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cronicas-->Credo -- 05/06/2003 - 14:18 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Credo

Com deus, eu me deito. Com deus, me levanto. Pela graça de deus. E do spírito santo.
Não é de estranhar que tanta repetição levasse-me a decorar o nome de deus. E que, mesmo em meio ao inferno, fosse dele a lembrança, ao invés do nome dele, seu oposto. Nunca soube o nome do demo, assim de cor e salteado. E talvez tenha sido por isso que sai ileso das labaredas sem que elas lambessem um isso de minha pele macia, embotada no óleo bento desse caminho que meteu-me no limbo e que de lá me tirou.
A coisa é que, de repente, o mundo ficou pequeno para mim, para deus e a sua sombra em luta constante. Onde eu ia, lá estavam os dois. A luz e a sombra. E eu já não nutria sentimento algum para conhecer a um, tampouco curiosidade para indagar do outro.
Asas e chifres começaram a atormentar meus miolos cansados, fosse lá quem fosse o arquiteto desses neurónios. Dizem, de deus. Mas ele nunca apareceu para reclamar posse de nada que é meu. E bem fez cá não vindo.
E como o universo ficasse pequeno, encarreguei-me de faxinar o sótão. Arranquei de lá todos os diários religiosos, os pretensos santos e toda a parafernália que me dizia de minha pequenez diante da insanidade de esperar por um bicho de sete cabeças que bem poderia ser uma maravilha. Ou uma desgraça. Se fosse azul, paraíso. Se vermelho, perdição.
Estava cansado de tudo isso, homem.
O que queria era apenas o direito de repousar em minha rede, tecida com meus próprios dedos, e esquecer que sou filha de Adão, que pecou com Eva, que colocou a culpa nela, que a pós na serpente, que ficou sem álibi, sem carneiro, sem salvação. Pobre bicho.
E quando esvaziei a casa, vi que nada sobrara a não ser o costume do incenso, do cheiro de parafina, da voz querendo dar graças, da sede por água benta, do medo de não ter que ter mais medo. Pode isso? Tanto pode que cá estou eu, andando de soslaio pelo meio da casa, sentindo falta do patuá. Até vontade de rezar, está me dando.
Resisto bravamente. Tenho sonhos. Mordo os lábios e castigo meu corpo quedado num estado febril, desejoso de pia. Fujo de cruz como demo, de luz.
Meu tio diz que as sendas do ateísmo são tão cruciais quanto do deísmo. Agora, me olha. Percebeu o mesmo caminho. Já me disse que sou crente. Repito que não, incontáveis vezes. Ele é inteligente. Mas continua dizendo.
Essa gente é louca.

L.Lima


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