Usina de Letras
Usina de Letras
62 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62422 )

Cartas ( 21335)

Contos (13272)

Cordel (10452)

Cronicas (22546)

Discursos (3240)

Ensaios - (10460)

Erótico (13578)

Frases (50819)

Humor (20078)

Infantil (5492)

Infanto Juvenil (4817)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1377)

Poesias (140875)

Redação (3322)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2437)

Textos Jurídicos (1962)

Textos Religiosos/Sermões (6240)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Textos_Religiosos-->Uma visita -- 02/06/2024 - 05:11 (Brazílio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 

 

             “Suave Milagre” 
                                          (Eça de Queiroz)
 

     A tarde caía.  O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha.  A mãe retomou o se canto, mais vergada, mais abandonada.
  
     E então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar de uma asa, pediu à mãe que lhe trouxesse esse Rabi, que amava as criancinhas ainda as mais pobres, sarava os males ainda os mais antigos. 

     A mãe apertou a cabeça esgadelhada:

 

         --- Oh filho! E como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do Rabi da Galiléia?  Obed é rico, e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areais e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab.  Sétimo é forte, e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde o Hebrom até o mar!  Como queres que te deixe? 
      Jesus anda por muito longe e a nossa dor mora conosco, dentro destas paredes, e dentro delas nos prende.  E mesmo que O encontrasse, como convenceria eu o Rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota?

 
         A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:
 
         --- Oh mãe!  Jesus ama todos os pequeninos.  E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
 
         E a mãe, entre soluços:
 
         --- Oh meu filho, como te posso deixar?  Longas são as estradas da Galiléia, e curta a piedade dos homens.  Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais.  Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce Rabi.  Oh filho!  talvez Jesus morresse...  Nem mesmo os ricos e os fortes O encontram.  O Céu O trouxe, o Céu O levou.  E com Ele para sempre morreu a esperança dos tristes. 
 
         De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
 
         --- Mãe, eu queria ver Jesus...
 
         E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
 

         --- Aqui estou.

                                             @@@

        
O SUAVE MILAGRE, de Eça de Queiroz.  11ª edição.  Editora Clube do Livro, RJ, 1973.  
Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 21/03/2010
Reeditado em 10/12/2010
Código do texto: T2151628
Classificação de conteúdo: seguro

Comentários

10
foto
Paulo Miranda
 
J

José Gomes Lisboa há 1 ano

Leio José Maria Eça de Queiroz desde criança, para mim está à altura de William Shakespeare e outros famosos das letras universais.
A

Antonio Paulo há 2 anos

Lindo, me emociona desde minha infância. Venho sugerir revisão da transcrição: falta uma letra “u” a “seu canto” na segunda frase.
S

Sonia chagas há 4 anos

Nunca esqueci esse conto do meu antigo curso do ginásio. Tenho até hoje em minha mente decorado.
R

Ribamar Peres há 4 anos

Este belo conto eu o li em 1960, quando cursava o 1o. Ano do Curso Científico (hoje Ensino Médio). Me emociono toda vez que o leio. De tanto lê-lo eu o sabia "décor". Hoje eu ainda lembro de umas frases marcantes, como "entre a urze e a rocha", "até os cães me ladrariam da porta dos casais", e tinha dificuldades em entender palavras comuns dos textos portugueses do tipo "urze", "esguedelhada", e que deduzia o seu significado pelo texto. Esta última, no entanto, só depois de consultar p dicionário. Fica aqui minha homenagem a este grande es rigor português. Eu o amo de coração!
A

Antonio Ferreira há 8 anos

Este belo conto, é uma das relíquias que aprendi na tenra infância ouvindo minha mãe repetir tantas vezes para que eu decorasse.Já procurando tanto, pois não lembrava, na época eu contava com oito anos...que saudades. Grato a você que postou esta riqueza da literatura portuguesa.
 
E

Edna Assunção há 8 anos

Belíssimo este conto de Eça de Queiroz. Depois de tanto tempo eu o encontrei agora e ainda fui às lágrimas! Obrigada.
J

José wilton há 9 anos

INCOMPLETO. O conto é realmente lindo e pungente, deveriam tê-lo publicado completo, ou ao menos, por espeito à memória do autor, fazer o registro da publicação parcial.
s

sonia maia há 10 anos

Eu conheci esse conto em 1964, quando fazia o antigo ginasial e o decorei para uma aula de português e aí nunca mais o esqueci é demais, até hoje fala muito ao meu coração......
c

celia há 10 anos

Nunca esqueci a maravilha que é este texto. eu havia esquecido como era todo ele pois fazia muito tempo que não recordava do título e nem do autor porém as partes que eu nunca esqueci,"longe são as estradas curta a piedade dos homens....." Maravilhoso!!!!!!!!!!
P

Pâmela há 13 anos

Achei muito boa esse conto . Vou ate apresenta-lo na escola.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 9Exibido 52 vezesFale com o autor