Queria Ser
Queria ser um escriba antigo que às vezes
Se sente visitado por um velho amigo.
Escreve, escreve aí: diz ao mundo porque
Parti.
Que ideia grega mais nociva.
SE ainda tivéssemos alcançado um nível
De consciência mais avançado...
Escriba, não escrevas nada.
Por enquanto vigia e ora.
Ainda não chegou a hora.
O que escreveres será ridicularizado,
Descartado.
Como Ulisses quando chega àquela ilha
Deserta, não entres em desespero.
Regozija-te: enfim só.
Chegaste à ilha do sol.
A ilha que te pode proporcionar um estado
Paz tal que se confunde com iluminação,
Com um estado de bem-aventurança.
Um portal que te livre de todo o mal.
A zona de intersecção do Céu e da Terra
Dali já se avista a fonte da vida.
Dali já se vê a nascente dessa fonte
Transcendente.
A ciência já começa a encostar nesses
Traços de luz a riscar o céu da Terra.
A luz que vivifica todas as coisas.
Transmuta, limpa, restaura.
Luz que vai e vem.
Nós somos parte dessa luz.
Participamos desse vai e vem também.
O que devemos reverenciar?
Onde estão esses lugares sagrados?
Não existem mais, foram desvirtuados.
Mas somos de rebanho, não importa a
Religião, todos, sem distinção, estão ali
Com a mesma intenção.
Como um Xamã a levantar os olhos para o Céu.
A pedir a sua proteção.
A chamar pelo piloto mais adestrado
Para conduzir esta nave espacial.
Só ele sabe que manobras fazer
Para a elevar e a fazer pousar em
Outro patamar.
Black Elk aos nove anos viu:
“ eu vi a mim mesmo na montanha
Do centro do mundo.
Tive uma visão:
Eu via o modo sagrado de ver o mundo.
Eu via que a montanha do centro do mundo
Está em toda a parte.
Nós somos a montanha do centro do mundo.
Ela está em nós.
O corpo como eu o via era um veículo de carne
E osso.
Em algum espaço deste corpo há um armário
Onde fica a lâmpada que armazena a luz da vida.
No rito de passagem a lâmpada se faz veículo
E segue.
Já não é mais daqui”.
Lita Moniz
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