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cronicas-->Raízes -- 05/07/2003 - 22:54 (Juraci de Oliveira Chaves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Cada um que passava, uma olhada silenciosa. Ninguém comentava nada. Alguns até paravam, olhavam e seguiam em frente. Sem envolvimento.
Ela estava estirada no chão. Cada braço sem as suas mãos e dedos. Onde deveriam estar, não estavam. As unhas verdes espalhadas sobre o asfalto, revoltas pelo vento. Carros desvairados iam e vinham, indiferentes.
"Será uma grande perda. Todos sentirão saudades..." - comentavam alguns, na platéia.
Daqui da minha janela eu a admirava e me beneficiava dela. Quando o sol teimava em frequentar a calçada de cimento, com jeito carinhoso, ela impedia o calor violento. Direcionava o caminho dos raios solares que penetravam devagarinho, educadamente. Muito comum a criançada à sua volta, ensaiar uma entoação mais afinada para o coral dominical.
Quando a vizinha paralela teve semelhante fim, muitos reclamaram mas, acharam que seria a última a ser sacrificada. A da frente também, com a mesma sina. Só ela sobrou, desta espécie. A única da rua. Resistia com delicadeza quando diziam:
" Está linda mas vai prejudicar a estrutura da casa."
Mas ela continuava ali. Quase vinte anos. Robusta, fogosa, saliente sob as ordens do vento forte. Vergava mas não caía um braço. Sempre com roupagem nova e lustrosa.
O tempo passou e com ele o seu envelhecimento sem perder o vigor e a pose. Vi quando começou a se fazer menina-moça, mulher e adulta. Compactuou com os casais de namorados sem nada comentar o que escutava. Os segredos, os encontros, os desencontros, até palavras que não gostava de ouvir, ouvia e calava. Poucas vezes recebia cuidados; navegava em busca da seiva para o seu sustento. Onde havia água, suas raízes infiltravam e buscavam o necessário. Foi aí a sua condenação. Nesta busca, as raízes se emaranharam umas nas outras formando buchas enormes e entupindo os canos subterràneos, impedindo a passagem da água para os esgotos, causando danos. A casa encharcava à qualquer chuva. Os móveis umedeciam, a culpa, só dela. Sempre dela. Ninguém em sua defesa. Sentia o cerco se fechar. Desta vez não escaparia da motosserra.
A enchente naquele dia fora violenta. Até o colchão se afogou. Todos os bueiros transbordaram naquela casa. Estava definido. Olhares irados, enraivecidos, dirigidos à ela. Seria tombada logo que o sol apontasse no horizonte.
"Bem que o sol poderia, não apontar, talvez ganharia tempo, as idéias seriam renovadas".
Mas o sol apontou, a motosserra roncou e mais uma árvore se tombou.

Juraci de Oliveira Chaves
www.jurainverso.kit.net
Pirapora MG

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