paz.