Alguns jardineiros conversavam, num belo jardim, sobre a natureza viva. Aproximaram-se de um flamboyant, coalhado de flores e falavam daquela vistosa árvore.
Um dos jardineiros disse que era apenas uma árvore. Outro jardineiro, que aquela árvore era um flamboyant, pois na rua onde morava haviam várias árvores semelhantes aquela. Um outro jardineiro falou que os flamboyants só servem para fazer sujeira na calçada, quando derrubam as flores, pois isso é o que sua esposa sempre lhe diz. Outro jardineiro disse que recentemente havia cortado um flamboyant que ficava em frente da sua casa, pois suas raízes racharam o muro de sua casa. Outro jardineiro, ainda, achava que a madeira daquela árvore deveria valer algum dinheiro. Mas havia o jardineiro, de nome LUIZ, de alma sensível, que começou dizendo que via ali muito mais que uma árvore.
Disse que via as flores, muito belas por sinal, mas que também podia sentir seu suave perfume. Chamou atenção para as abelhas que pousavam de flor em flor, e também dos pássaros que buscavam refúgio em seus galhos aconchegantes. Lembrou que todos estavam sob a sombra generosa que as folhas propiciavam, e apontou para alguns insetos que passeavam, ligeiros, pelo tronco gentil. Falou, ainda, das muitas vidas que encontram guarida naquele flamboyant desprendido, como liquens, musgos, pequenas bromélias e outras tantas formas de vida que se podia perceber.
“Eis o que percebo”: afirmava o jardineiro LUIZ, com a espontaneidade de um pequeno-grande poeta.
Amigos e amigas, irmãos e irmãs, na minha opinião, o jardineiro LUIZ da estorinha acima, representa exatamente como foi, como é e como sempre será nosso querido PADRE LUIZ IGNÁCIO BORDIGNHON FERNANDES.
Existem pessoas que não percebem os flamboyants floridos em praças, bosques e ruas. Elas são muito ocupadas para perder tempo com coisas sem importância. Tem pessoas que definem flores e folhas apenas como sujeira indesejável. Outras preferem cortar árvores de dezenas de anos, para que não rachem seus muros e calçadas de cimento. Existem também aquelas para as quais os flamboyants representam alguns cifrões que cortados poderiam oferecer madeira para lenha ou se transformar em belos móveis. Mas, felizmente, há aquelas pessoas, como o pequeno PADRE LUIZ, que vêem muito mais que uma simples árvore. Vêem o autógrafo do Criador, na majestosa obra da natureza.
Fico embevecido, encantado, com a oportunidade de ter convivido com este jardineiro de almas, de nome LUIZ, que reverenciava e respeitava a vida na sua mais ampla forma de expressão, que amava Nossa Senhora com um amor intenso e todo especial, que achava inconcebível a idéia de uma pessoa não orar, que em suas orações sempre rezava por todos os seres humanos, pedindo para que o bom Deus, protegesse e abençoasse tudo o que respira, preservando de todo o mal!
PADRE LUIZ, apenas um Padre, com somente “oitenta e tantos” anos de idade, mas com uma consciência lúcida sobre o que é respeitar e reverenciar a vida. Apenas um Padre, mas sempre com a certeza de que amar a Deus sobre todas as coisas quer dizer, em primeiro lugar, respeitar sua obra, e todas as coisas por Ele criadas.
Amigo Padre Luiz. Fique com Deus!!!
Adaptado do livro “Minha infância e mocidade”, de Albert Schweitzer, Edições Melhoramentos, São Paulo.
Ailton Roberto Zambon,
Salesiano Cooperador.