É possível, sim. O velho atleta, vivendo no exílio escolhido, penetrou no local onde vivera seu momento de glória, de mãos dadas com os dois filhos. Dezenove anos atrás, estádio cheio, correu para a medalha de ouro e, no pódio, empunhou a bandeira do Brasil, consubstanciando o sonho de um menino pobre, nascido nos arredores da capital do país e que, a custa de determinação, esforço e muito treinamento, atingiu os píncaros da glória, a fugidia e enfeitiçadora glória dos seres humanos.
Olhava demoradamente cada setor das arquibancadas de onde partiram os aplausos estrepitosos para o menino da Taguatinga, que guardou as suas medalhas nos cofres do Banco e cultivou seus sonhos nos refolhos do coração.
Seus olhos meio úmidos, espelhavam a emoção que sentia em poder mostrar aos filhos o chão sagrado onde seus pés lépidos e bem treinados rumaram para a vitória.
Recordando o seu tento, mandou a mensagem que inicia esta crónica: a vitória foi minha pois pude, nos últimos metros a presença do Criador. Não sentia dor nem cansaço, parecia voar. Ficou em mim a sensação de dizer para aquele menino de Taguatinga que é possível, sim, com esforço, dedicação, treinamento e perseverança. É possível, sim.
E eu, emocionado também por relembrar aquela história de luta do menino pobre que venceu, fico imaginando que o impossível é bem parecido com aquilo que não foi buscado com aqueles ingredientes afirmados por Joaquim Cruz.