A diferença entre o meu dia de ontem e o de amanhã está cada vez maior... Meu presente transformou-se num grande caos de reconstrução. Reconstrução de sonhos e aspirações perdidas ou simplesmente guardadas. O que quero dizer com isso? Talvez que eu precise novamente entrar no mundo, engajar-me a ele. Meu mundinho interior está bem pequeno para mim. E a mudança foi ocorrendo de forma tão sutil que nem pude perceber... Mas... o que estou falando? Pareço estar distante dos meus sentimentos. É óbvio. A dor e a depressão impelem a escrever. Pouco sei falar sem elas. Fica difícil escrever sobre o meu vazio existencial já que ele é apenas nada, coisa alguma. Já as lágrimas... elas me ajudam a elaborar textos melodramáticos. Associar-me ao mundo é como perdê-las. O mundo tão frio... Ele me robotiza. Vejo a grande cidade de concreto e ela me parece extremamente vazia. A multidão cega me irrita. Ao passar pelo centro vejo tantas dores, tantos pequenos dramas. E o que posso fazer? Apenas fecho meus olhos e prossigo, como os demais transeuntes. Sou só mais uma... Como podemos ser tão cegos ao drama alheio? Como podemos enxergar tanto sofrimento sem fazer absolutamente nada? Vemos diante de nós uma pessoa sucumbindo-se numa vida miserável e simplesmente continuamos nossa caminhada. Temos mais o que fazer. Temos que estudar, trabalhar, lutar... Para não terminarmos assim. E isso dói. Dói ver tanta indiferença. Dói saber que contribuo para isso. Sou apenas mais uma que fecha os olhos, que apenas passa, fingindo não notar o drama alheio. Dói saber que se por alguma fatalidade cairmos na mais absoluta miséria, seremos tratados da mesma forma que tratamos um dia essas pessoas. Quem irá nos salvar se um dia cairmos no abismo? Provavelmente ninguém... Mas individualmente o que fazer? A sociedade está completamente doente. Cada um de nós, com suas particularidades, semelhanças e diferenças, não é nada mais que uma insignificante gota de tinta de um quadro caótico. É tudo tão tremendamente absurdo... Sinto-me egoísta em pensar em meus problemas. Enquanto tudo isso acontece, apenas preocupo-me com meus dramas existenciais e tento entrar de verdade no mundo. Um mundo que assusta por sua crueldade e sua indiferença... Mas o que fazer?
