Não custa nada. E fere muito pouco. Só ao final, para falar a verdade. Sento-me aqui e o tempo passa. Célere que quase me esqueço de mim mesma. Todas as coisas deram certo. Você estava na estação e o cavalo estava esperando. Como o vento, ele correu conosco vida afora e aportamos em nossa casa. Ali tivemos nossos filhos e vivemos com a certeza de que fizemos a melhor das escolhas. Plantamos, cultivamos, colhemos. Se muito me alongo, consigo até vislumbrar nossos cabelos prateados meio aos risos que damos. E nossos filhos nos chamam. E o abacateiro faz fru-fru à lambida do vento. E celebramos todos os anos. E nossos pais conversam na grande cozinha, onde assamos as cucas de meus sonhos. É nesse momento que tudo se quebra, como as cucas queimadas. E sou arrancada do sonho. A casa está vazia e o inverno está sentado no banquinho de madeira. Perto da lareira. Então, nessa hora, toda a vida dói de novo.