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cronicas-->Caco de vidro -- 01/07/2003 - 23:24 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caco de vidro

Ele estaria lá. Mas não estava.
Mirella ficou sozinha. Toda a cidade diante de si. Amigos, parentes, tudo, tudo.
Suasseno passou um ano fora da cidade.
Mirella esqueceu de quem era. Engordou mais de 20 quilos. Nunca mais se interessou por outra pessoa. Não é que se tornara amarga. Algo dentro de si quebrara. No entanto. E ela não tinha interesse em consertar.
Depois de 20 anos, Suasseno a viu. Olhos embotados, corpo de quem se arrasta. Ombros encurvados, cabeça enterrada em um pescoço fraco.
Suasseno sabia que ela não era forte. Poucas pessoas conseguem ser fortes diante do que houve. Certo é que uns fazem isso. Nenhum mérito. Pessoas são diferentes. Mirella poderia ter se erguido. Poderia Ter feito de conta que o amor não doía. Ter seguido adiante. Ter casado-se. Ter tido filhos. Ter dado provas de que o amor não era forte como houvera dito um dia. Mas Mirella era verdadeira. E até mesmo no extremo de sua dor, continuava a sê-lo.

Os portões de Sta.Edwiges abriram-se para ela e a abraçaram, como se pudessem servir de conforto para aquele coração que nunca mais deixaria de sentir frio.
Uma eternidade pode ser um momento. Mirella vivia na eternidade. Não nutria esperanças. Não as queria.
Suasseno não havia sido mais feliz. Tampouco triste. Acontecesse o que acontecesse e ele continuaria a Ter os 40 anos de idade que tinha.

Em seu intimo escutava uma voz: - eu não seria boa o suficiente para cuidar de você?
Suasseno sabia que sim. E perambulava ante a saudade do perfume de Mirella e o riso que, antes desinteressado, agora não encontrava nos olhos dela.
Queria tocá-la, chegar perto dela, abraçá-la, fazer o tempo voltar atras. Mas a vida é o que é. E voltar atras é algo que não acontece.
Suasseno teria sido feliz com ela. Sabia disso. Mas havia preferido o conhecido. E agora assustava-se com isso.
E o tempo, moço, não volta, não retorna, é teimoso, durão. Bebe pinga e cospe no chão. Nojento, o tempo.

Cinzeiro cheio. De que vale a vida?
Teus pés não estão pisando na vergonha e na gloria dos santos? Mártires, teus pés. Eu os beijo com a devoção de uma insanidade há muito esquecida por outros tantos. Fosse lembrada e esses outros loucos com as caras encostadas nos ónibus coletivos, lotados, estariam livres.

Você acredita em Jesus Cristo. E estou te fazendo um convite. Pegue teu bilhete e junte-se a Mirella. Ao teu lado, você verá o riso torto de Suasseno. Cambada de gente frouxa que não tem coragem de levantar o rabo da cadeira. A cadeira. Da possibilidade. Do paraíso.

Por isso não se é vivo. Nem morto.

L.Lima
Escritora & Comentarista literária


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