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Textos_Religiosos-->A sacralidade da batina e do hábito religioso -- 29/06/2009 - 11:49 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esta página apresenta quatro artigos:

- A sacralidade da batina e do hábito religioso e seu papel na guerra psicológica revolucionária, por André F. Falleiro Garcia

- Sete excelências da batina, pelo Pe. Jaime Tovar Patrón

- O hábito e o monge, por Plinio Corrêa de Oliveira

- Se a batina perdeu toda influência, por que usá-la diante do DOPS?. por Plinio Corrêa de Oliveira.



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A SACRALIDADE DA BATINA E DO HÁBITO RELIGIOSO E SEU PAPEL NA GUERRA PSICOLÓGICA REVOLUCIONÁRIA


ANDRÉ F. FALLEIRO GARCIA

Um monge cartuxo oscula, genuflexo, o hábito de seu superior. É o reconhecimento da sacralidade do hábito e da pessoa do superior. Exprime a dependência absoluta do homem diante de Deus.

O igualitarismo é o princípio filosófico malsão que está por detrás da ojeriza que o mundo moderno sente em relação ao uso da batina ou hábito talar. Se todos os humanos são iguais, pensam os revolucionários igualitários, a indumentária deve a mesma para todos. Toleram, por razão funcional, o uso de trajes adequados para o exercício profissional, como a roupa branca dos profissionais da saúde e a verde dos militares. Mas são intolerantes se no vestuário há conotação de status pessoal superior.

Não há propriamente nos igualitários uma revolta contra o exercício profissional da atividade religiosa. Sob o bafejo da Nova Era, hoje em dia os gurus, pajés, pais de santo e assemelhados, que participam do festival ecumênico, são respeitados ao fazerem uso de seus trajes peculiares.

Incomoda-os a indumentária dos sacerdotes e religiosos católicos, sobretudo, quando usada fora do ambiente das igrejas e dos atos de culto. De fato, quem ainda não notou eclesiásticos que após o encerramento da cerimônia litúrgica voltam céleres das sacristias, em mangas de camisa ou camiseta, para que os fiéis na nave da igreja os vejam como iguais a todo o mundo?

Querem assim dar a entender que o povo de Deus e a classe sacerdotal têm o mesmo valor, que a assembléia dos fiéis vale tanto quanto seu representante que oficia os atos religiosos. Não há satisfação maior, para os igualitários, do que ver o celebrante misturar-se com o povo numa comunhão de igualdade e fraternidade. Desse e de outros modos querem eliminar a distinção entre Igreja e mundo, entre o sagrado e o profano, entre o cristão e o não-cristão ou pagão, entre o sacerdote e o leigo.

Contunde a mentalidade igualitária a afirmação radical da suprema desigualdade que estrema a criatura humana de seu Deus Criador. O mais modesto sacerdote provinciano, na simplicidade de sua batina preta, pode produzir esse desagrado, por não ser pessoa comum ou mero profissional especializado na prestação de serviços religiosos. É representante do Ser divino, embaixador do Soberano que governa o universo, dignitário da Santa Igreja. É alguém que possui situação pessoal superior às demais. Na Idade Média, quando a sociedade estava nitidamente diferenciada em três classes — clero, nobreza e povo —, o clero gozava da condição de primeira classe social, e o povo, de última.

O que lhe confere essa proeminência? No que consiste exatamente a sacralidade que o hábito talar exprime e que tanto apoquenta os igualitários?

A noção compenetrada, de modo consciente e até subconsciente, de ser uma pessoa sagrada, distingue o sacerdote ou religioso que faz uso adequado do hábito, de outro que apenas veste a indumentária, mas não tem o espírito dela por estar contaminado pela mentalidade igualitária. Dois elementos são fundamentais para a formação desse estado de espírito e para a compreensão da sacralidade da veste talar: a distinção entre o sagrado e o profano, e o caráter sacral do estado de vida sacerdotal ou religioso.

A distinção entre o sagrado e o profano

Para os antigos romanos, o profanus significava aquilo que ficava fora do recinto santo, no qual estavam o lugar de culto com os objetos litúrgicos e atuava a classe sacerdotal. Nesse sentido, a noção do sagrado implicava numa separação até física em relação ao mundo profano.

Essa concepção, por analogia, é válida ainda hoje, ao se fazer a distinção entre a ordem espiritual e a temporal, e se situar na Igreja a sede por excelência do sagrado. Mas essa separação do mundo não deve ser entendida de modo absoluto, porque as portas das igrejas estão abertas a todos, e os sacerdotes podem ser abordados por qualquer pessoa. Toda a atividade da Igreja, em última análise, não tem em vista separar, mas favorecer a maior união das criaturas com Deus.

E deve ser temperada pela noção da sacralização da ordem temporal, a consecratio mundi à qual se referiu Pio XII na Alocução para o II Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos. Segundo o Pontífice, "As relações entre a Igreja e o mundo exigem a intervenção dos apóstolos leigos. A `consecratio mundi` é, no essencial, obra dos próprios leigos" (Discorsi e Radiomessaggi, vol. XIX, p. 459). Assim, cabe às outras classes sociais uma forma peculiar de sacralização — a sacralização do mundo ou consecratio mundi — que se distingue da atividade própria à Igreja e ao clero.

Nessa perspectiva, o sagrado religioso — o sacral por excelência, em grau maior — pertence à ordem espiritual ou hierarquia eclesiástica, enquanto o sagrado temporal e o natural — o sacral atenuado, em grau menor — correspondem à ordem temporal e à ordem da natureza. Na ordem temporal estão inseridos os leigos que realizam a sacralização do mundo (sacral menor) na medida em que modelam os ambientes, costumes, leis e instituições de sua cultura e civilização. Também pode ser encontrado o sacral menor na natureza, como ensina São Boaventura.[1] Essas duas categorias de sagrado — religioso e temporal-natural —, podem ser denominadas através de duas palavras latinas: sacral maior e sacral minor.

A Igreja (sacral maior), que é o Corpo Místico de Cristo, é toda sagrada; em sua cabeça, o próprio Cristo, reside o sagrado absoluto; em seus membros, há graus diversos de sacralidade, criaturas mais ou menos sagradas conforme o poder que disponham de santificar através da graça ou conforme o seu lugar na ordem da graça. Na civilização cristã a sacralidade que aufere dignidade superior resulta do exercício do tríplice múnus de governar, ensinar e santificar as almas, porquanto está sempre reservada a mais alta condição pessoal ou status social ao clero católico. As ordens e congregações religiosas também participam dessa dignidade.

Quanto à tarefa própria aos leigos, a sacralização do mundo, esta parece quase inconcebível na sociedade secularizada em que vivemos, que recusa a exteriorização do sagrado cristão e procura suprimi-lo nas suas manifestações culturais e sociais. Porventura alguém conhece um presidenciável, em algum lugar do Ocidente, que a tenha apresentado ao menos como ponto relevante de sua plataforma política? Nas democracias modernas, apenas pode ser referido o caso do heróico Presidente católico do Equador, Gabriel García Moreno, que em 1873 consagrou sua pátria ao Sagrado Coração de Jesus.

O caráter sacral da vida sacerdotal ou religiosa e de seu vestuário

A entrega à vida sacerdotal ou religiosa exige um holocausto ou oblação interior que tem efeito sacralizante. Esse efeito também se reflete em sua indumentária.

No cerimonial da antiga lei judaica o mais perfeito modo sacrifical implicava na destruição total da oferenda. Literalmente, o holocausto por excelência consistia nisso: “holo” (todo), “causto” (queimar). A oferta era sacrificada e inteiramente queimada no altar de imolação. Em síntese, primeiro, fazia-se a apresentação da vítima escolhida, que então era aceita por Deus. Depois, a vítima passava a ser propriedade de Deus. Por fim, vinha a morte dela propriamente. Ao longo dessas etapas principais o caráter sagrado do ato se tornava gradualmente mais intenso, uma espécie de presença de Deus se tornava cada vez maior.

O processo de sacralização atingia o clímax quando a vítima era consumida e assumida por Deus. Oferecida e aceita, a presença de Deus nela se tornava mais intensa. Tirada em definitivo do uso profano, passava a ser propriedade divina e assim se tornava sagrada — res sacra — coisa sagrada. O sangue derramado tornava-se sagrado por causa da intensidade dessa presença.

No cerimonial judaico, havia uma vítima material a ser consumida fisicamente. No catolicismo, dá-se a supremacia do oferecimento interno, da oblatio. A pessoa se oferece a si mesma como vítima, faz um ato de ofertório que é a destruição de seu ser moral e não físico. A vítima humana se oferece à imolação e se torna pontífice dela mesma. O aumento da semelhança e a união da criatura com Deus, que se dão através desse holocausto, são sacralizantes.

O simbolismo da oblação tem seu fundamento metafísico no jogo de semelhanças e dessemelhanças que há na ordem do universo. O desejo de semelhança com Deus leva a pessoa — por amor a Ele — a buscar a união total com Ele, que tem início quando o processo de catarse das dessemelhanças desencadeia a oblação e o holocausto destrutivo e transformativo.

Com efeito, após a destruição do ser moral tisnado pelo pecado e a superação das dessemelhanças, segue-se a transformação ou deificação da pessoa, que consiste na maior “semelhança e união” divina que consiga alcançar.[2] A sacralidade dessa operação mística é evidente, mas não resulta que a pessoa tenha com isso chegado à santidade consumada. O sacrossanto reúne a um tempo santidade e sacralidade que todavia são conceitos distintos. Se o sacerdote não é santo, mas pecador, não perde seu caráter sagrado e pode realizar com eficácia e validez certas funções sagradas, como a celebração da santa missa.

A oblação manifesta e acentua a infinita transcendência divina e a contingência humana. A semelhança que almeja não significa igualdade. Tal é o conteúdo metafísico-místico, verdadeiramente sacral, da oblação interior realizada por quem abraçou o estado de vida sacerdotal ou religiosa.

No caso da ordenação sacerdotal, à disposição interior de oferenda de si mesmo acrescenta-se a graça sacramental peculiar que marca o ungido in aeternum: "A ordem é um sacramento da Nova Lei, pelo qual é conferido, pela imposição da mão e palavras do Bispo, o poder espiritual e ao mesmo tempo a graça para serem exercidos devidamente os sagrados ministérios. Além disso, encontram-se nela todos os requisitos para haver sacramento: sinal sensível, instituição divina permanente e virtude de produzir a graça." [3]

Por sua vez, o estado religioso é uma oferenda litúrgica que a pessoa faz de sua vida a Deus, realizada segundo uma configuração específica, como disse São Tomás de Aquino: "Chamam-se religiosos aqueles que à maneira de sacrifício se entregam a si mesmos, com todas as suas coisas, a Deus: quanto às coisas materiais, pela pobreza; quanto ao próprio corpo, pela castidade; quanto à vontade, pela obediência, pois a religião consiste no culto divino". [4]

O uso do hábito talar torna perceptível aos sentidos humanos toda essa sublime condição de vida, e empresta à situação vivencial do oblato a densidade de uma liturgia simbólica e sacral que se rememora e renova a todo momento e em todo lugar aonde vai.

O significado profundo da indumentária clerical está, portanto, ligado aos dois elementos constitutivos do holocausto próprio ao estado sacerdotal ou religioso, um interno e outro externo. A essência desse holocausto é a oblatio, o ato interno de amor intenso, a doação de si mesmo a Deus, com a conseqüente sujeição às regras institucionais da vida sacerdotal ou religiosa. E nisto há o reconhecimento da dependência absoluta do homem diante de Deus, o ato antiigualitário por excelência realizado no foro íntimo. O elemento externo será o cerimonial da ordenação sacerdotal, da profissão dos votos ou entrega ao oblato do hábito religioso que deverá ser usado sempre nesse espírito. Pois o traje talar exterioriza, através da alta carga simbólica de que é dotado, toda essa realidade de ordem metafísico-mística.

O símbolo torna visível essa realidade invisível, ao dar uma expressão material à oblação interior. Sinaliza o mundo sobrenatural oculto para a visão humana e remete para ele. A sacralidade enquanto símbolo é uma manifestação visível de Deus invisível. Ele como que vem até os homens e lhes revela sua face através do sacral. Mas não se confunde com a forma sacral que o representa, a não ser na humanidade de Jesus Cristo, que é o sagrado absoluto, no qual coincidem Deus e a exterioridade visível que o representa.

A expressão simbólica é de grande utilidade para as almas ao ampliar através das sacralidades suas possibilidades de percepção. A veste talar, pelo seu simbolismo, serve de ponte, fazendo a ligação entre o mundo concreto e as altas realidades sobrenaturais. As exterioridades da batina ou do hábito religioso possibilitam — pela via simbólica — a rememoração do caráter sacral da oblação e do holocausto destrutivo e transformativo. Ademais, a batina recorda que o sacerdote ungido pelos óleos santos se torna um outro Cristo. Ao celebrar a missa ou perdoar os pecados, é Cristo quem age através dele.

O tonus de vida da pessoa que possui essa visão simbólica metafísico-mística sobe a uma clave muito elevada. Passa a considerar a indumentária como meio de exteriorização de sua oblação interior, que a separa de todas as demais, que a distancia e diferencia do mundo profano, que a faz recordar que todo o seu ser passou a ser propriedade de Deus. Ela então sabe que se tornou uma pessoa sagrada e se respeita e venera enquanto tal.

A dessacralização da indumentária religiosa e seu papel na guerra psicológica revolucionária

Após o Concílio Vaticano II e sua abertura para o espírito do mundo, o uso do hábito não foi oficialmente proibido, mas em incontáveis lugares foi como se tivesse havido a proibição. A dessacralização da indumentária religiosa tornou-se fato corriqueiro na vida da Igreja. De modo geral apenas foi mantido o uso durante as celebrações religiosas. Nestas, os ricos e belos paramentos litúrgicos foram substituídos pelas alvas anglicanas que passaram a ser habituais nas igrejas católicas. O efeito ineludível da novidade ou modismo pós-conciliar foi favorecer o igualitarismo e empanar o sagrado.


O uso do hábito religioso nas marchas do MST
No Brasil, durante o período do regime militar, notaram-se eclesiásticos que não usavam batinas no dia-a-dia, mas não deixavam de exibi-las nas passeatas de protesto, em defesa dos comunistas ou terroristas presos. E depois, no período da ditadura civil que ainda está em curso, as batinas e os hábitos religiosos reapareceram nos acampamentos e marchas dos sem-terra. Evidente manipulação a serviço da estratégia neocomunista!

A questão do uso da batina ou do hábito religioso não interessa exclusivamente à Igreja, ao contrário do que muitos pensam. Quando se dá o entrechoque entre o igualitarismo e a sacralidade nas profundidades das mentalidades, a revolução cultural industriada pelo neocomunismo avança muitas vezes sem encontrar ponderáveis obstáculos. Os artífices do caos contemporâneo se empenham em apagar por toda a parte os vestígios do sagrado, para implantar a liberdade anárquica e a igualdade completa, que são os pilares do reino do demônio.

A incompatibilidade de certo tipo de conservadores e anticomunistas com relação às coisas da Igreja se deve, em última análise, à recusa que manifestam em reconhecer a contingência humana e a infinitude divina, não apenas em tese, mas também nas manifestações sensíveis e situações concretas como a questão do vestuário. Por se fecharem ao sacral não são, apenas, igualitários; no fundo, tornam-se companheiros de viagem dos neocomunistas sem o perceber. Teriam grande proveito se compreendessem, por exemplo, o alto valor dos trajes — civis, militares e religiosos — para a orientação das tendências profundas da pessoa e da opinião pública. Impossível vencer a guerra psicológica revolucionária, que atua não só no campo ideológico como também tendencial, sem levar isso em conta.



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NOTAS:



[1] "De tudo isto se conclui que `as perfeições invisíveis de Deus vêem-se desde a criação do mundo, estando manifestas à inteligência por meio das coisas que foram feitas` (Rom. 1, 20). Deste modo, os que não querem atentar nelas, e em todas conhecer, bendizer e amar a Deus, `são indesculpáves` (ibid.), uma vez que não querem passar `das trevas para a admirável luz de Deus` (1 Pet 2, 9)". (Itinerário da Mente a Deus, II, 13.)

[2] Conforme a formulação de São Dionísio, "deificatio est assimilatio et unio". Hier. Eccles. c.1, n.3.

[3] Os Sacramentos. D. José Alves Mattoso, Bispo da Guarda. Casa Editora — União Gráfica. Lisboa, 1936, 2º edição, p. 611.

[4] Suma Contra os Gentios III,130, in fine.

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Sete excelências da batina



Pe. Jaime Tovar Patrón *



1ª — Recordação constante do sacerdócio

Certamente que, uma vez recebida a ordem sacerdotal, não se esquece facilmente. Porém um lembrete nunca faz mal: algo visível, um símbolo constante, um despertador sem ruído, um sinal ou bandeira. O que vai à paisana é um entre muitos, o que vai de batina, não. É um sacerdote e ele é o primeiro persuadido. Não pode permanecer neutro, o traje o denuncia. Ou se faz um mártir ou um traidor, se chega a tal ocasião. O que não pode é ficar no anonimato, como um qualquer. E logo quando tanto se fala de compromisso! Não há compromisso quando exteriormente nada diz do que se é. Quando se despreza o uniforme, se despreza a categoria ou classe que este representa.

2ª — Desperta o sentido do sobrenatural e evita os devastadores efeitos da dessacralização

Não resta dúvida de que os símbolos nos rodeiam por todas as partes: sinais, bandeiras, insígnias, uniformes... Um dos que mais influencia é o uniforme. Um policial, um guardião, é necessário que atue, detenha, dê multas, etc. Sua simples presença influi nos demais: conforta, dá segurança, irrita ou deixa nervoso, segundo sejam as intenções e conduta dos cidadãos.

Uma batina sempre suscita algo nos que nos rodeiam. Desperta o sentido do sobrenatural. Não faz falta pregar, nem sequer abrir os lábios. Ao que está de bem com Deus dá ânimo, ao que tem a consciência pesada avisa, ao que vive longe de Deus produz arrependimento.

As relações da alma com Deus não são exclusivas do templo. Muita, muitíssima gente não pisa na Igreja. Para estas pessoas, que melhor maneira de lhes levar a mensagem de Cristo do que deixar-lhes ver um sacerdote consagrado vestindo sua batina?

Os fiéis tem lamentado a dessacralização e seus devastadores efeitos. Os modernistas clamam contra o suposto triunfalismo, tiram os hábitos, rechaçam a coroa pontifícia, as tradições de sempre e depois se queixam de seminários vazios, de falta de vocações. Apagam o fogo e se queixam de frio. Não há dúvidas: o "desbatinamento" ou "desembatinação" leva à dessacralização.

3ª — É de grande utilidade para os fiéis

O sacerdote o é não só quando está no templo administrando os sacramentos, mas nas vinte e quatro horas do dia. O sacerdócio não é uma profissão, com um horário marcado; é uma vida, uma entrega total e sem reservas a Deus. O povo de Deus tem direito a que o auxilie o sacerdote. Isto se facilita se podem reconhecer o sacerdote entre as demais pessoas, se este leva um sinal externo. Aquele que deseja trabalhar como sacerdote de Cristo deve poder ser identificado como tal para o benefício dos fiéis e melhor desempenho de sua missão.

4ª — Serve para preservar dos perigos do mundanismo

A quantas coisas se atreveriam os clérigos e religiosos se não fosse pelo hábito! Esta advertência, que era somente teórica quando a escrevia o exemplar religioso Pe. Eduardo F. Regatillo, S.I., é hoje uma terrível realidade.

Primeiro, foram coisas de pouca monta: entrar em bares, lugares de recreio, diversão, conviver com os seculares, porém pouco a pouco se tem ido cada vez a mais.

Os modernistas querem nos fazer crer que a batina é um obstáculo para que a mensagem de Cristo entre no mundo. Porém, suprimindo-a, desapareceram as credenciais e a mesma mensagem. De tal modo, que já muitos pensam que o primeiro que se deve salvar é o mesmo sacerdote que se despojou da batina supostamente para salvar os outros.

Deve-se reconhecer que a batina fortalece a vocação e diminui as ocasiões de pecar para aquele que a veste e para os que o rodeiam. Dos milhares que abandonaram o sacerdócio depois do Concílio Vaticano II, praticamente nenhum abandonou a batina no dia anterior ao de ir embora: tinham-no feito muito antes.

5ª — É de grande utilidade o prestígio da veste religiosa

O povo cristão vê no sacerdote o homem de Deus, que não busca o próprio bem particular senão o de seus paroquianos. O povo escancara as portas do coração para escutar o padre que é o mesmo para o pobre e para o poderoso. As portas das repartições, dos departamentos, dos escritórios, por mais altas que sejam, se abrem diante das batinas e dos hábitos religiosos. Quem nega a uma monja o pão que pede para seus pobres ou idosos? Tudo isto está tradicionalmente ligado a alguns hábitos. Este prestígio da batina se tem acumulado à base de tempo, de sacrifícios, de abnegação. E agora, se desprendem dela como se se tratasse de um estorvo?

6ª — Impõe a modéstia no vestir

A Igreja preservou sempre seus sacerdotes do vício de aparentar mais do que se é e da ostentação dando-lhes um hábito singelo em que não cabem os luxos. A batina é de uma peça (desde o pescoço até os pés), de uma cor (preta) e de uma forma (saco). Os arminhos e ornamentos ricos se deixam para o templo, pois essas distinções não adornam a pessoa senão o ministro de Deus para que dê realce às cerimônias sagradas da Igreja.

Porém, vestindo-se à paisana, a vaidade persegue o sacerdote como a qualquer mortal: as marcas, qualidades do pano, dos tecidos, cores, etc. Já não está todo coberto e justificado pelo humilde hábito religioso, ao se colocar no nível do mundo, este o sacudirá, à mercê de seus gostos e caprichos. Haverá de ir com a moda e sua voz já não se deixará ouvir como a do que clamava no deserto coberto pela veste do profeta vestido com pêlos de camelo.

7ª — Facilita a prática das virtudes e a compenetração de sua missão sagrada

Como alguém que tem parte no Santo Sacerdócio de Cristo, o sacerdote deve ser exemplo da humildade, da obediência e da abnegação do Salvador. A batina o ajuda a praticar a pobreza, a humildade no vestiário, a obediência à disciplina da Igreja [5] e o desprezo das coisas do mundo. Vestindo a batina, dificilmente se esquecerá o sacerdote de seu importante papel e sua missão sagrada, ou confundirá seu traje e sua vida com a do mundo.[6]

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* O autor, Padre Jaime Tovar Patrón, coronel capelão, desenvolveu importantes atividades no Vicariato Castrense. Oriundo de Extremadura, Espanha, foi grande orador sacro. Autor do livro Los curas de la Cruzada, autêntica enciclopédia dos heróicos sacerdotes que desenvolveram seu trabalho pastoral entre os combatentes da gloriosa Cruzada de 1936. É, ademais, um historiador do sacerdócio castrense. Faleceu em janeiro de 2004.



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NOTAS:



[5] Código de Direito Canônico (1983), Livro II, I Parte, Título III, Capítulo III:

Cân. 284 Os clérigos usem hábito eclesiástico conveniente, de acordo com as normas dadas pela Conferência dos Bispos e com os legítimos costumes locais.

Cân. 285 § 1. Os clérigos se abstenham completamente de tudo o que não convém ao seu estado, de acordo com as prescrições do direito particular.

§ 2. Os clérigos evitem tudo o que, embora não inconveniente, é, no entanto, impróprio ao estado clerical.

[6] Convém recordar: muitos sacerdotes e religiosos mártires pagaram com seu sangue o ódio à fé e à Igreja desencadeado nas terríveis perseguições religiosas dos últimos séculos. Muitos foram assassinados simplesmente por vestirem a batina. O sacerdote que veste a batina é para todos um modelo de coerência com os ideais que professa, uma vez que honra o cargo que ocupa na sociedade cristã.

Se é bem certo que o hábito não faz o monge, também é certo que o monge veste hábito e o veste com honra. Que podemos pensar do militar que despreza seu uniforme? O mesmo que do vigário que despreza sua batina!



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O Hábito e o Monge



PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA *



Parece acentuar-se em alguns meios a incompreensão quanto ao uso da batina por sacerdotes e religiosos. A sabedoria da Santa Igreja, entretanto, não falha. E é iniludível sua preferência pela batina.

Não parecerá de somenos o assunto? "Aquila non capit muscas". A Igreja não se preocupa com ninharias. E se Ela toma posição em face da questão é porque esta não é ociosa nem vácua.

* * *

Para compreendermos o pensamento da Igreja, devemos subir a considerações mais gerais.

Está na ordem natural das coisas que o homem espelhe sua alma na fisionomia, na voz, na atitude, nos movimentos. E como o traje deve revestir o corpo humano, é natural que o homem se sirva também dele como elemento de expressão. Tanto mais quanto o traje a isto se presta eximiamente.

Ora, a necessidade de expressão da alma é uma conseqüência imperiosa do instinto de sociabilidade. De onde, recusar ao homem esta possibilidade é, em si, falsear o próprio modo de ser da alma.

Por isto, os costumes sociais consagraram em todos os tempos e lugares certos trajes como característicos de profissões ou estado de vida, que exijam uma conformação de alma muito peculiar. E sempre se entendeu, com razão, que o traje profissional auxilia o homem a realizar inteiramente sua mentalidade. De um militar que tivesse antipatia à farda, de um juiz que tivesse ódio à toga, nada se auguraria de bom. Como, pelo contrário, negar respeito ao Clérigo que ama sua batina, e dela se ufana? Se um exército suprimisse o uso do uniforme, não levaria fundo golpe em seu espírito?

Dizer-se, pois, que o hábito não faz o monge, ou a farda não faz o herói, é e não é verdade. Com efeito, o homem não se torna monge, ou militar, autêntico só por adotar o traje próprio a tal estado. Mas o hábito monástico facilita ao homem de boa vontade tornar-se bom monge. E o mesmo se pode dizer da farda.

* * *

Como ilustrar, dentro dos estilos desta secção, o efeito da indumentária sobre o estado de espírito de um homem?

Para não melindrar a ninguém, abstemo-nos de exemplos muito recentes. E tomamos como material de estudo uma figura histórica que já começa a imergir na névoa de um passado remoto. Trata-se de Guilherme II, Rei da Prússia e Imperador alemão: o Kaiser, na linguagem caseira dos poucos brasileiros que ainda se ocupam dele.

Seria impossível contestar que Guilherme II foi militar até a medula da alma. Não foi grande general, nem era esta sua função. Mas sua mentalidade, seu estilo de vida, seu estilo de governo provam que como homem, como chefe de família, como soberano, o Kaiser foi sempre e antes de tudo um militar.







Ei-lo em um campo de parada, a transmitir o bastão de comando a uma alta patente. Esplendidamente fardado, montando com uma naturalidade cheia de garbo o seu corcel, o Imperador se sente visivelmente em seu elemento, numa situação em que se desdobra com segurança, com amplitude, com brilho, toda a sua personalidade. O rosto, o porte, o gesto, manifestam a paixão militar que, quanto mais se externa tanto mais se afirma.

* * *







Pelo contrário, em traje civil dir-se-ia que nem é o mesmo homem. Sua personalidade parece desbotada e sua atitude forçada. Suas qualidades militares transparecem na medida do suficiente para contrastar com a indumentária. Se o Kaiser e todas as suas tropas tivessem de usar tal traje civil, o exército alemão teria sido o que foi?

Evidentemente não. Porque, se a farda não faz o bom soldado, ajuda muito o militar a adotar o espírito de sua classe...

E porque não valeria para o Clero, mutatis mutandis, o mesmo princípio?

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* Artigo publicado na seção Ambientes, Costumes e Civilizações do mensário Catolicismo, Nº 62 - Fevereiro de 1956.





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SE A BATINA PERDEU TODA INFLUÊNCIA, POR QUE USÁ-LA DIANTE DO DOPS?



PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA * *





Dominicanos na Igreja de São Domingos das Perdizes em São Paulo. Nesse ambiente igualitário viveu Frei Betto


Um alegre grupo de rapazes. O que são? Estudantes? Comerciários? Quiçá operários? Os trajes nada indicam. Entretanto, trata-se de Dominicanos, fotografados sem batina, pela reportagem de uma revista carioca, na Igreja, de São Domingos das Perdizes, em São Paulo. Os leitores talvez estranhem. Pois, se é natural que cada qual se apresente com os trajes que lhe são próprios, é difícil compreender que esses Religiosos se deixem fotografar em trajes laicos. Se é verdade que o hábito não faz o monge, o bom monge, que se alegra realmente de ser monge, não prescinde de seu hábito.

A explicação para esta incongruente atitude dos jovens Dominicanos consistiria naturalmente em que o traje eclesiástico vai perdendo seu prestígio nos dias de hoje, o que obriga o verdadeiro apóstolo a prescindir dele, pelo menos em muitos casos, se quer alcançar alguma influência junto ao público.

* * *





No dia 2 de agosto p.p. jovens Dominicanos passeiam em frente ao edifício do Departamento de Ordem Política e Social, em São Paulo, em protesto pela detenção de Sacerdotes e estudantes envolvidos na agitação promovida pela UNE.

Na outra foto, dois moços de batina, um dos quais Dominicano, ostentam um cartaz alusivo.



Por que usar a batina nessa ocasião? Não é precisamente porque qualquer atitude da polícia contra eclesiásticos revestidos de traje talar indignaria o povo, enquanto o efeito seria muito menor se os eclesiásticos estivessem à paisana?

Como então não reconhecer a enorme influência que o traje talar conserva? E por que então abandoná-lo?

Uma incongruência a mais, no meio de tantas incongruências trágicas, características do momento que passa.

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* * Artigo publicado na seção Ambientes, Costumes e Civilizações do mensário Catolicismo, Nº 201 - Setembro de 1967.


Fonte: http://www.sacralidade.com.br/sacral2008/0190.batina.html




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