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Das tantas explicações do porquê a maioria daqueles que acreditam em Deus insistem em atribui-lo características humanas, a mais plausível e coerente foi a de Espinosa. Talvez porque ele tenha justamente pensado um deus completamente diferente daquele vigente até então e o qual ainda perdura nos cultos judaicos, cristãos e muçulmanos – a de que Deus criou o mundo e o homem a sua imagem e semelhança, como descrito no Gênesis 1,27(1). -- Pois, para Espinosa, Deus é “o ente absolutamente infinito”(2) e “tudo que existe, existe em Deus, e sem Deus nada pode existir nem ser concebido”(3). E de mais a mais, “Deus age somente segundo as leis da sua natureza, sem ser constrangido por ninguém”(4), portanto, acreditar “que Deus, à semelhança do homem, é composto de corpo e de alma” e “sujeito às paixões […] é a coisa mais absurda que dizer se possa de Deus”(5). E mais: “... o triângulo, se tivesse a faculdade de falar, diria isso mesmo, que Deus é eminentemente triangular, e que o círculo diria que a natureza divina[Deus] é circular de modo eminente; e pelo mesmo motivo, todo mundo atribuiria a Deus seus atributos e se faria similar a Deus”(6). É esclarecedor não acham? Aliás, a proposição XVII, supra citada, põe por terra a crença de que Deus esteja sempre ao nosso dispor, a fim de atender aos nossos pedidos. Não por acaso, Espinosa tenha sido excomungado pela comunidade judaica de Amsterdam em 27 de julho de 1656.

NOTAS
(1) “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher.”
(2) “Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita”, Ética, I, definição VI
(3) Ética, I, prop. XV
(4) idem, prop. XVII
(5) idem, prop. XV, demonstração.
(6) Correspondência, 1988, p. 403