O QUE TRAZEMOS NO CORAÇÃO
A Quarta-Feira de Cinzas, abrindo o tempo da Quaresma, convida-nos à revisão de vida e à conversão, como preparação à Páscoa do Senhor. E a conversão se identifica, na prática, com ações de justiça.
Para o povo da Bíblia, as três principais obras de justiça eram a esmola, a oração e o jejum. Mas o ensinamento de Jesus chama a atenção para a hipocrisia que pode se esconder nas práticas de piedade.
A hipocrisia é a máscara que esconde, nas práticas religiosas, alguém preocupado somente em aparecer. Preocupado não com a busca da justiça, mas com a busca da própria vaidade. E então as palavras de Jesus, como sempre, iluminam nosso caminho, fazendo-nos pensar sobre o que trazemos no coração.
Dar esmola, mais que dar uns trocados aos necessitados para aliviar a consciência, é solidarizar-se com os que não têm condições de vida digna. Quando nos solidarizamos, realizando ações concretas em favor dos sofredores, mostramos a Deus que nossa esmola é, de fato, expressão de um coração solidário.
A oração ensinada por Jesus só tem sentido se feita com humildade diante de Deus e dos outros. Rezar é confiar em Deus, que nos atende quando rezamos no nome de Jesus, quando pedimos coisas boas – como o dom do Espírito Santo, o perdão e o bem dos outros. Assim mostramos a Deus que nossa oração é expressão de um coração confiante.
O jejum, privação do alimento, traz consigo a denúncia profética de um
mundo injusto, em que uns se deliciam com pratos caríssimos enquanto muitos morrem de fome. Quando nos preocupamos com o outro e conseguimos nos privar de algo por ele, mostramos a Deus que nosso jejum é expressão de um coração generoso.
O que conta é o que trazemos no coração. E Deus bem conhece nosso íntimo. Quem lhe entrega o coração e as boas ações em favor dos irmãos terá recompensa. Os que trombeteiam suas ditas boas ações aos quatro cantos serão conhecidos, mas talvez, em vez de Deus, encontrem somente o próprio orgulho.
Padre Paulo Bazaglia, ssp