Estar diante da estação de trem sem saber quando ele vem. Quem seria insano o suficiente para comprar uma passagem sem destino marcado, sem horário previsto, sem poltrona escolhida? Meus pais me deram uma passagem assim. E quando lhes perguntei o porquê, não souberam me dizer. Afinal, seus pais também não souberam dizer a eles para onde pensavam levá-los quando lhes proporcionaram a passagem. Tampouco meus bisavós souberam dizer a meus avós.
Maria não parece lá muito feliz também. Simplesmente decidiu que não iria comprar a passagem para alguém. Ficava envergonhada só de pensar que não saberia a resposta para dizer a um filho seu. Então, corajosa, decidiu que minguaria na estação, sem companhia.
E quando sentei-me a seu lado, esperando meu trem chegar, ela olhou-me com seus olhos doces e sorriu timidamente. Eu lhe dei um pedaço de meu lanche e comecei a desfolhar a margarida que Jeová me deu. "Bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer...mal me quer".
Fiquei ali fitando as pétalas no chão, segurando um caule que me condenava ao fogo do inferno.
Maria colocou sua mão na minha, num mormaço de promessa de paraíso que se concretizou quando ela disse: "- a gente sempre pode transformar o mal em bem."
Então, eu disse, num sorriso de ressuscitado: - Bem me quer.
E o trem chegou exatamente no momento certo. E sentamo-nos exatamente na cadeira certa. E chegamos exatamente em nosso destino. O certo.