Estudo suíço afirma que a homeopatia tem efeito apenas psicológico e atua como placebo
Renata Leal
Os efeitos da homeopatia são os mesmos daqueles dos placebos (remédios sem princípio ativo, cujo único efeito é psicológico, decorrente da impressão de estar tomando um medicamento). É o que afirma um estudo da Universidade de Berna, na Suíça, publicado na semana passada na revista médica The Lancet. Para chegar a tal conclusão, foram comparados os resultados de 110 pesquisas com pacientes tratados com homeopatia a outros 110 com alopatia, para problemas que vão de infecções respiratórias a recuperação cirúrgica. Nos estudos menores e nos considerados menos rigorosos, as conclusões mostram que a homeopatia é ligeiramente mais efetiva que os placebos. Já nos maiores e mais rigorosos, nem isso se comprovou. Em seu editorial, a The Lancet sugere que os médicos sejam corajosos e honestos com seus pacientes sobre a falta de benefícios da homeopatia.
De um total de
110
testes com homeopatia e outros
110 com alopatia, cientistas concluíram
que a homeopatia age como placebo
“Na alopatia, cada remédio atua em determinada doença. O resultado igual ao do placebo na homeopatia decorre do fato de tratarmos o todo. Cuidados do emocional para levar o paciente à cura”, teoriza o presidente da Associação Paulista de Homeopatia, Ariovaldo Ribeiro Filho. Para ele, um dos diferenciais é que o médico homeopata ouve o paciente, procura entendê-lo – comportamento pouco comum entre os alopatas. Daí as “bolinhas” se mostrarem particularmente eficazes em doenças de fundo emocional. Muitos seguidores da homeopatia unem as duas formas de tratamento. “Se tenho um paciente hipertenso, indico um médico alopata. É preciso usar racionalmente as duas correntes”, explica o professor titular de Homeopatia na Universidade Federal de Uberlândia, Flávio Dantas.
SEM EFEITO
Estudo indica que, se comparada
com a alopatia, a homeopatia
tem o mesmo afeito de uma
pílula de farinha
Por conta dos resultados, o governo suíço decidiu retirar os investimentos em terapias alternativas – incluindo a homeopatia – de sua rede pública. Não vê nelas eficácia e vantagens que justifiquem os custos. No Brasil, desde que a homeopatia foi reconhecida como especialidade médica, em 1980, cerca de 15 mil médicos fizeram o curso de especialização. “A rede pública tem diversos exemplos de tratamento com homeopatia. Juiz de Fora e Rio de Janeiro já contam com farmácias homeopáticas públicas”, destaca o presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira, Hélio Bergo. O principal receio dos médicos é que a repercussão do estudo suspenda verbas para pesquisas futuras.