Conta o cantor e compositor carioca Jorge Mautner que quando vivia nos Estados Unidos escapou com vida de um assalto porque usava cabelos longos.
Sem dinheiro, em uma auto-estrada, acossado por dois indivíduos mal-encarados, terminou sendo poupado e recebendo ainda grana suficiente para a passagem e o jantar.
Durante todo o restante da sua permanência nos States, não ousou cortar os cabelos. Os cabelos longos, com certeza, fizeram com que os ladrões (um negro e um chicano) vissem nele muito mais um companheiro do que uma vítima. Ou melhor, muito mais uma vítima do que um cara bem situado no sistema.
O fato, mesmo tendo ocorrido na década de 1970, durante a panacéia da contracultura, serve para mostrar que são vários os símbolos utilizados dentro de uma sociedade para que as suas camadas sociais se identifiquem. E que ninguém passa por eles impunemente, sejam cabelos longos ou casacos de vison...
Clóvis Campêlo é fotógrafo e escritor filiado a UBE-PE.
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Recife, PE.