E então, filho, dá para me ajudar hoje?
Ô pai, bem que eu queria, quero aprender a lidar com a enxó com mais destreza, mas o que acontece é que tenho que ministrar uma aula de panificação em Jericó...
O negócio dos pães ainda rende?
Ah, sim, muito interesse do povo, assim também como o dos peixes, que a lagoa de Siloé anda dando uns bem graúdos...
Mas vê se você dá uma parada hoje, fio. Vou receber umas toras do Líbano e preciso de braços fortes para movimentá-las.
O Sôr tá trabalhando muito pai. Vai pegar a encomenda dos romanos?
Já peguei até. Eles têm certa urgência do serviço. Essa revolta dos zelotes tá dando muito trabalho, muita sangueira, mas sem querer ver guerra, ela acaba gerando oportunidade de negócios...
Como assim?
Agora, por exemplo, tenho uma encomenda de uns barrotes para cruxifição, que é um negócio doloroso, mas se não faço, quem fará então? Deixar pra concorrência, não vou não.
Ué, pai, têm aí dois larápios que conheço, um bom, outro mau, que andam sem fazer nada e quem sabe possam ser contratados?
Vou pensar. Mas eu gostaria mesmo era de seus braços, fortes e sempre bem dispostos? E por falar, como andam os fornecimentos de trigo do Egito?
Ainda estão embargados pelo Senhor. Desde os tempos de Moisés, pois as pragas são dez, mas estamos sempre arranjando um jeitinho, porque o trigo é fundamental. Até para o pão ázimo..
Mexer com madeira é mais seguro, filho. Vê por exemplo essa cana que estou produzindo para o pessoal do Pôncio Pilatos. Que nunca foi de romper tratos, nem de lavar as mãos ao invés dos pratos...
É pai, mas meus negócios são múltiplos, por minha própria índole. Continuo doutrinando no templo, os nossos doutores andam muito atrasados, sigo transformando água em vinho e o povo tem gostado muito, apesar de protestos dos vinhateiros da Síria e do Líbano, tou preparando um burrinho pra dar uma volta em Jerusalém...
Tudo bem, tudo bem, filho, mas cuidado com esse povo. Saúdam de primeira e logo dão rasteira...
Cruzes, pai, afasta de mim esse cálice...