Embora muitos, movidos pela fé, veem no comportamento do papa Francisco, com a sua simplicidade, uma atitude digna de um líder religioso, a mim, um ateu, tal atitude não me parece tão desinteressada assim. Nenhum ser humano faz algo sem que por trás disso haja um desejo, o qual é inerente a nossa vontade deliberada e portanto é quem de fato nos leva a agir dessa ou daquela forma. De forma que o desejo do papa, desde a escolha do nome Francisco (nesse caso a deliberação teve um peso decisivo, uma vez que tal escolha só foi possível a posteriori, depois de pesar os prós e os contra de tal escolha e do fato de se tratar dos franciscanos, uma ordem que prega a miséria e a simplicidade) até o papel que ele teria de desempenhar após tê-lo escolhido. É obvio que seu estilo de vida e a visão que ele tem do homem pesou nessa escolha, mas não foi só isso. Vivemos numa época consumista, onde a ostentação, a riqueza e o luxo não encontram limites. Claro que isso faz parte do ideal humano, uma vez que o luxo e a ostentação nos faz experimentar uma infinidade de prazeres. No entanto, como o ser humano é insatisfeito por natureza, uma vez que um desejo satisfeito deixa um vácuo, o qual é imediatamente ocupado por um novo desejo normalmente mais desafiador do que o primeiro, nunca será capaz de se satisfazer e continuará incansavelmente em busca de mais. Apesar desse fenômeno não ser recente – é tão antigo quanto a própria humanidade --, é no último século que se tornou mais evidente. E o fato das pessoas passarem menos necessidades e ao mesmo tempo terem um maior número de desejos realizados, gerando consequentemente uma maior quantidade de prazeres, leva inevitavelmente à sensação de que a religião não é fundamental, provocando-lhe o afastamento das instituições religiosas. E a prova disso, principalmente nos países católicos como o Brasil, é a queda do número de católicos, os quais ou abandonaram a fé ou migraram para igrejas protestantes, as quais pregam inclusive a riqueza, o luxo e a ostentação como uma dádiva de Deus. O que o papa Francisco quis com sua atitude foi: de um lado, se contrapor veemente às igrejas protestantes; e, por outro lado, condenar esse desejo tão vulgarizado hoje em dia de enriquecer-se a qualquer custo, o que tem levado o homem à ostentação, ao culto ao corpo e busca desenfreada da beleza, quando, na visão do cristianismo, a vida terrena deve ser de sacrifício em detrimento da verdadeira vida eterna, para a qual devemos sim nos preparar. Ao agir dessa forma o papa Francisco pode realizar talvez um de seus desejos ocultos: o de ser uma mistura de São Francisco de Assis com o apostolo Paulo, para muitos o verdadeiro fundador do cristianismo.
LEIA TAMBÉM:
OS FARAÓS E A ORIGEM DE DEUS
DOS MILAGRES
A RENÚNCIA DE BENTO XVI
O DEUS ANTROPOMÓRFICO DOS RELIGIOSOS
A IRRACIONALIDADE DA CRENÇA
OS SACRIFÍCIOS EM NOME DA FÉ
OS NIILISTAS ALIENADOS
QUANDO A FÉ É PREJUDICIAL
PELOS TERREMOTOS DA DÚVIDA
A EXPANSÃO DO ATEÍSMO
A TERRA EM EFERVESCÊNCIA
A LIBERALIZAÇÃO DAS DROGAS
MITO DA CAVERNA E CRISTIANISMO
NOSSAS VERDADES
INTERMINÁVEL SATISFAÇÃO
FALTA DE PROFUNDIDADE
POR PATES
NÃO DEIXE DE LER: 30 TEXTOS MAIS LIDOS DA USINA NOS ÚLTIMOS 6 MESES
|