EDITORIAL
MISTÉRIO DA FÉ
Padre Vladimir Barbosa Hergert
Quando o assunto é religião, muitos preferem não opinar. O bom senso (ou o medo de conflitos) avisa: “
religião não se discute!”. São tantas as interpretações, tão distintas as idéias e, às vezes, até contraditórias, que desistir de aprofundar parece ser o melhor caminho. Há os “conciliadores” que pontuam: “
cada qual tem suas idéias, sua fé, suas crenças... é melhor não mexer”. Os superficiais dizem: “
Religião é tudo igual... no fundo é tudo o mesmo Deus!”. Os céticos alertam: “
É tudo enganação... religião é invenção dos homens!”. Os fundamentalistas profetizam: “
Se você não abandonar essa idolatria e passar para a minha religião, você não se salvará!”. Assim, em meio às ameaças, críticas, convencimentos, barulho, denúncias, explorações vamos querendo acertar (?) nossa vida com Deus. A questão é que, querendo ou não, crendo ou não, o assunto se impõe. Não há como viver sem considerá-o, não é coisa que se pode desprezar.
A palavra religião quer dizer “re-ligar”, “unir de novo” o homem a Deus, a criatura ao Criador, o imanente ao Transcendente, o-que-passa ao Eterno... Assim, a religião exercita o olhar do homem para além de sua história, do seu corpo, do seu mundo... Confere um significado maior à existência. Toda religião faz isto!
Qual a diferença, então, do Cristianismo? Por que ser cristão? Não bastaria alguns exercícios de meditação para alargarmos a consciência e nos darmos por satisfeitos? Cada qual não poderia encontrar o seu próprio Deus? Não seria mais democrático? Mais divino?
Pois é, a humanidade já tentou por vários caminhos fazer isto. Já cultuamos pedras, astros, estrelas, pessoas, entidades... Já fizemos templos para o deus da chuva, dos mares, do amor, da fecundidade, da riqueza... Já sacrificamos animais, plantas, pessoas para agradar os deuses... Já celebramos as colheitas, a vitória nas guerras, o massacre dos inimigos... Já usamos línguas diferentes, cantos e danças... Já ofertamos ouro, prata, pedras preciosas... Já rimos e choramos, já criamos e destruímos, já inundamos e pusemos fogo... Tudo parece possível em nome de Deus. Contudo isto não nos uniu, não nos reconciliou, não nos fez melhores...
Jesus é a novidade!
Ele inverteu tudo!
Invés de retribuição, gratuidade.
Invés de vingança, perdão.
Invés de privilégios, o “último lugar”.
Invés de ser servido, servir.
Invés de ser amado, amar.
Invés de fugir, enfrentar a cruz.
Invés de medo, coragem.
Invés de solidão, solidariedade.
Invés de julgar, acolher.
Invés de receber, dar.
Invés de condenar, salvar.
Invés de sacrifício, misericórdia.
Invés de ritualismo, oração.
Invés de “eu”, “nós”.
Invés de armazenar, partilhar.
Invés de enganar, ser verdadeiro.
Invés de matar, morrer.
Invés de ódio, amor.
Não se escondeu, Ele veio até nós! Já não precisávamos procurá-lo, Ele nasceu feito menino! Não buscou riqueza, pelo contrário, nasceu e viveu pobre! Renunciou os poderes políticos, sociais, culturais, econômicos, religiosos... Andava com as prostitutas, os pecadores, os miseráveis... Através de seus gestos para com as crianças e os doentes, de seu jeito de falar com o povo, através da sua preocupação com as pessoas, de seu cuidado para com os discípulos e para com os sofredores, ele mostrava o Amor. Não falava, fazia. As curas, os milagres, as palavras, os olhares, os toques... tudo era compaixão.
Um homem assim, tão humano, tão verdadeiro, tão pleno, que não nos engana, não esconde a realidade, não falsifica o mal... Um homem que enfrenta a morte, a dor, a perda, a solidão, a cruz... Um homem assim é capaz de nos convencer de que Deus é Pai, está autorizado a nos mostrar o caminho do Amor, está pronto para nos mostrar o Reino de Deus.
Não há outro caminho que não seja o Cristo! Mesmo os que não creem poderão experimentá-lo (sem saber!) se, honestamente buscarem o bem, a verdade, a justiça...
Quem poderia ser mais terno, mais preciso, mais cuidadoso, mais aberto, mais honesto, mais verdadeiro, mais iluminado?... “Este é o Meu Filho Amado, escutai o que Ele diz!”.
É verdade que religião não se discute! Vive-se! É verdade também que a dificuldade não está em Jesus, sua vida, sua proposta, mas em nós, que resistimos sempre ao seu convite! Como dizia Gandhi: “Eu só não me tornei cristão por causa dos cristãos!”.
Em tempo de confusão, de mistura da fé com dinheiro, de exploração da ignorância alheia (e até de suas ganâncias!), de enriquecimento ilícito de desvio dos bens da igreja, é necessário ouvir de novo:
“Se alguém disser a vocês: ‘Aqui está o Messias!’ ou ‘Ele está ali’, não acreditem. Porque vão aparecer falsos messias e falsos profetas, que farão grandes sinais e prodígios, a ponto de enganar até mesmo os eleitos, se fosse possível. Vejam que eu estou falando isso para vocês, antes que aconteça. Se disserem a vocês: ‘O Messias está no deserto’, não saiam!; ‘Ele está aqui no esconderijo’, não acreditem! Porque a vinda do Filho do homem será como o relâmpago que sai do oriente e brilha no ocidente.” (Mt.24,23-27)
Fonte: Jornal
“Nossa Igreja Católica”, Informativo Mensal da
IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO, Araras (SP), Setembro (Mês da Bíblia) de 2009, Ano IX, № 96, Página 2.
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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”
LUIZ ROBERTO TURATTI.