Natural de Brazópolis ou Brasópolis (MG), aos 20/04/1921, filho de Joaquim Ignácio Fernandes e de D. Joana Rosa Bordignon Fernandes, faleceu de problemas cardíacos e leucemia, em Araras (SP), aos 84 anos, no dia 22/03/2006, quarta-feira, por volta das 3h00.
PROFESSOR E MESTRE – Antes mesmo de se tornar padre, Luiz foi muito benquisto como Professor e Mestre de Português, especialmente nos Seminários, Colégios e Oratórios Salesianos por onde passou. Segundo o Padre João Modesti, era ele um exímio Professor e Mestre de Português, dos mais dedicados, preparados, exigentes, criativos, pacientes.
ESCRITOR – O Padre Luiz escreveu incontáveis artigos, poesias, três livros com mais de 300 páginas:
Dona Beija em Versos, Atualidades e Reminiscências (Segundo a Novela: Feminista ou Vítima?);
Ele e Ela – A Dignidade da Mulher na Ciranda Cultural (Objetivo Geral: Cooperar para que a Mulher volte ao plano moral em que ela foi criada) e
Maria Cheia de Graça (Interpretações Mariológicas das Invocações da Ladainha Lauretana). Foi um dos Mariologistas mais respeitados entre os Salesianos.
Escreveu também três fascículos para a juventude, visando a sua formação moral:
Verdadeiro Amor (A grandeza do verdadeiro amor matrimonial);
A Lógica da Minha Crença (Somente a Igreja Católica nos ensina como chegar a Deus) e
Maria de Nazaré, a Mais Linda Debutante (A liberdade responsável da jovem nos seus 15 anos).
Sua última tarefa como escritor foi preparar, a pedido do atual Diretor dos Salesianos em Araras, Padre Tarcísio dos Santos, a
CARTA MORTUÁRIA DO PADRE JOÃO MODESTI, com quem ele conviveu por 14 anos, somente em Araras, cujo trabalho, concluído em janeiro de 2006, dedicou, dia e noite, com muito afinco e responsabilidade, o que lhe trouxe certo orgulho, tendo em vista estar escrevendo sobre alguém muito inteligente, com quem muito aprendeu, respeitou e admirou.
PADRE E EDUCADOR – Padre Salesiano de Dom Bosco, fez sua Primeira Profissão em 30/01/1951, sendo Ordenado Sacerdote no dia 30/01/1971, aos 49 anos. Fidelíssimo e exemplar defensor da Doutrina da Igreja e do Santo Padre, o Papa, foi um corajoso crítico dos colegas padres, muitas vezes tomados pela vaidade, arrogância, grosseria, atitudes impróprias, reprováveis a quem escolheu arrebanhar “ovelhas desgarradas”, através da Igreja de Cristo. Repetia sempre que, pela falta de padres, bem preparados, muitos nem sempre faziam uma Catequese precisa, necessária aos fiéis, tanto durante as Missas, nas Confissões e até mesmo como exemplo no dia-a-dia. “Antes de catequizar, o padre tem de ser bem catequizado, preparado, respeitador”, dizia.
ESPORTISTA – O Padre Luiz era muito dedicado aos esportes em geral (estava sempre por dentro de todos; entendia e sabia tudo sobre campeonatos; olimpíadas; torneios; classificações; favoritos; lanternas; tudo, tudo, sobre esportes), especialmente ao futebol, que durante toda sua vida religiosa usou para atrair e arrebanhar muitos milhares de crianças e jovens, quase sempre abandonados e aprendendo coisas erradas nas ruas.
No início de março de 2006, poucos dias antes de ser internado, quando sua doença já começava a se agravar brincava, sempre rindo e muito bem humorado, dizendo que se sentia contundido e que falaria com o Parreira, técnico da Seleção Brasileira de Futebol, para substituí-lo na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.
EM ARARAS – Conviveu entre 1991 e 2006 na Comunidade Salesiana do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, Oratório São Luiz e Centro Juvenil Salesiano “José Zurita”, localizado no Bairro Jardim Cândida, cuja Obra o Padre Luiz dirigiu nos últimos anos, até 2001, quando, contra sua vontade, foi vendido, em razão da baixa freqüência de oratorianos naquele bairro.
Com esse dinheiro os Salesianos de Araras iniciaram a construção do Oratório Dom Bosco, no Parque Dom Pedro, na Zona Leste de Araras. Inaugurado em 27/04/2002, lá o Padre Luiz também dedicou muito amor e carinho àquelas crianças carentes, até poucos dias antes de sua última internação e morte. Vale registrar que a idealização do Oratório Dom Bosco partiu do Padre Luiz, já em 1999.
Padre Luiz no bambual de entrada da
Fazenda Santo Antonio (Araras-SP),
em 22 de Outubro de 2000
ASSISTÊNCIA – É bom que se diga que os fiéis das Comunidades “Mãe Rainha – Dom Bosco” (Jardim Ouro Verde); “Sagrado Coração de Maria” (Jardim Luiza Maria) e “Nossa Senhora Aparecida” (Núcleo Caio Prado), foram assistidas pelo Padre Luiz, por muitos anos, até o fim de sua vida, especialmente nas Confissões e nas Missas dominicais. Esporadicamente atendia à Comunidade de “São Sebastião” (Jardim Copacabana) e a Capela de “São João” (Usina São João), entre outras.
RECONHECIMENTO – Nos últimos dias e momentos de sua vida, quando se encontrava internado no hospital da Unimed, homens, mulheres e jovens, principalmente das Comunidades acima citadas, revezavam-se entre si, a cada duas horas, 24 horas por dia, nunca deixando que o Padre Luiz se sentisse só ou ficasse sem Assistência Espiritual. O Padre Luiz, pela sua humildade, compreensão, dedicação, foi muito querido e importante por todos que o conheceram e que com ele conviveram.
LOCUTOR – Desde a inauguração da Rádio Católica “Araras – FM”, em 15/08/2003 (dia consagrado à Padroeira de Araras, Nossa Senhora do Patrocínio), mantinha, aos sábados, no horário das 11h00 às 11h30, mesmo já adoentado, o Programa “A Voz do Padre”, por sinal de grande audiência.
Atento e preocupado com o bom nome da Igreja, sempre perguntava aos mais próximos o que estavam achando da programação. Era uma espécie de sensor, no mais democrático sentido da palavra, e sabendo que algo de errado havia sido dito, ou fora de propósito, imediatamente telefonava lá ou ia pessoalmente para reparar o infortúnio.
INJUSTIÇA – Apesar de 15 anos em Araras, trabalhando, confessando, aconselhando, convertendo, incontáveis de desesperançados, jovens e adultos, nunca o Município concedeu ao Padre Luiz sequer uma única honraria, das quais ele era terminantemente avesso, é verdade, mas, merecedor, pelos tantos e tantos préstimos em favor da população ararense, assistida pelos Salesianos já há mais de 100 anos.
Assim foi o Padre Luiz,
durante toda sua vida:
despojado, humilde,
simples, fiel, santo!
DESPEDIDA – Seu corpo foi velado no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, desde as 7h00, do mesmo dia 22/03/2006.
Dentre muitos amigos e admiradores, de todas as cidades por que passou, veio de Brazópolis sua irmã caçula Sebastiana Inácio Fernandes Farias, acompanhada de suas três filhas: Dorotéia, Terezinha e Lúcia, além de Antonio Maria, filho do irmão do Padre Luiz, Sr. Antonio, muito doente, a ponto de nem reconhecer as pessoas.
Houve Missa de Corpo Presente às 16h00, oficiada pelo Senhor Bispo Diocesano de Limeira (SP) Dom Augusto Zini Filho, e concelebrada por pelo menos 40 padres: Salesianos, Diocesanos e de outras Congregações, vindos de todas as partes da Capital e do Interior de São Paulo, entre eles o Senhor Padre Inspetor Marco Biaggi, responsável pela Inspetoria Salesiana de São Paulo.
Além do Senhor Bispo, fizeram uso da palavra, o Padre Inspetor Marco Biaggi; o Padre Tarcísio dos Santos, Diretor da Obra Salesiana de Araras e o Padre Vladimir Barbosa Hergert, Vigário Episcopal Diocesano e Pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio, de Araras.
Seu sepultamento deu-se em seguida, no Cemitério Municipal de Araras, em jazigo perpétuo dos Salesianos, o qual foi acompanhado de grande cortejo, mesmo com forte chuva.
Descanse em Paz,
AMIGO Padre Luiz Ignácio Bordignon Fernandes!
CURIOSIDADES
ENCONTRO COM O PRESIDENTE DA REPÚBLICA – Luiz Ignácio Bordignon Fernandes nasceu e sempre morou na Zona Rural, no Bairro Can-can. Desde criança ajudava os pais na roça, na lavoura, lá em Brazópolis, até antes de ir para o seminário, em 1945. Certa vez, quando ainda garoto, pediu dinheiro à mãe para comprar alguns materiais escolares que estavam lhe faltando. A mãe, sem o dito dinheiro, mandou que o menino Luiz pegasse um frango no galinheiro e o vendesse na cidade para com o dinheiro comprar os materiais. E lá foi ele com seus cadernos num dos braços e no outro o frango, cujo valor para a venda fora estipulado pela mãe em 1.300 réis.
Chegando à cidade iniciou a difícil tarefa de vendê-lo. Numa das casas que o menino Luiz bateu um senhor que fumava cachimbo e lia jornal na varanda, atendeu-o e o interpelou interessado no frango, no que ele respondeu que estava vendendo para comprar alguns materiais escolares. Aquele senhor então perguntou quanto ele estava pedindo pelo frango... Imponente, porém sensibilizado com o menino Luiz Bordignon, aquele senhor ofereceu um valor superior ao avaliado pela mãe do garoto: 1.500 réis! Desconhecedor que ainda era de valores, e orientado pela mãe a tomar cuidado com exploradores, Luiz simplesmente recusou aquele valor e insistiu que se não pagasse o que a mãe lhe havia dito não o venderia... Então aquele senhor, vendo a ingenuidade do menino Luiz, disse-lhe que não pagaria nem 1.300 e nem 1.500 réis, mas, pagaria agora 1.800 réis e que o assunto estava encerrado! Nesse momento bateu o sino do Grupo Escolar e Luiz, preocupado com a aula, concordou, porém ficou muito apreensivo, pois, além de não haver conseguido comprar os materiais a tempo, ficou com medo da bronca da mãe.
Ao retornar para casa, contou à mãe o ocorrido, no que D. Joana começou a rir... Então, para seu consolo, D. Joana disse que aquele bondoso senhor havia-lhe pago mais do que o valor por ela estabelecido...
Muitos anos se passaram e aquela criança que ainda desconhecia as vaidades do mundo veio saber quem era aquele homem: ninguém mais, ninguém menos, que o Dr. Wenceslau Braz Pereira Gomes, o Wenceslau Braz, que tinha sido Presidente da República Federativa do Brasil entre 1914 e 1918, e que era natural de Brazópolis, assim como o Padre Luiz (cuja cidade passou a se chamar Brazópolis a partir de 1926, para homenagear o Cel. Francisco Braz Pereira Gomes, pai do ilustre Wenceslau Braz).
ACIDENTE COM AVIÃO – Certa vez, no Rio Paraíba, quando este ainda era bem fundo, um avião de instrução desgovernado caiu exatamente por sobre o barco que Luiz Ignácio pescava, obrigando-o a nadar até a margem e constatar que não havia sofrido nenhum ferimento, nenhum arranhão. O mais curioso nesta história, e que o intrigou até a morte, é que ele não sabia nadar! Nunca compreendeu como saiu vivo desse violento acidente e sem se afogar! Em todos os momentos difíceis da vida, até a morte, sempre se questionava: “O que Deus está querendo de mim?”. Para bom entendedor, tudo na vida do Padre Luiz foi Providencial!
CONFUSÃO – LIB: Luiz Ignácio Bordignon ou Bordignhon, como preferia assinar e ser reconhecido, tendo em vista ser o sobrenome da mãe – por quem dedicava verdadeira veneração –, causou muitas confusões, a si próprio, no decorrer da vida. Imaginem que nas escolas; quando entrou para o seminário; quando comprava alguma coisa; nos documentos bancários; para todos os efeitos ele tinha de apresentar documentos e, quando se procurava por Luiz Ignácio Bordignon Fernandes, este nunca existia.
RESUMO DA VIDA RELIGIOSA DO PADRE LUIZ
Aspirantado: Lorena – 1945 a 1949 (Colégio São Joaquim)
Noviciado: Pindamonhangaba – 1950
1.ª Profissão: Pindamonhangaba – 31/01/1951
Filosofia: Lorena – 1951 a 1953
Tirocínio: Lorena – 1954 a 1956
Votos Anuais: Lavrinhas – 1957 e 1958
Votos Perpétuos: Lorena – 24/03/1958
Auxiliar Assistência: Lorena – 1958 a 1963
Teologia: São Paulo – 1964 a 1967 (Instituto Pio XI)
Auxiliar Assistência: Piracicaba – 1968 a 1971
Ordenação Sacerdotal: Piracicaba – 30/01/1971
Oratório: Piracicaba – 1971 a 1980
Oratório: Americana – 1981 a 1990
Oratório São Luiz: Araras – 1991 a 2006.
LUIZ ROBERTO TURATTI,
Ex-aluno do Oratório São Luiz,
Araras (SP), 20/04/2006.
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“Fora da VERDADE não há CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”
LUIZ ROBERTO TURATTI.