Usina de Letras

Como muitos devem saber, Ateu é aquele que não acredite em Deus ou em deuses e portanto não tem religião, já que praticamente todas cultuam algum deus. Mas ser ateu vai além da descrença em deuses, uma vez que o ateu deve negar não só todo e qualquer tipo de religião como também os meios usados por ela para manter seu poder, como por exemplo os métodos de aliciamento: tais como a ameaça, persuasão, ofensa e até mesmo a violência. Pode parecer absurdo, mas todas as religiões, umas mais outras menos, usam as mesmas armas não só para angariar novos adeptos como também para manter seu rebanho. Quem nunca ouviu, por exemplo, um cristão dizer: “se você não crer em Deus sua alma vai queimar no inferno”, “Deus vai te castigar”, “Quem não obedece a Deus obedece ao diabo”, “Você precisa acreditar em Deus, pois só ele te salvará” e coisas do gênero? Quem nunca foi atender à porta e lá estava alguns membros de uma igreja para falar de Jesus? Tudo isso são formas de persuasão, um meio de manter o indivíduo sob o julgo da seita à qual pertencem seus familiares e as pessoas mais próximas. Mas há ateus quem usam métodos parecidos ou até piores para pregar o seu ateísmo. Esses, na realidade, não são ateus, mas pessoas que trocaram uma religião por outra, transformando o ateísmo numa religião, com os mesmos vícios das religiões tradicionais. Aliás, até bradam aos quatro ventos, como um pregador, o seu ateísmo. Ateu que é ateu não prega o ateísmo. Ele simplesmente o é e ponto final. Sabe que negar a existência dos deuses é uma opção pessoal, tomada muitas vezes após longa e profunda reflexão, usando a razão, a ciência e os grandes pensadores como guias, por isso jamais tentará convencer um crente a deixar sua crença. É uma tremenda perda de tempo. Embora vivemos numa sociedade profundamente influenciada por princípios religiosos, o que torna difícil deixar as amarras da moral religiosa, ainda sim um ateu não deve impor o ateísmo como se fosse uma nova religião. No máximo, expor suas razões por ser ateu. Da mesma forma que o homem acreditava nos mais absurdos mitos e depois passou a venerar um número menor de deuses até chegar ao monoteísmo dos últimos dois mil anos, o homem do futuro abandonará a crença em deuses. Como não reconhecer as palavras de Nietzsche, quando ele diz que "em nossos tempos, a religião cristã é certamente uma antiguidade que irrompe de um passado remoto, e o fato de crermos nessa afirmação é talvez parte mais antiga dessa afirmação." Será um processo lento e gradual, como vem ocorrendo em todo o mundo atualmente. Mas é um processo inevitável que faz parte da evolução humana. E não há como impedi-lo. Em vários países da Europa os ateus já são a maioria da população. E esse é um fenômeno que vem se espalhando. E lá, com algumas exceções, as pessoas simplesmente não falam de religião e esta não tem influência alguma no cotidiano delas. Se a pessoa é ateu ou segue alguma crença, isso é problema dela e ninguém tem nada com isso. Por outro lado, nos países onde a religião exerce um papel modulador, tanto os ateus quanto os crentes não só tentam impor sua vontade como ridicularizam quem está do outro lado, o que é um erro, um erro que só leva ao extremismo. E de extremismo, o mundo já está farto! Mas isso também faz parte de um processo inevitável.