Primeira missão dos cristãos no Egito: testemunho de vida
Entrevista com o patriarca da Alexandria dos coptas
Por Michaela Koller
ROMA, domingo, 28 de março de 2010
ZENIT.org
A Igreja católica copta no Egito, unida a Roma, conta com cerca de 200 mil fiéis, e é presidida por Sua Beatitude Antonios Naguib, patriarca da Alexandria dos coptas.
O patriarca de 75 anos, que tem sua sede sede no Cairo, ocupa o cargo desde 2006.
Em entrevista a ZENIT, evoca a situação do diálogo com o Islã, o sínodo especial para o Oriente Médio e o fenômeno do fanatismo.
–No final de fevereiro, uma delegação do Conselho Pontíficio para o Diálogo Inter-religioso fez uma visita ao Cairo. Foi recebida pelo xeque Muhammad Sayyid Tantawi, falecido logo depois. Qual a situação do diálogo inter-religioso no Egito?
–Patriarca Antonios Naguib: Nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2010, a comissão do Conselho Pontíficio para o Diálogo Inter-religioso veio ao Cairo para se reunir com a Comissão da El-Azhar. Esses encontros acontecem periodicamente, um ano em Roma e um ano no Cairo.
Esta é a estrutura oficial do diálogo inter-religioso entre o Vaticano e o Islã do Egito.
Outras autoridades locais pretendem reforçar os vínculos entre os muçulmanos e os cristãos no país. Os líderes das comunidades religiosas são visitados reciprocamente nas grandes festas.
Nós sentimos, contudo, a necessidade de intensificar essas relações, e sobretudo, de multiplicar a base, ou seja, as pessoas comuns. Essa é a única forma de estender a aceitação e a fraternidade dos outros, e de se opor ao fanatismo e ao extremismo.
–Comentando sobre os acontecimentos em Nag Hammadi na festa de Natal dos coptas, um muçulmano disse que os assassinos não eram muçulmanos, ainda que eles se autodenominem como tal. Os muçulmanos moderados condenaram esse crime. Mas qual é a percepção dos coptas? Consideram esse incidente isolado ou temem um clima cada vez mais hostil?
–Patriarca Antonios Naguib: Alegro-me de ouvir essa avaliação por parte de um muçulmano. É verdade que os muçulmanos moderados conderanam o crime. Existem muitos escritores muçulmanos que escrevem artigos objetivos muito bons.
Eles pediram para atacar as verdadeiras causas do fanatismo e do extremismo, sobretudo educativas, culturais e religiosas.
No que diz respeito aos coptas, esse crime foi um duro golpe que feriu seu sentido de pertença e de fraternidade no país.
–Fala-se da construção de uma nova igreja no centro do Cairo. Existe obstáculos para a construção dela?
–Patriarca Antonios Naguib: Não há nenhuma lei que proíba a construção de uma igreja. Mas há procedimentos e requisitos. As respostas às demandas de construção levam muito tempo.
Existe um projeto de lei unificado para a construção de lugares de oração. Foi apresentado no Parlamento e será estudado.
–O senhor vai participar do Sínodo Especial para o Oriente Médio? Se sim, qual será sua mensagem no Sínodo?
–Patriarca Antonios Naguib: Todos os bispos do Oriente Médio participarão no Sínodo Especial para o Oriente Médio. O enfoque é: testemunho e comunhão.
Nossa primeira missão em nossos países será realizada pelo testemunho de vida, entre nós e com nossos irmãos e irmãs muçulmanos e judeus.
E para que nosso testemunho seja autêntico e crível, deve fluir de uma vida de comunhão, em cada igreja católica. Também devemos encontrar as maneiras de viver e reforçar essa comunhão com as demais Igrejas cristãs, e com nossos irmãos muçulmanos e judeus.
–O número de mulheres que usam véu aumentou muito nesses últimos vinte anos. Esse é um sinal de evolução social na qual devemos ver o estabelecimento de um sistema integrado? O que o senhor acredita que são as causas dessa evolução?
–Patriarca Antonios Naguib: Sua observação é exata. Atualmente há muito poucos muçulmanos que não usam véu. O niqab (véu que cobre todo o rosto exceto os olhos, n.d.r) também é bastante visível.
Creio que essa evolução é o resultado da influência do Islã wahabita no país. O fenômeno teve início com a permanência dos trabalhadores egípcios em países do Golfo, e se espalhou rapidamente, de forma reforçada e generalizada. Foi convertido em um fenômeno social, que se impõe também nas famílias mais moderadas e abertas. Mas o feito indica também um aumento de fanatismo.
–Em que situação se encontram os meios de comunicação cristãos na língua árabe? Há também filmes cristãos?
–Patriarca Antonios Naguib: No Egito, os meios de comunicação cristãos em árabe são diversos. Há algumas revistas e jornais pertencentes às diversas Igrejas.
O Líbano era o único país do Oriente Médio que tinha emissoras de rádio cristãs. Télé Lumière também lançou um canal de TV, Noursat, que está se desenvolvendo cada vez mais.
Atualmente há vários canais de TV em árabe. A Igreja ortodoxa copta no Egito possui três. Esta Igreja realizou uma série de filmes religiosos que tem um grande êxito entre os cristãos coptas.