GOPPELT, Leonhard – Teologia do NT: instruções éticas de Jesus. São Leopldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 1976, 109-145.
O rico e suas propriedades: justiça?
O arrependimento é quase um conceito coletivo resumindo o que Jesus espera do homem: seguir e crer, discipulado e fé. É a volta da criatura ao criador e, ao mesmo tempo, a compreensão do reino que há de vir: isto abrange todo o mundo com uma nova compreensão.
O rico e o pobre – o problema está naquele que nada mais quer do que ser rico, quem se compraz na riqueza, nada mais receberá d Deus. Ou seja, o problema é o desprezo de Deus em relação à impossibilidade de esperança dos pobres, que se entregam totalmente a Deus. Por isso o rico é louco, porque acha que pode viver sem Deus. (Sl 14, 1)
No discipulado Jesus aponta essa divergência mostrando que não se deve apegar-se às coisas passageiras desse mundo, mas reconhecer o Senhor do Reino, que é bom e fiel, onde tudo é eterno e tem valor, valor esse que se mostra desde já na vida do discípulo. (Mc 10, 17-27 – o jovem rico)
Afinal querer garantir sua própria existência sem reconhecer os mandamentos de Deus é característica de morte, que reflete nas ações, que precisavam ser corrigidas pelo instaurador do Reino. Por fim, não se pode servir a Deus e às riquezas. (Mt 6,24 )
Jesus contraria os caminhos de seu tempo, pois não corrobora com os fariseus que queriam submeter a propriedade à justiça, nem como os essênios, suspende-la como uma nova estrutura social – é um novo estilo de vida pautado na vontade de Deus, em seus mandamentos de reconhecimento a Ele e ao próximo que o discípulo tem que apreender.
Chamado ao arrependimento
A questão dos hipócritas, que é o ator que representa algo diferente do que é no real, se desdobra nos esclarecimentos dos evangelhos, pois eles sobrecarregavam os homens com fardos pesados; enganavam a si mesmos e aos outros também; e buscavam prestígio próprio. Falar e não viver ainda hoje continua a ser um problema enorme, discrepância que deve ser corrigida no discipulado de Jesus, pois no Reino não se aceita hipócritas.
Jesus e a Lei
Da Torá tiravam-se interpretações (Halaká/tradição) 118 que determinavam o comportamento das pessoas, interpretações essas que variavam conforme os partidos judeus. Claro, toda interpretação depende do contexto e da vontade de quem a faz, logo, no Reino de Deus as interpretações tem que partir da visão de Deus, que não deixa que a enganação tome lugar da verdade divina. Assim, curar uma mulher no sábado pode ferir a Lei, e a pergunta “quem é o meu próximo” vem à tona, pois é um fingimento ter o poder de cura e não o usar em benefício dos necessitados. Jesus rejeita a Halaká/tradição que vive de aparências e não realiza a vontade de Deus – vontade que é reavivada com o evento Jesus.
É tempo de acabar com a distinção impuro/puro do At, Jesus anuncia a pureza total que corresponde ao final dos tempos. (os ecumênicos ficariam felizes com uma boa interpretação dessa leitura)
Em relação ao sábado Mc 3,4 – é lícito no sábado fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou tirá-la? Essa pergunta apresenta uma alternativa que abrange todo o comportamento humano. É no real que o Reino de Deus se apresenta, as ações que correspondem à vida. Jesus cura no sábado para ensinar a nova abrangência total do Reino. Afinal, Jesus é senhor do sábado e quer coloca-lo à serviço da vida. É uma visão escatológica-cristológica.
O conteúdo das exigências de Jesus se resume em arrependimento total frente à uma mudança que sai do plano interpretativo/fantasioso, para o real, para a relação do Eu-tu que são características do Reino de Deus. (135) Exige demonstração de amor ao próximo, assim como o reconhecimento do divino que provocou a mudança, pois se arrepende em contato com as orientações de Jesus.
Servir ao invés de ser servido demonstra a nov atitude social do Reino. Mc 10, 42-44.
O crer e o discipulado são vertentes que apontam para o Reino escatológico. É na vida que alcançamos os preceitos de Jesus, algo relacional e não estático, por isso a dificuldade de esclarecimentos lógicos das regras do reino; não há caminhos pré-estabelecidos, pois só Jesus viveu perfeitamente, há caminhos indiretos para uma vivencia do reino escatológico, onde caminhamos com a esperança vivida em cada instante em Deus mostrando-nos e servindo ao próximo – é uma relação.